
"T� vendo… � trabalhador desde cedo. Novinho e j� ajuda em casa." A observa��o, feita por uma senhora que aparenta ter mais de 70 anos, reflete a condi��o do franzino C., que, perto de completar o anivers�rio de 12 anos, em vez de jogar bola com os amigos para quem sabe um dia realizar o sonho de ser o novo Messi, auxilia a idosa e outras dezenas de fregueses de um supermercado a levar as compras para casa em troca de R$ 5 ou R$ 10, �s vezes at� mesmo uma moeda de R$ 1. Pelas ruas e ladeiras do Bairro Santa Efig�nia, o garotinho empurra o carrinho cheio de sacolas, atravessando sinais abertos para conseguir concluir o servi�o o quanto antes e poder conseguir uns trocados a mais para conseguir comprar um tablet, uma chuteira ou quem sabe duas novas manetes do videogame, quebradas pelo irm�o mais novo meses atr�s.
A impiedosa rotina, no entanto, n�o � exclusividade de C., se repetindo com milh�es de meninos e meninas. Apesar de a presidente da Rep�blica Dilma Rousseff (PT) ter comemorado ontem, na internet, a redu��o dos n�meros nas �ltimas d�cadas, o caminho at� a erradica��o do trabalho infantil no pa�s ainda � bem longo: s�o 3,5 milh�es de crian�as e adolescentes, de 5 a 17 anos, trabalhando para ajudar nas contas de casa no Brasil. Em Minas, s�o quase 350 mil na mesma situa��o.
Se o crescimento econ�mico permitiu a muitos filhos brasileiros alcan�ar um futuro melhor que o presente dos pais, no caso de C., ele parece estar fadado a repetir a trajet�ria paterna. Todos os dias, depois de sair da escola e almo�ar enquanto faz o dever de casa, o jovenzinho acompanha o pai at� o supermercado, onde o mais velho faz entregas de carro. Nem sempre C. consegue empurrar sozinho o carrinho cheio. Ontem � tarde ele conduzia as compras da idosa, que, sabedora do percurso acidentado, logo ligou para um neto encontr�-la perto de casa para ajudar a puxar o carrinho no morro que antecede a chegada. A volta � menos custosa e, para aliviar o dia, C. se diverte fazendo manobras pelas descidas com o carrinho j� vazio.
At� o hor�rio de voltar para casa � o mesmo. “L� pras 7, 8 (horas da noite), eu volto com ele”, diz C. � o tempo de tomar banho, comer algo e dormir para descansar para a rotina do dia seguinte. S�bado e domingo tudo se repete, mas com hor�rios mais flex�veis, afinal o estabelecimento fecha �s 14h. Sorte mesmo � quando chove ou o supermercado est� vazio. “A� d� para eu voltar para casa e brincar um pouco”, mas, por enquanto, o dinheiro n�o � suficiente para os novos controles do videogame. “J� juntei uns 50 e poucos. Tinha mais. Mas meu pai �s vezes pede: ‘filho, me empresta um dinheiro a�’. E eu vou e dou”, conta ele, que, apesar de n�o se lembrar h� quanto tempo trabalha, s� conseguiu juntar pouco mais de R$ 30 com as entregas.
Enquanto C. ia e vinha pelas ruas da capital mineira, em Bras�lia, a presidente comentava pelo Twitter os avan�os no combate ao trabalho infantil anunciados na 3ª Confer�ncia Global sobre Trabalho Infantil. “Estamos fazendo nossa parte. Entre 1992 e 2011, o Brasil reduziu em 57% o n�mero de crian�as e adolescentes em trabalho infantil”, disse Dilma pelo microblog, na sequ�ncia, em novo post, afirmando que “� uma discuss�o important�ssima para o futuro de todos n�s: lugar de crian�a � na escola!”.
No caso de C., mesmo com o esfor�o do trabalho di�rio, ele consegue manter-se na escola. Mas o retrato das crian�as e adolescentes que estudam e trabalham � cr�tico. Em Minas, segundo o �ltimo Censo, o n�vel de jovens que deixou de frequentar as salas de aula � bem maior entre os que trabalham, comprometendo assim seu futuro profissional. Entre 10 e 13 anos, por exemplo, 10,3% dos ocupados deixam de ir � escola, enquanto entre os que n�o trabalham a evas�o escolar � de apenas 1,9%.