A estiagem afetou a pesca, a agricultura, a pecu�ria, o com�rcio, a presta��o de servi�os, o turismo e a ind�stria ao longo de todo o percurso. Nem empresas tradicionais escapam da escassez de �gua. A Icofort, a �ltima grande empresa que explorava a hidrovia do Velho Chico, transportando caro�os de algod�o da represa de Sobradinho (BA) a Juazeiro (BA), suspendeu as atividades em julho. Resultado: a mercadoria passou a ser escoada por via terrestre, onerando o pre�o final em torno de 30% e aumentando o risco de acidentes nas estradas.
“Cinquenta pessoas foram demitidas”, lamentou o presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio S�o Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda. Mas ele destaca que o epicentro da crise est� em Minas: “Da represa de Tr�s Marias ao encontro do Velho Chico com o Rio das Velhas”. (Em Barra do Guaicu�, distrito de V�rzea da Palma). O lago da represa est� com menos de 10% da capacidade m�xima, o que obrigou a Cemig a reduzir a vaz�o para 170 metros c�bicos por segundo. No in�cio do ano, eram 500 metros c�bicos por segundo. A pouca �gua na represa, apelidada de Praia de Minas, afugentou os turistas.
Seu Nativo Barbosa de Lima, que deixou a Para�ba na d�cada de 1970, atra�do pela pujan�a econ�mica no entorno do lago de Tr�s Marias, est� angustiado: “Alugo a di�ria dessa lancha por R$ 200 para pescadores. Ela n�o entra na �gua h� cinco meses. Perdi dinheiro e o rapaz que a pilotava ficou sem servi�o”. No mesmo lugar, Maria das Dores de Lima, dona de um quiosque, precisou dispensar a ajudante: “Sem �gua, o turista n�o vem. Eu vendia 12 fardos de cerveja aos s�bados. Hoje n�o saem nem dois”.
O vapor n�o viaja mais
O cen�rio � mais desolador em Pirapora, onde na semana passada a Marinha proibiu oficialmente o Benjamim Guimar�es, o �nico vapor em atividade no mundo, de navegar at� que o leito volte ao normal. Constru�do inicialmente para subir e descer o Mississipi (Estados Unidos), o gaiola atra�a uma multid�o de turistas � cidade. “O barco tem capacidade para levar 170 passageiros. Se chover, volta a funcionar em novembro. Do contr�rio, n�o sei”, disse o comandante, Manoel Mariano Cunha. A afli��o dele e da tripula��o � a mesma sentida por empres�rios do munic�pio.
Donos de hot�is viram o n�mero de h�spedes cair e o propriet�rios de bares e restaurantes, sobretudo os que funcionam na orla, onde se concentra boa parte dos turistas, contabilizam expressiva queda no movimento. “Quando inaugurei o empreendimento, h� menos de um ano, vendia cerca de R$ 2,5 mil por dia. Atualmente, n�o consigo R$ 300”, calculou Jos� dos Reis, s�cio do quiosque T� a toa. A queda no turismo tamb�m afetou os neg�cios dos artes�os, que transformam troncos de sucupira, favela e imburana em carrancas e imagens de S�o Francisco, o santo que d� nome ao rio.
Ant�nio Ramos, um dos artes�os mais respeitados por aquelas bandas, apurou queda de 80% nos neg�cios. Suas pe�as, dependendo do tamanho, custam R$ 450. “Enquanto a seca persistir, os turistas n�o vir�o. � gente de Belo Horizonte, de outras partes de Minas, de fora do estado e do estrangeiro. Vamos torcer para chover”, deseja. Seu colega de oficina Wanderson Pereira � outro artes�o que clama por chuva. “Eu vendia quase que diariamente pelo menos cinco carrancas pequenas, a R$ 20 cada. Agora, estou h� uma semana sem negociar nenhuma.”