Mar�o acabou sem chuva suficiente para tranquilizar o Brasil quanto � garantia de fornecimento de energia e com d�vidas bastantes sobre o que poder� ocorrer caso as vaz�es m�dias naturais fiquem abaixo da m�dia hist�rica no per�odo seco, que deveria come�ar a partir desta ter�a-feira. Com base nas proje��es oficiais de chuvas divulgadas na �ltima sexta-feira pelo Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS), o risco de d�ficit de abastecimento de energia no Brasil em 2014 subiu de 71% para 94%, estimam especialistas em energia do Citibank. O c�lculo leva em conta que o volume de �gua acrescentado aos reservat�rios das hidrel�tricas das regi�es Sudeste e Centro-Oeste, respons�veis por 70% da gera��o no pa�s, deve ser equivalente a 83% da m�dia hist�rica para o m�s de abril.
A situa��o p�e o governo na berlinda: se nenhuma provid�ncia for tomada, h� indica��o de um esgotamento acentuado dos reservat�rios durante o per�odo de estiagem, que vai at� novembro. A alternativa para isso seria a racionaliza��o ou a restri��o do consumo de energia. De acordo com os analistas Marcelo Britto, Kaique Vasconcellos e Stephen H Graham, que assinam o relat�rio do banco, se a previs�o do ONS se confirmar, as chuvas de maio a dezembro precisariam atingir 108% da m�dia para eliminar completamente o risco de racionamento. Eles ressaltaram que um corte de 5% do consumo nacional seria suficiente para manter o equil�brio entre oferta e procura.
Dados do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS) mostram que o n�vel dos reservat�rios estava em 36,24% no domingo, mas, durante a estiagem iniciada em janeiro, j� chegou a cair a 35,5%. Usinas hidrel�tricas importantes para o armazenamento de energia no pa�s est�o em situa��o cr�tica. � o caso de Tr�s Marias, que, com 18,81% de �gua armazenada, j� reduziu a gera��o de energia e a quantidade de �gua que ajuda a regularizar reservat�rios importantes do Nordeste, como Sobradinho e o complexo de Paulo Afonso. Furnas tamb�m apresenta um n�vel preocupante, com 27,5% de sua capacidade, sem contar Itumbiara (23,61%) e Nova Ponte (25,52%).
“Se, por um lado, n�o houve melhoria nas aflu�ncias em abril, por outro pelo menos o n�vel dos reservat�rios n�o caiu. Isso reverte a tend�ncia de janeiro e fevereiro, quando o volume encolhia cerca de 0,5% ao dia”, diz Fl�vio Neiva, presidente da Associa��o Brasileira das Empresas Geradoras de Energia El�trica (Abrage). A partir da segunda quinzena de mar�o, a queda foi para 0,2% ao dia. “A tend�ncia foi revertida, mas n�o houve recupera��o percept�vel nos reservat�rios. Com isso, o fechamento da esta��o chuvosa foi deixado para abril”, afirma.
A expectativa do ONS � fechar o per�odo chuvoso com os reservat�rios em um n�vel de acumula��o de 41% (em maio), mas os especialistas s�o menos otimistas e falam em algo entre 36% e 38%. Nas simula��es apresentadas pelo governo aos agentes do setor, os reservat�rios das hidrel�tricas chegar�o a novembro com 15% da capacidade se a aflu�ncia ficar em 85% da m�dia no per�odo que vai de abril a novembro. O problema � que, hoje, essa m�dia est� em 60% no Sudeste e 30% no Nordeste. Tecnicamente, ainda n�o se sabe as consequ�ncias caso as usinas passem a rodar nesse patamar.
As mais conhecidas s�o a queda de produtividade, a redu��o da gera��o m�xima e a forma��o de v�rtices de �gua perto das turbinas. Outra temeridade � chegar ao in�cio do pr�ximo per�odo chuvoso com apenas 15% de volume �til nos lagos das usinas. Em dezembro do ano passado, o volume �til dos reservat�rios estava em 42%.
No limite
Para Mikio Kawai Jr., diretor executivo da Safira Gest�o e Consultoria em Energia, a quest�o agora j� n�o � esperar que os reservat�rios se encham porque j� se sabe que isso n�o vai ocorrer. “Precisamos saber se teremos um per�odo seco com chuvas suficientes para conseguirmos respirar ao longo do ano. Chegar ao fim do ano com 15% de armazenamento � preocupante, porque beira a dificuldade operativa”, observa.
Para os especialistas do Citbank, por�m, “se esse jogo continuar por muito tempo e as chuvas n�o vierem, as chances come�am a apontar para um futuro racionamento de maior magnitude, de cerca de 20%", em refer�ncia � dimens�o da economia que pode ser necess�ria em 2015.
Empresas como a Cesp e a Cemig v�m conseguindo obter ganhos em momento de altos pre�os de eletricidade a curto prazo, conforme ocorre hoje, segundo o Citibank, mas essas companhias tamb�m perderiam em caso de racionamento. Com a cota��o recorde de R$ 822,83 o megawatt, a energia negociada no mercado � vista j� rendeu R$ 9 bilh�es aos agentes nos dois primeiros meses de 2014.
