
"� um porcentual que surpreende. Se imaginarmos que a pessoa j� tem outras d�vidas, como o financiamento da casa ou do autom�vel e que � indicado poupar de 10% a 15% da renda todos os meses, vemos que sobra pouco no or�amento", avalia o s�cio do Guia Bolso, Thiago Alvarez. Na classe baixa (renda mensal de R$ 1 mil a R$ 5 mil), as parcelas comprometem 10% do sal�rio, enquanto que na classe m�dia (de R$ 5 mil a R$ 10 mil), o porcentual � de 8% e entre aqueles que ganham acima de R$ 10 mil, elas representam 4%.
O limite indicado por especialistas � menor. "Para n�o haver risco de se endividar, o limite razo�vel � comprometer at� 5% da renda em parcelas", diz Alvarez. "O gasto total do cart�o de cr�dito deveria ser de at� 10%, n�o somente as parcelas", afirma o coordenador do laborat�rio de finan�as do Insper, Michael Viriato.
Ao parcelar as compras, muitos se esquecem que est�o na verdade transformando a d�vida de 30 dias em algo mais longo, que pode durar meses. Se somado a outros compromissos de longo prazo, como o financiamento imobili�rio, o parcelamento pode fazer com que o consumidor comprometa grande parte da renda em gastos fixos. Algo temer�rio, segundo os especialistas, j� que pode levar � inadimpl�ncia. Al�m disso, com muitas parcelas, a fatura do cart�o se torna uma loteria, j� que nunca se sabe o tamanho da conta do m�s seguinte.
Atualmente, seis em cada dez brasileiros t�m conta em banco, o maior porcentual da s�rie hist�rica da Fecom�rcio-RJ. No total, s�o 79,1 milh�es de pessoas na rede banc�ria que podem ter acesso a cart�es. "O problema � que o cr�dito � muito facilitado. � f�cil conseguir um cart�o hoje em dia, mas n�o h� um controle do Banco Central que estabele�a um teto de gastos", afirma a coordenadora do Programa de Apoio ao Superendividado da Funda��o Procon-SP, Vera L�cia Remedi Pereira, ao lembrar que no financiamento imobili�rio, por exemplo, o tomador de cr�dito n�o pode engessar mais de 30% da renda na parcela mensal.
E a falta de controle ocorre justamente no instrumento de cr�dito mais caro do mercado. Em junho, a taxa m�dia cobrada no cart�o era de 10,70% ao m�s, o que equivale a 238,67% ao ano, segundo pesquisa da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade (Anefac). "Com um juro t�o alto, em pouqu�ssimo tempo a d�vida dobra", diz a coordenadora do Procon-SP. N�o � toa, o cart�o � o grande vil�o das d�vidas: em S�o Paulo, 49,6% das fam�lias est�o com contas atrasadas, sendo que o pl�stico � respons�vel por 69,8% dos endividamentos, segundo a Fecom�rcio-SP.
O que parcelar
Especialistas n�o condenam o uso do cart�o, afinal, ele ainda � um bom instrumento para concentrar e controlar as despesas e conseguir pontos para trocar por produtos e servi�os. "Costumo comparar o cart�o de cr�dito a uma arma carregada que o consumidor anda no bolso. N�o pode sair atirando para todo lado" diz Viriato, do Insper.
"Compras cujos valores s�o altos, como passagens a�reas e eletrodom�sticos, podem ser parceladas. O que deveria ser evitado � parcelar compras menores", sugere Alvarez. A pesquisa do Guia Bolso aponta que 51% dos gastos parcelados correspondem a compras diversas, como roupas. E mesmo gastos correntes, como mercado e restaurantes, s�o parcelados por parte dos consumidores. No total, foram ouvidas 5.649 pessoas na pesquisa, sendo a regi�o de maior concentra��o o Sudeste. Nos gastos com viagens, apesar de serem maiores, Viriato afirma que a porcentagem n�o deveria ser superior a 10% do sal�rio e que o ideal seria juntar dinheiro para viajar j� com as contas quitadas.
A primeira sugest�o para que os gastos n�o fujam ao controle � n�o carregar o cart�o todos os dias na carteira. "Ou seja, a 'arma' deve ser guardada em casa para evitar compras compulsivas. Se encontrar algo na rua que lhe interesse, a pessoa deve voltar para casa, pensar melhor e, se for o caso, ir � loja", diz Viriato. A segunda sugest�o � ter no m�ximo dois cart�es, caso o consumidor queira dividir as datas de pagamento.
Sobre as parcelas, especialistas afirmam que � importante haver algum tipo de controle. O cliente pode fazer uma planilha de acompanhamento ou mesmo usar ferramentas online dispon�veis atualmente. O Guia Bolso, por exemplo, atualiza automaticamente uma planilha de gastos no momento em que o usu�rio faz uma nova compra. "Se perceber que est� fazendo muitas compras parceladas, a pessoa dever� se esfor�ar para mudar esse h�bito", afirma o professor do Insper.
Al�m dessas sugest�es, sempre � indicado pagar a fatura total e n�o o m�nimo, pois, nesses casos, o juro come�a a trabalhar ainda mais contra o consumidor. "Se o sal�rio j� n�o � suficiente para pagar todas as d�vidas e ele come�a a rolar o pagamento � porque h� algo errado", diz Vera L�cia.
Em casos em que a pessoa j� entrou no cr�dito rotativo, o caminho � a negocia��o da d�vida com a operadora do cart�o de cr�dito, o que pode ser feito sozinho ou com ajuda. O Programa de Apoio ao Superendividado do Procon-SP, al�m de dar palestras gratuitas e informa��es sobre o tema, faz a ponte entre o devedor e o credor, sendo ele o banco, a operadora do cart�o ou outra empresa.