
Grande beneficiada pelo crescimento do sal�rio m�nimo, do cr�dito e mais ainda do aquecimento do mercado de trabalho, a classe m�dia em ascens�o, que viu a renda dar um salto na �ltima d�cada sente no bolso os efeitos da carestia. O ritmo de compras est� fragilizado e com menor volume de cr�dito e contas para pagar, as fam�lias endividadas fazem cortes no or�amento. Elas teriam bandeiras para engrossar a onda de protestos nas ruas. A maior delas � o controle da infla��o. O drag�o abocanha boa parte da renda e j� leva os emergentes a trocar marcas, pulverizar as compras que passaram a ser feitas em v�rios pontos de vendas. Muitos j� cortam produtos da lista dos supermercados.
“A classe C emergente pode vir a participar dos protestos, mas s� se houver bandeiras muito bem definidas, por exemplo, o combate � infla��o, ou, digamos que os recursos dos royalties do petr�leo fossem para o transporte. Medidas que afetam diretamente sua qualidade de vida”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. Na �ltima d�cada, 37 milh�es ascenderam a chamada classe C ingressando no mercado de consumo. Especialistas s�o un�nimes em dizer que at� o momento os emergentes que deixaram a pobreza est�o seguros pelo mercado de trabalho, mas t�m parte da renda corro�da em duas grandes pontas: alimentos e servi�os, como transporte, educa��o, telefonia, internet e TV paga.
Contas novas
Especialista no tema, o ministro-chefe internino da Secretaria de Assuntos Estrat�gicos da Presid�ncia da Rep�blica, Marcelo Neri, afirma que n�o h� revers�o dos ganhos dessa nova classe de consumidores no Brasil medida pelos indicadores socio-econ�micos. Em rela��o aos �ltimos anos, a renda e o emprego continuam a crescer, no entanto, em menor intensidade, mas surgiram, de fato, press�es decorrentes de despesas antes inexistentes como os celulares de pais e de filhos, o uso da internet e da TV a cabo. S�o contas que comprometem o poder de compra das fam�lias, em meio a aspira��es tamb�m novas.
“S�o um pouco das dores do crescimento e h� um efeito cultural dos brasileiros, mais cigarras do que formigas, estas sim previdentes e cuidadosas”, afirma. As manifesta��es pelo pa�s, na avalia��o de Neri, refletem um clima de inquieta��o n�o exatamente de grupos “perdedores” da popula��o, mas daqueles que evolu�ram menos. “N�o se pode descuidar da infla��o e tomar empr�stimo no Brasil continua sendo algo arriscado”, diz.

Ela pesquisa pre�os em v�rios supermercados, pulverizando as compras. “Antes o pre�o do meu servi�o era mais baixo, mas parece que meu sal�rio rendia bem mais. Nesse ano, as contas apertaram muito, mesmo com a alta da di�ria de R$ 85 para R$ 100”, diz ela, que paga, ainda, a presta��o do carro. M�e de tr�s filhos, Neide diz que reprova o vandalismo e a viol�ncia das manifesta��es, mas n�o esconde que iria para as ruas pela sa�de p�blica. “A sa�de est� t�o prec�ria que ando pensando em contratar um plano de sa�de.”
Para quem se endividou na onda de expans�o do cr�dito –o endividamento das fam�lias cresceu de 19% da renda total que elas acumulavam at� mar�o de 2005 para quase 44% em mar�o �ltimo –a eleva��o dos juros complica a vida. Se n�o bastasse a mudan�a de cen�rio, a perda de f�lego do emprego e a queda dos rendimentos do trabalho neste ano, pelo terceiro m�s em maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), gera incertezas quanto aos rumos da ascens�o social no Brasil.