A baixa aflu�ncia de �gua nos rios do Sudeste e do Nordeste e os sucessivos recordes de consumo e demanda, ocasionados por uma forte onda de calor no pa�s, est�o pressionando o sistema el�trico brasileiro e voltam a colocar o pa�s perto da situa��o que levou ao racionamento de energia em 2001. Apesar de o governo descartar qualquer conex�o entre a elevada demanda e as causas do primeiro apag�o do ano, que atingiu 13 estados e o Distrito Federal e afetou 6 milh�es de pessoas, dados divulgados ontem pelo ONS revelam que o blecaute de ter�a-feira ocorreu poucos minutos depois de um pico no consumo de energia, refor�ando os temores sobre as reais condi��es do sistema. �s 14h de ter�a-feira a demanda da Regi�o Sul atingiu o pico hist�rico de 17.412 megawatts (MW), ou seja, tr�s minutos antes do in�cio do apag�o.
Na outra ponta, os reservat�rios continuam em baixa e cada vez mais perto do n�vel que estavam no ano do racionamento. Em 31 de janeiro de 2001, o reservat�rio de S�o Sim�o (1.710 megawatts (MW), na bacia do Rio Parana�ba, – uma das mais importantes hidrel�tricas da Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig) –, estava com 56,10% de sua capacidade. Na segunda-feira, o ac�mulo de �gua era de 19,13%. Tr�s Marias (396 MW) tinha capacidade de armazenamento de 38,43% no final de janeiro daquele ano e agora tem 26,6% (Leia mais na p�gina 11). Em Marimbondo (1.440MW), no Rio Grande, o n�vel do reservat�rio est� em 23,05%, muito pr�ximo dos 15,55% registrados em janeiro de 2001.
De acordo com Fl�vio Neiva, presidente da Associa��o Brasileira das Empresas Geradoras de Energia El�trica (Abrage), a press�o est� sendo sentida pelas geradoras de energia, que observam um aumento substancial da demanda na ponta da carga. A combina��o entre o n�vel dos reservat�rios, aflu�ncia, oferta de energia e mercado tamb�m j� fez com que o Pre�o da Liquida��o das Diferen�as (PLD) subisse para o seu valor m�ximo, R$ 822. De acordo com o Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS), a energia armazenada nas regi�es Sudeste e Centro-Oeste chegou a 39,21% na ter�a-feira. O percentual � menor do que o de dezembro de 2013 (43,18%), mas um pouco superior ao de janeiro do ano passado (37,46%).
Segundo Neiva, apesar da agrega��o de energia nova ao sistema em 2013, os n�veis de armazenamento da Regi�o Sudeste em 2014 s�o praticamente iguais aos do ano passado. “Est�o sendo verificados valores mais elevados de consumo (acima de 6.000 MW m�dios) e vaz�es naturais afluentes 50% menores). Ele lembra, por�m, que, como ocorreu em 2013, essa conjuntura ainda pode ser revertida. Para isso ser� necess�rio “uma melhoria substancial das vaz�es afluentes, tendo em vista que a esta��o chuvosa se estende at� o m�s de abril”. Para Cl�udio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, “o que preocupa ´ï¿½ que a chuva n�o est� chegando. Em fevereiro do ano passado, a curva estava subindo e agora ele est� mais baixo, o que mostra que a produ��o de energia no Brasil ainda � fortemente dependente do clima”, observa.
Medidas extremas
Mas para n�o ficar na m�o de S�o Pedro, o governo j� avalia adotar medidas extremas. Caso se agrave nas pr�ximas semanas ou meses o cen�rio dos baixos n�veis dos reservat�rios das hidrel�tricas, que receberam s� 55% da �gua de chuva esperada para janeiro, est�o sendo considerados controles excepcionais sobre a gest�o de recursos h�dricos. Segundo fontes do setor, o Operador Nacional do Setor El�trico (ONS), estuda recomendar a suspens�o tempor�ria do uso preferencial dos rios para a irriga��o no Nordeste e o adiamento de manuten��es peri�dicas em hidrel�tricas. Um prova do temor de repetir o vexame de apag�es em pleno ano eleitoral est� no alerta feito ontem pelo ONS �s distribuidoras, para que n�o divulguem proje��es meteorol�gicas “para n�o assustar” a popula��o. Outro sinal vem da instala��o de geradores em torno dos est�dios da Copa do Mundo.
Mais apag�es para os pobres
O perfil dos milh�es de brasileiros prejudicados pela s�rie de apag�es ocorridos desde a posse da presidente Dilma Rousseff – como o da ter�a-feira, que afetou 6 milh�es em 13 estados e no Distrito Federal— est� concentrado nas camadas mais pobres da popula��o, sobretudo moradores das periferias das principais metr�poles. Em virtude de protocolos obedecidos pelas distribuidoras de eletricidade nas “grandes perturba��es” do Sistema Interligado Nacional (SIN), os alvos selecionados para desligamentos s�o as �reas menos favorecidas e populosas.
Nos bastidores, analistas e at� mesmo autoridades d�o mostras de crescente preocupa��o com a possibilidade desses eventos se repetirem com mais frequ�ncia devido �s elevadas temperaturas verificadas neste come�o de ano, que pressionam fortemente a demanda, somadas aos baixos n�veis dos reservat�rios das hidrel�tricas, os menores em 60 anos para o per�odo.
Gestores das companhias estaduais de energia explicam que o procedimento t�cnico conhecido como Esquema Regional de Al�vio de Carga (Erac), coordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), imp�e cortes seletivos com o crit�rio de evitar transtornos nos principais centros comerciais e empresarias, como paradas de elevadores e sinais luminosos de tr�nsito, com maior concentra��o de pr�dios e ve�culos. Essas medidas que vigoram enquanto o SIN n�o se estabiliza para ent�o encerrar o blecaute acabam sobrando para a popula��o mais carente.
No caso dos Eracs implementados esta semana, as distribuidoras estaduais tiveram que suspender 8% de sua carga por um per�odo de pelo menos 35 minutos, a partir de 14h03, incluindo parte do Distrito Federal, afetando 16 mil pessoas. A maioria das v�timas foi justamente as que vivem em bairros e cidades metropolitanos distantes dos centros das capitais. As empresas ressalvam, contudo, a exclus�o de pres�dios e hospitais dos planos de interrup��es. (SR)