Ainda existem brasileiros que n�o sabem o que � ter energia

Com falta de nuvens para trazer as t�o esperadas chuvas, sobram d�vidas sobre o risco de desabastecimento de energia no pa�s hoje. Para Jorge Trinkenreich, diretor da PSR Consultoria, as simula��es oficiais subestimam a real probabilidade de ser decretado um racionamento. Na previs�o do Minist�rio das Minas e Energia (MME), os reservat�rios podem chegar a 15% em novembro, n�vel muito pr�ximo do m�nimo necess�rio para uma usina operar, que � de 10%. Em cinco das 81 s�ries hist�ricas para a Regi�o Sudeste; e em 36 das mesmas s�ries para a Regi�o Nordeste, essa situa��o j� se repetiu. “Ao contr�rio do afirmado pelo governo, h� uma possibilidade real de racionamento caso ocorram aflu�ncias desfavor�veis, mas plenamente plaus�veis, como as observadas no passado”, constata o Energy Report, relat�rio elaborado pela PSR para o m�s de fevereiro.

Por outro lado, o custo de uma redu��o compuls�ria no consumo pode ser alto para a economia. “Existe um custo para as m�quinas, tanto do setor el�trico como das ind�strias, desacelerarem. Por isso, o an�ncio de racionamento sem a certeza de que ele ser� realmente necess�rio � invi�vel”, avalia o diretor de uma concession�ria paulista que pediu para n�o ter o seu nome divulgado. Ele garante que, se tivesse que tomar uma decis�o neste momento, n�o haveria racionamento no pa�s.

SEM LUZ
Enquanto isso, em muitas partes do Brasil ainda existem brasileiros que n�o sabem o que � ter energia em casa, como o pecuarista Carlos da Cunha, de 36 anos. Ele n�o vive em um rinc�o isolado nem tem de recorrer a m�todos arcaicos de sobreviv�ncia, mas amarga as dificuldades de n�o ter energia e saber que o cabeamento da rede el�trica passa a apenas 2 quil�metros dele, no distrito de Paiol Queimado, em Medeiros, no Centro-Oeste de Minas Gerais. Cunha � dono de uma fazenda de gado leiteiro que fica a 70 quil�metros da cidade, e onde vive h� 3 anos com a esposa, Eliana de Jesus Sobral, de 31, e o filho, Adryan Sobral Aparecido Lemos, de 7. Ao se mudar para l�, a fam�lia tratou de comprar v�rios eletrodom�sticos. Sem a energia, a geladeira virou dispensa, o fog�o serve de arm�rio e o forno de cristaleira.

Para o lavrador aposentado Manoel Caldeira Miranda, do munic�pio de Ara�ua�, no Vale do Jequitinhonha, se o pa�s vai enfrentar a falta de energia ou n�o, pelo menos por enquanto, n�o faz nenhuma diferen�a. Ele tamb�m n�o acompanha o notici�rio sobre a crise energ�tica. Manoel, junto da fam�lia, j� vive em constante apag�o.

Aos 73 anos, o aposentado nunca teve o benef�cio da energia el�trica em casa e ainda recorre � velha lamparina para iluminar as noites. “A gente vive no padecimento”, diz Manoel Miranda, ao reclamar da falta que a energia el�trica faz � sua fam�lia. “A gente n�o pode ver televis�o nem ligar um r�dio. N�o tem nenhum conforto”, lamenta. Mas ele diz que tem a esperan�a de que n�o vai morrer sem acender uma l�mpada dentro de casa. “Eu queria ter a energia para ter pelo menos uma geladeira e poder tomar uma �gua gelada”.