Diego Amorim
A infla��o n�o d� tr�gua aos consumidores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), pr�via do indicador oficial, registrou alta de 0,38% em junho, ficando ligeiramente acima da m�dia esperada pelo mercado, de 0,37%. Embora tenha recuado em rela��o a maio (0,46%), no acumulado de 12 meses, o IPCA-15, mais uma vez, estourou o teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5% — atingiu 6,67%. Na Grande Belo Horizonte, o IPCA-15 oscilou 0,39% este m�s, abaixo do apurado no m�s anterior (0,5%), mas acima do avan�o ocorrido em junho de 2012 (0,34%).
Na avalia��o dos especialistas, os n�meros mostram que, independentemente do discurso otimista do governo, o custo de vida se tornou um tormento para a popula��o e resiste a perder for�a. Nem mesmo os dois aumentos da taxa b�sica de juros (Selic) pelo BC, em abril, de 0,25 ponto percentual, e em maio, de 0,5 ponto, para 8% ao ano, foram suficientes para conter as remarca��es. “� verdade que o IPCA-15 de junho veio menor do que o 0,46% de maio. Mas, em compensa��o, foi mais do que o dobro do 0,18% de junho de 2012. Isso mostra que estamos longe de um al�vio. Vemos ver, por um bom tempo, a infla��o acumulada em 12 meses rondando os 6%, uma taxa muito elevada”, disse o economista s�nior do Esp�rito Santo Investment Bank (BES), Fl�vio Serrano.
Para Lu�s Ot�vio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, al�m de n�o ter cedido como o esperado, o IPCA-15 j� mostra o repasse da alta do d�lar para alguns produtos, movimento que tender� a ficar mais forte, caso a moeda norte-americana se mantenha pr�xima de R$ 2,30. No entender dele, a valoriza��o da divisa j� est� presente em itens de higiene pessoal, que, neste m�s, subiram 1,01%; em perfumes, com reajustes de 2,07%; e em artigos de maquiagem, que subiram 0,96%. “A boa not�cia veio dos alimentos, cuja alta passou de 0,47%, em maio, para 0,27% neste m�s”, frisou.
Casa cara O maior vil�o do indicador na capital mineira e cidades vizinhas foi o grupo habita��o, com alta de 1,22% em junho. Neste item, destaque negativo para o aumento de 4,34% no conjunto taxa de �gua e esgoto. Os pre�os no grupo sa�de e cuidados pessoais tamb�m oscilaram acima da m�dia geral, com avan�o de 1,13%. Neste, o item que apresentou o maior avan�o de pre�os foi o de produtos farmac�uticos, com aumento de 1,44%. Em seguida, o de servi�os m�dicos e dent�rios (1,07%).
Dona Regina Assis dos Santos, de 51 anos e que ganha a vida como cabeleireira, lamenta a disparada dos medicamentos. “Pago R$ 80 num antidepressivo. H� um ano, desembolsava R$ 65. O aumento (23%) pesa muito no nosso bolso. Tomo outros rem�dios, como o Lexotan. Este, ainda bem que � mais barato. A caixa custa R$ 8. O problema � que o custo de tudo vem subindo muito”, desabafa a mulher.
Alimentos A boa not�cia � que o grupo alimentos e bebidas apresentou varia��o negativa de 0,21%. � a primeira queda desde abril do ano passado, quando o pre�o do tomate estava nas alturas e o hortifrutigranjeiro se tornou um dos s�mbolos da infla��o. Em junho, o tomate recuou 13,51%. Foi a maior queda entre os alimentos, segundo o IBGE.
“Houve redu��o de pre�os no item alimenta��o no domic�lio (-0,55%) e aumento na alimenta��o fora do domic�lio (0,54%). Os principais produtos em queda foram: o arroz (-0,51%), tomate (-13,51%), cebola (-5,45%), cenoura (-7,73%), a��car cristal
(-0,63%), hortali�as e verduras (-10,50%), frutas
(-2,07%) e carnes (-1,05%)”, informou o relat�rio do IBGE. Por outro lado, o levantamento constatou alta de 2,76% no pre�o do leite e derivados.
Leite O aumento no custo do leite e derivados se deve � antecipa��o da entressafra, apre�ada por fatores clim�ticos. Na �ltima semana, pesquisa do site Mercado Mineiro revelou a escalada do pre�o desses alimentos. De 73 mercadorias pesquisadas pelo Mercado Mineiro, 66 tiveram alta entre mar�o e junho. O valor cobrado por uma tradicional empresa por seu achocolatado (embalagem de 200 ml), por exemplo, disparou 34,34%, de R$ 0,99 para R$ 1,33.
O comerciante Jo�o Maria Mendes Freire, dono do Restaurante Jeito de Minas, no Bairro Santa Efig�nia, lamenta a alta do leite e derivados. Por outro lado, a queda nos pre�os de outros alimentos, como o arroz e o tomate, alivia o custo com o seu empreendimento. Durante a disparada do pre�o do tomate, cujo quilo chegou a R$ 8 no meio do ano passado, ele e outros donos de restaurantes da capital passaram aperto. “O jeito foi diversificar a salada com frutas de �poca. N�o posso repassar todo o aumento para os fregueses”, recorda o comerciante.
D�lar tem pequena redu��o
S�o Paulo – Ap�s cinco dias consecutivos de alta, per�odo em que acumulou um avan�o de 5,46% em rela��o ao real, o d�lar fechou nesta sexta-feira, 21, em queda de 0,66%, cotado a R$ 2,244. A moeda norte-americana oscilou entre altas e baixas, influenciada pela volta das preocupa��es com a Gr�cia, por mais um leil�o de swap cambial (venda de d�lares no mercado futuro) promovido pelo Banco Central (BC) e por declara��es de um dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) colocando em d�vida a redu��o do programa de est�mulos � economia do pa�s.
Na m�xima, o d�lar chegou a ser negociado a R$ 2,275, com aumento de 0,71% em rela��o ao fechamento anterior. No mercado futuro, o d�lar para julho fechou cotado a R$ 2,246, em baixa de 0,75%. Not�cias relativas � Gr�cia tiveram forte influ�ncia no mercado global de c�mbio. O clima de avers�o ao risco cresceu ap�s a Esquerda Democr�tica, um partido moderado da Gr�cia, anunciar que est� deixando a coaliz�o de governo.
Com o d�lar em alta no Brasil, o BC voltou � carga e anunciou a oferta de 80 mil contratos (US$ 4 bilh�es) de swap cambial. Por�m, ao contr�rio do que ocorreu em dias anteriores, desta vez o BC ofereceu contratos com vencimentos mais longos, numa tentativa, de acordo com operadores, de tornar os leil�es mais atrativos. Na transa��o, o BC vendeu contratos equivalentes a US$ 1,828 bilh�o.
Mas o d�lar s� come�ou a recuar ap�s declara��es do presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard, de que, se a infla��o continuar a cair nos EUA, pode haver eleva��o da compra de ativos – e n�o redu��o, como vem cogitando o mercado. O dirigente foi um dos dissidentes na �ltima reuni�o do Comit� Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em ingl�s), justificando seu desejo de aumentar as compras de b�nus com o fato de a infla��o ainda estar abaixo da meta.
Rombo externo aumenta
As contas externas do Brasil v�o de mal a pior. O Banco Central elevou de US$ 67 bilh�es para US$ 75 bilh�es a proje��o para este ano do rombo nas transa��es do pa�s com o exterior. Ao refazer c�lculos, divulgados ontem, a autoridade monet�ria reconhece a dificuldade crescente em conter o d�ficit nas opera��es que incluem receitas e despesas da balan�a comercial, da conta de servi�os e das transfer�ncias unilaterais.
Se confirmada a alta de 11,9%, o resultado do setor externo ser� o pior da hist�ria. O BC come�ou a monitorar esses resultados em 1947 e, desde ent�o, o maior d�ficit fora registrado no ano passado: US$ 54 bilh�es. A institui��o tamb�m subiu de 2,78% para 3,22% a expectativa desse rombo comparado com o Produto Interno Bruto (PIB), o que configuraria o percentual mais alto desde 2011, quando essa propor��o chegou a 4,19%.
Com d�ficit acumulado de cerca de US$ 5 bilh�es este ano, a balan�a comercial explica parte do cen�rio de deteorira��o. A previs�o do super�vit recuou de US$ 15 bilh�es para US$ 7 bilh�es, na compara��o com o m�s anterior. O BC estimou queda no total de exporta��es — de US$ 264 bilh�es para US$ 248 bilh�es — e importa��es — US$ 249 bilh�es para US$ 241 bilh�es. Em rela��o �s contas de servi�os e de rendas, que tamb�m comp�em as contas externas, as varia��es foram pequenas.
Somente em maio, o rombo nas transa��es correntes somou US$ 6,420 bilh�es, resultado pior que o esperado pelo BC, de R$ 5,2 bilh�es. “Grande parte dessa diferen�a se deve ao desempenho da balan�a comercial, que tem sido inferior ao do ano passado e isso vem se repetindo desde o in�cio do ano”, disse o chefe do Departamento Econ�mico, Tulio Maciel. Para junho, o d�ficit aguardado pela autoridade monet�ria, segundo ele, � de US$ 5,4 bilh�es.
A autoridade monet�ria manteve em US$ 65 bilh�es a estimativa para o ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) na economia brasileira em 2013. Se isso ocorrer, o d�ficit das contas externas n�o ser� integralmente coberto pelos investimentos produtivos, o que n�o acontece desde 2001. Ainda assim, Maciel sustenta que o quadro � “relativamente confort�vel”. “O IED continua cobrindo quase todo o d�ficit e n�o vejo por que (os investimentos) deixarem de vir”, comentou.
Quando os investimentos estrangeiros n�o conseguem financiar o rombo, o pa�s precisa recorrer a outros recursos para fechar as contas externas. Por isso, o BC aumentou de US$ 5 bilh�es para US$ 12 bilh�es a expectativa de aplica��es financeiras na economia para renda fixa. A revis�o se deu depois de o governo zerar o Imposto sobre Opera��es Financeiras (IOF) para essas opera��es. At� maio, a autoridade monet�ria contabilizado US$ 4,17 bilh�es injetados na renda fixa.
Para o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e ex-diretor do BC, Carlos Eduardo de Freitas, h� um processo de deteriozara��o em curso nas contas externas brasileiras. “O tumor est� crescendo e n�o sabemos at� quando ele vai aguentar”, disse, antes de sublinhar que a economia segue sem vigor. “Ainda n�o h� sinal de crise cambial, mas a trajet�ria n�o � boa. A poupan�a externa est� sendo usada provavelmente para financiar consumo”, acrescentou.
A economista do Ita� Unibanco Gabriela Fernandes observou que o investimento estrangeiro direto recuou em sintonia com a proje��o do banco, que prev� queda de 10% em 2013. “� frente, n�o acreditamos que a forte entrada de capitais estrangeiros para a bolsa de valores permane�a, principalmente frente � maior turbul�ncia dos mercados”, refor�ou ela, que considera elevados os d�ficits de servi�os e de rendas, apesar da melhora no saldo comercial.