
H� tr�s d�cadas o Brasil assiste impass�vel a uma s�rie de ru�nas de imp�rios empresariais e financeiros, criados e nutridos pela especial capacidade do seus l�deres de fascinar o p�blico. O sucesso desses conhecidos personagens e, por tabela, de suas empresas avan�a f�cil no imagin�rio popular gra�as �s suas exibi��es de riqueza e influ�ncia.
Os seus question�veis neg�cios, por sua vez, prosperam com vigor gra�as a investidores de todos os portes na bolsa de valores, incluindo fundos de pens�o de estatais, tamb�m atra�dos pela exuber�ncia irracional dos protagonistas e pela promessa de ganhos sem limites. Os desfechos dessas hist�rias s�o quase sempre as mesmas trag�dias — com pesados preju�zos distribu�dos a acionistas, fornecedores e administra��es p�blicas.
Apesar de n�o ser genuinamente brasileiro, foi no pa�s que o fen�meno parece ter atingido o seu auge. Os epis�dios envolvem empres�rios de ramos diversos — como marcas varejistas, bancos, construtoras e at� gigantescas planta��es de soja e uma petroleira — e contaram com a rea��o tardia dos �rg�os de regula��o e controle de suas respectivas �reas e do mercado financeiro.
O caso mais recente � tamb�m o mais emblem�tico: o colapso do imp�rio X, do empres�rio Eike Batista. A hist�ria, no entanto, remete a outros casos famosos, como os lances ousados de um executivo acostumado a comprar empresas em dificuldades e que levaram ao desaparecimento das marcas Mappin e Mesbla. Com grave crise financeira e vendas em baixa, as redes varejistas, do empres�rio Ricardo Mansur, de 65 anos, decretaram fal�ncia em junho de 1999.
DA GL�RIA � PRIS�O No in�cio dos anos 1980, Naji Nahas, de 66, era dono da elegante casa noturna Regine’s, em S�o Paulo, frequentada pelos nomes de destaque do poder e das artes, incluindo os internacionais. L�, seu amigo Omar Shariff, astro de Hollywood, dan�ou com a primeira-dama Dulce Figueiredo. Os pr�speros e pouco ortodoxos neg�cios do empres�rio foram expulsos da Bolsa de Valores de S�o Paulo (BM&FBovespa). Em 1989, ele foi acusado de quebrar a bolsa do Rio. H� cinco anos, reapareceu no notici�rio, ao ser preso na Opera��o Satiagraha, da Pol�cia Federal, acusado de lavagem de dinheiro.
O ouro de tolo que os mestres desse capitalismo de camarote vendiam ao mundo dos neg�cios se confundia com o luxo e a ousadia exibidos em colunas sociais, festas e eventos corporativos. “O capitalismo precisa, de tempos em tempos, criar bolhas de prosperidade e os seus her�is do momento”, resume o consultor Ren� Garcia J�nior, ex-diretor da Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM). Na sua avalia��o, a desmontagem desses “alvos de rentabiliza��o excessiva” se inicia t�o logo acabam as condi��es gerais favor�veis ao exagero.
Para quem sofre a desilus�o de ter apostado alto em pessoas e companhias insustent�veis economicamente, resta a reflex�o e a cobran�a por mais rigor das autoridades. Para piorar, depois do colapso bilion�rio de cada um deles, muitos desses s�mbolos destronados ainda mant�m o caviar do card�pio, mesmo com os p�s descal�os. “A legisla��o do pa�s � boa e d� instrumentos para proteger o investidor. O que falta � ter a informa��o correta”, observa o consultor e executivo Leonardo Brunet.
O �xito que figuras como Najas representa conta com uma caracter�stica local: a sanha rentista. O brasileiro sonha com lucros repentinos, sem muito esfor�o e, de quebra, acompanhado de uma exist�ncia faustosa. Os bilion�rios da vez traduzem o desejo pelo ganho f�cil. “Por isso a merecida desconfian�a d� lugar ao encantamento”, explica o publicit�rio Dudu Godoy.