Uma bolada de R$ 4,740 bilh�es foi atirada ao lixo no ano passado, na forma de produtos amplamente consumidos nos supermercados de todo o pa�s que perderam a validade ou foram furtados das lojas, muitas vezes dentro dos carrinhos, tamb�m levados pelos fregueses. A fortuna representa mais que o dobro da receita de uma das maiores redes supermercadistas de Minas Gerais, onde as perdas se aproximaram de meio bilh�o de reais. Se parece pouco, supera todo o investimento (R$ 300 milh�es) previsto pelo setor em Minas neste ano, dinheiro suficiente para a abertura de pelo menos 70 lojas. Os n�meros constam das pesquisas mais recentes feitas pelas associa��es brasileira (Abras) e mineira (Amis) de supermercados, que intensificam os trabalhos dos comit�s de preven��o de perdas nas empresas.
Ardem nesse caldeir�o de baixas ingredientes como furtos, produtos danificados por clientes e funcion�rios, falta de controle do estoque e de acompanhamento das datas de validade de mercadorias nas g�ndolas e o descompromisso de fornecedores, que entregam quantidade de itens inferior � contratada. Nas empresas mais despreparadas para enfrentar o problema, o �ndice m�dio de perdas estimado pela Abras em 2% do faturamento das redes pode superar o dobro, segundo o superintendente da institui��o, Adilson Rodrigues. Ao todo, os supermercados faturaram R$ 25,7 bilh�es em Minas e R$ 242,9 bilh�es no Brasil em 2012. “A rigor, as perdas come�am nas lavouras, quando o produtor desavisado se engana sobre o momento da colheita, e crescem na log�stica do transporte deficiente das estradas ruins do pa�s e no armazenamento, muitas vezes inadequado nos caminh�es”, afirma.Nos supermercados, descontrole, manuseio e sumi�o de mercadorias completam o mau servi�o. O consumidor tem tudo a ver com isso. Al�m de sofrer as consequ�ncias na amea�a � sa�de, paga pela inefici�ncia descontada nos pre�os mais altos marcados na nota fiscal de compra. As se��es dos chamados produtos perec�veis – frutas, legume, verduras, carnes, l�cteos e embutidos – s�o as campe�s das perdas. Das planta��es ao varejo, perdem-se 40% do estoque, ainda de acordo com levantamento feito pela Amis. Cerca de um quarto da frota de carrinhos usados nas lojas simplesmente some a cada ano. EQUIPE DE COMBATE A preocupa��o com tamanha quebra fez as redes sofisticarem a preven��o, que deixou de ser trabalho dos antigos fiscais de loja para ganhar equipes especializadas e um gerente ligado, com frequ�ncia, ao presidente ou aos diretores do supermercado. A rede mineira ABC, dona de 25 lojas em 13 munic�pios das regi�es Centro-Oeste, Sul, Alto Parana�ba e Tri�ngulo, � uma das empresas que elegeram a preven��o e o combate �s perdas como valor estrat�gico, conta T�lio Fernandes Martins, vice-presidente de Opera��es, Marketing e Com�rcio Exterior. Cuida desse trabalho uma equipe de 175 pessoas, nada menos do que 6% do quadro de pessoal das lojas e da central de distribui��o.
“O varejo � como estar em casa e deixar �gua pingando nas torneiras. � um neg�cio vulner�vel porque depende muito da aten��o das pessoas e porque trabalha com tudo em grandes quantidades, sejam produtos, fornecedores, empregados ou clientes”, afirma. A equipe que luta contra o desperd�cio e perdas � selecionada pelo quesito da percep��o apurada e passa por treinamento duro. Cabe a ela acompanhar as condutas de funcion�rios e clientes, adotar processos de controle de estoque, fazer invent�rios e confer�ncias di�rias de mercadorias, apurar ind�cios de desvios e furtos. A empresa usa, ainda, ferramentas como sistemas de computador especializados e equipamentos, a exemplo de antenas antifurto, c�meras de filmagem e monitoramento em tempo integral.
Com o investimento permanente, os supermercados ABC evolu�ram para um n�vel de perdas de 1,30% do faturamento, portanto inferior � m�dia nacional, envolvendo todas as se��es das lojas, com o detalhe de que nenhuma delas foi terceirizada. “Ainda temos de desenvolver o trabalho e evoluir muito, mas acreditamos j� existir na empresa uma cultura de preven��o de perdas”, afirma T�lio Martins. � o objetivo que move outras redes que t�m adotado os comit�s de preven��o de perdas, assessorados e orientados pela Amis, de acordo com o superintendente da institui��o, Adilson Rodrigues. A meta tra�ada junto �s empresas � a de reduzir o �ndice geral de perdas a 1% dentro de no m�ximo cinco anos. A pr�pria expans�o dos supermercados dificulta o controle das perdas e de um gargalo significativo, o sumi�o dos carrinhos, avalia Wagner Rocha de Castro, propriet�rio da rede Supermercado de Desconto Ltda, com quatro lojas em Cl�udio, no Centro-Oeste de Minas, e Itaguara, da Grande BH.
Atento ao neg�cio, Wagner Castro criou h� um ano e tr�s meses uma empresa que se dedica � reforma de carrinhos, atendendo grandes redes supermercadistas em Minas. Cotados na faixa entre R$ 250 e R$ 300, os carrinhos rodam 12 horas por dia, no m�nimo, demandando manuten��o na propor��o do tipo e da conserva��o do piso das lojas. Experiente no servi�o, Castro se associou � empresa TTY, de Belo Horizonte, e est� lan�ando um sistema de alarme para evitar roubos do equipamento. “Eu mesmo fui muitas vezes atr�s de consumidores que levaram carrinhos das lojas”, diz.
Embalagens aprimoradas No cerco aos preju�zos, os supermercadistas se juntaram aos distribuidores e produtores, por meio da CeasaMinas, para trabalhar na adequa��o das embalagens. As perdas de produtos decorrentes do uso inadequado das caixas alcan�am 50% das mercadorias levadas ao entreposto, de acordo com levantamento feito pela CeasaMinas. O processo e as exig�ncias que resultaram na corre��o do problema j� foram aplicados ao transporte de banana, tomate, mam�o, manga, abacaxi, cenoura e lim�o. Desde sexta-feira, est� valendo o prazo de adequa��o para todas as demais frutas e hortali�as, que termina em 1º de fevereiro de 2014.
O uso � regulado pela Instru��o Normativa Conjunta 009, de 2002, do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento, da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). As embalagens para acondicionamento, manuseio e comercializa��o dos produtos hort�colas podem ser descart�veis ou reutiliz�veis (retorn�veis). As retorn�veis, a exemplo das caixas pl�sticas, devem ser higienizadas a cada uso para evitar a prolifera��o de pragas vegetais. J� as caixas de madeira e de papel�o, por n�o serem higieniz�veis, devem ser descartadas depois do primeiro uso. A op��o para quem prefere as embalagens pl�sticas � o Banco de Caixas da CeasaMinas, que aluga e higieniza os recipientes, propiciando o rod�zio entre produtores, atacadistas e compradores, por meio de vales-caixas.