
Bras�lia – As elevadas temperaturas registradas em janeiro combinadas com a maior estiagem para este m�s em 60 anos, expuseram ontem graves defici�ncias do sistema el�trico nacional e ainda deram novo impulso ao pior pesadelo para a presidente Dilma Rousseff — o racionamento de energia. Apenas um dia ap�s o ministro de Minas e Energia, Edison Lob�o, afirmar que o risco de um desabastecimento de eletricidade no pa�s era “zero”, uma simples falha numa linha de transmiss�o que liga o Norte ao Sudeste provocou no in�cio da tarde um apag�o, o d�cimo do atual governo, que deixou cerca de 6 milh�es de pessoas sem luz em 11 estados das regi�es Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Em Minas, o desbastecimento afetou a regi�o de Venda Nova, na capital, e 62 cidades na Grande BH, no Tri�ngulo, no Leste, no Sul e no Oeste do estado. Segundo a Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig) a interrup��o no fornecimento de energia afetou 230 mil pessoas na sua �rea de concess�o. Segundo a empresa, o apag�o durou no m�ximo de 56 minutos. O desligamento ocorreu �s 14h02 e o restabelecimento se iniciou a partir da determina��o do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS), �s 14h48. “�s 14h58, todos os clientes afetados j� tinham sido restabelecidos”, disse a empresa em nota. Al�m de Minas, faltou energia em S�o Paulo, Rio de Janeiro, Esp�rito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goi�s, Tocantins, Santa Catarina, Paran� e Rio Grande do Sul.
Analistas acreditam que um descompasso na distribui��o das cargas entre o Norte e o Sul do pa�s provocado pela elevada demanda de energia nas horas mais quentes do dia levou a um colapso de uma das principais conex�es do Sistema Interligado Nacional (SIN). A exemplo da s�rie de apag�es de grandes propor��es que v�m atingindo o pa�s desde 2008, eles enxergam crescente fragilidade do setor em decorr�ncia da falta de planejamento e de investimentos em manuten��o de redes, al�m de atrasos na entrega de equipamentos de prote��o e de novas usinas geradoras.
O governo tentou minimizar a extens�o do primeiro grande blecaute de 2014 e procurou desvincular sua ocorr�ncia ao aumento do consumo combinado aos baixos n�veis dos reservat�rios. Segundo o Operador Nacional do Sistema el�trico (ONS), �rg�o gestor das instala��es de gera��o e distribui��o chegaram �s hidrel�tricas do pa�s, s� 55% da �gua das chuvas esperada para janeiro.
O ac�mulo de problemas coloca em xeque o modelo criado pela ent�o ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, em vigor desde 2003. “O evento ocorrido hoje (ontem) pode ser considerado de m�dio porte, pois comprometeu s� 8% da carga envolvida. De toda forma � cedo para avaliar o fato que ainda ser� detalhado pelo ONS nos pr�ximos dias e investigado pela Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel)", contemporizou o secret�rio-executivo do Minist�rio de Minas e Energia, M�rcio Zimmermann, em entrevista coletiva.
Para ele, a falha que tomou boa parte do pa�s ontem nada tem a ver com a sobrecarga ao sistema, acrescentando que o sistema est� "equilibrado". O secret�rio tamb�m rebateu a aposta de analistas de eleva��o do risco de racionamento de 5% (m�dia padr�o adotada pelo governo) para 20%. "Disseram isso em 2008 e 2012, mas nada ocorreu. Os problemas s�o conjunturais e n�o estruturais", discursou.
Conforme o ONS, o acidente — ainda sem causas conhecidas — ocorreu �s 14h03 e a chamada "perturba��o" no SIN foi detectada entre as cidades de Colinas (TO) e Mina�u (GO), onde est� localizada a hidrel�trica de Serra da Mesa. O transtorno interrompeu o fornecimento de aproximadamente 5 mil MW (megawatts) por, pelo menos, 35 minutos, quando iniciou o restabelecimento. "Para evitar a propaga��o do evento, houve desligamento autom�tico de cargas selecionadas pelos distribuidores locais, visando restabelecer o sistema", divulgou o �rg�o em comunicado.

Cr�ticas
Em nota, o presidente nacional do PSDB, senador A�cio Neves (MG), apontou a m� gest�o e o intervencionismo estatal como causas do apag�o de ontem. "O governo afugentou investimentos e, se n�o chover rapidamente, os apag�es poder�o ser maiores ainda no futuro", afirmou. O l�der do DEM na C�mara, deputado Mendon�a Filho (PE), apresentou requerimento pedindo a convoca��o de Edison Lob�o para falar sobre a pol�tica energ�tica e os apag�es mais recentes. O presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), vai analisar o pedido. “A pol�tica energ�tica do governo est� fracassando, mesmo com a concess�o de subs�dio na veia por parte do Tesouro”, argumentou Mendon�a Filho.
O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), como presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura, disse que o setor el�trico atravessa "momento de estresse" e o apag�o de ontem � fruto de lacunas do planejamento. Ele ressaltou que o Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) realizou levantamento sobre a situa��o do setor el�trico e identificou falhas que se repetem. "Lob�o sempre diz que o sistema el�trico � robusto para ocultar fatos negativos ao governo", finalizou Jardim.