
Os efeitos da estiagem j� chegaram aos sacol�es, nos quais os pre�os das hortali�as, frutas e legumes, em pleno per�odo de safra, est�o em alta. Alimentam a infla��o em �poca que deveriam ajudar a aliviar a press�o do custo de vida. Levantamento do site Mercado Mineiro em 16 estabelecimentos da capital mostra que alguns itens, de forma at�pica, dispararam entre agosto e este m�s. � o caso do tomate, que no in�cio do ano costuma ser apontado como vil�o da infla��o, mas agora, em plena �poca de colheita, deveria estar barato. Em Belo Horizonte, nos �ltimos 60 dias o pre�o m�dio do fruto acelerou, em m�dia, 40%, saltando de R$ 2,80 para R$ 3,91. Frutas refrescantes tamb�m n�o escaparam do drag�o.
A maior alta observada pela pesquisa foi no pre�o da melancia. O quilo da fruta, que � vedete em �pocas de calor, sa�a por R$ 1,29 em agosto. Na �ltima semana j� era poss�vel observar reajuste de 24,81%, uma vez que o pre�o m�dio era de R$ 1,61. Mas ontem era f�cil encontrar o quilo sendo vendido por R$ 1,99. J� o pre�o m�dio do lim�o tahiti tamb�m assusta quem vai ao sacol�o, passou de R$ 3,27 para R$ 3,99, aumento de 22,02%, e novas altas no varejo devem deixar a limonada mais cara. Na Centrais de Abastecimento do estado (CeasaMG), onde os produtos s�o vendidos no atacado, o valor da fruta dobrou. A caixa de 20 quilos do lim�o tahiti, vendida a R$ 40 em setembro, passou para R$ 80 neste m�s.
A enfermeira Edilene Paulinelli notou que o pre�o do lim�o acelerou. E n�o foi apenas a fruta que fez o sacol�o da dona de casa pesar mais no bolso. Ela aponta que a infla��o est� generalizada, atingindo v�rios itens. “Acredito que a seca est� encarecendo os pre�os. O quiabo, que no m�s passado eu comprava por R$ 8,90 bandeja, agora est� por R$ 14,90. Frutas como o kiwi tamb�m subiram bastante.” Nem o chuchu escapou. Ontem, Edilene, que sempre pesquisa pre�os, comprou a verdura em um sacol�o do Bairro Serra, Regi�o Sul da capital, aproveitando a oferta: “Vou pagar pelo quilo R$ 1,99, mas o pre�o do chuchu na regi�o que frequento chega a R$ 3,29”. Semanalmente, a enfermeira desembolsa cerca de R$ 120, com frutas, legumes, verduras e carne para quatro pessoas. “O pre�o da carne tamb�m subiu muito. H� tr�s meses gastava perto de R$ 80 com essas compras”, calcula.

Para o especialista, os alimentos s� dar�o refresco ao IPCA a partir de janeiro de 2015. “Se a chuva come�ar agora, a recupera��o dos hortifruti acontence em 30 dias. No entanto, a tend�ncia de baixa deve ser captada em novembro, per�odo em que tradicionalmente � percebida a alta no pre�o das carnes devido as festas de fim de ano.”
O h�bito de pesquisar da consumidora Edilene Paulinelli faz bem. O levantamento do Mercado Mineiro mostra que a varia��o entre estabelecimentos � grande. Esse � o caso do quilo da batata, para o qual a diferen�a alcan�a 339,71% entre os estabelecimentos, com pre�os variando entre R$ 0,68 e R$ 2,99. Alguns produtos tamb�m registraram queda de pre�o em velocidade mais modesta do que subiram. Esse � o caso da couve: o pre�o m�dio do quilo, de cerca de R$ 1,05, diminuiu 2,54%. A analista financeira Fernanda Laguna tamb�m � adepta das pesquisas. Para driblar os reajustes, ela opta por fazer substitui��es. “Nos �ltimos tr�s meses o meu gasto com o sacol�o aumentou perto de 25%”, estima.

Os lugares que mais s�o castigados pela estiagem prolongada tamb�m s�o os mais atingidos pela alta dos pre�os dos hortifrutigranjeiros. � caso de Espinosa, no extremo Norte do estado. No munic�pio, a eleva��o dos pre�os das frutas e verduras � influenciada pela queda na produ��o e tamb�m pelo custo do frete, j� que 70% dos produtos vendidos na cidade saem do entreposto da CeasaMG, na Grande Belo Horizonte, a 700 quil�metros de dist�ncia.
Gerente de um supermercado em Espinosa Jo�o Paulo Ribeiro Teixeira conta que, nesta semana, o pre�o do tomate subiu tanto que est� preferindo n�o revender o produto no estabelecimento onde trabalha. Ele disse que antes o tomate era vendido ao consumidor a R$ 2 o quilo. Com a alta dos �ltimos dias, de mais de 100%, o fruto ter� que ser vendido a pelo menos R$ 3,75, para cobrir os custos do frete. “A este pre�o, � prefer�vel nem ter o produto, pois quando o valor � muito alto, as pessoas n�o compram”, disse Jo�o Paulo. Ele relaciona outros hortifrutigranjeiros que tiveram eleva��es de pre�os nos �ltimos dias: o piment�o a R$ 4,15 o quilo (alta de 26% na ultima quinzena), o chuchu a R$ 2,80 o quilo (aumento de 29%) e a cebola roxa, que chegou a R$ 4,15 o quilo (eleva��o de 38%).
O gerente de supermercado lembra que at� o fim do ano passado, boa parte das verduras e frutas comercializadas em Espinosa era oriunda do cultivo de cerca de 500 pequenos produtores no n�cleo de irriga��o do Estreito, instalado junto � barragem hom�nima, no Rio Verde Pequeno. Por�m, com o agravamento da seca, h� mais de quatro meses que os agricultores do N�cleo de Estreito pararam de produzir, for�ando a “importa��o” dos alimentos da Ceasa da GrandeBH.
O aumento dos pre�os de hortifrutigranjeiros afeta o bolso da popula��o tamb�m em Montes Claros – polo do Norte de Minas. S�cio de um sacol�o e tamb�m de um atacado de frutas e verduras na cidade, Ricardo Nunes Costa, informa que, at� agora, o aumento que mais assusta � o do tomate, que, em uma semana, subiu 50%, passando de R$ 2 para R$ 3 para o consumidor. “Mas a tend�ncia � que daqui em diante, aconte�a o aumento de pre�os de outros produtos, pois a �rea plantada diminuiu muito devido � falta de chuvas”, afirma Ricardo. Ele disse que a estiagem afetou tamb�m as reservas subterr�neas e os produtores que contam com plantio irrigados foram obrigados a interromper a produ��o por causa da diminui��o do n�vel dos po�os tubulares.
IMPORTADOS O comerciante conta que compra tomate de uma regi�o produtora do pr�prio Norte de Minas, entre os munic�pios de Salinas e Taiobeiras. Mas, por causa da seca, a produ��o caiu muito. Por isso, em breve, ser� obrigado a “importar” o fruto do Esp�rito Santo, o que vai influenciar em novo aumento do pre�o, por conta do custo do frete.
A explos�o dos pre�os influenciada pela falta de chuvas tamb�m � sentida no Mercado Municipal de Montes Claros. A verdureira Maria das Dores Pereira Lopes, de 62 – e que h� oito trabalha no local –, se assusta com a alta dos pre�os dos �ltimos dias. “De uma hora para outra, subiu tudo: o tomate, o quiabo, o chuchu, a ab�bora. Se Deus n�o tiver miseric�rdia e mandar chuva logo, vai ficar at� dif�cil pra gente trabalhar”, diz Maria das Dores.
Outro comerciante do mercado, Gilvani Freitas Melo, de 38, lamenta que, al�m de provocar a eleva��o dos pre�os, por causa da lei da oferta e da procura, a seca tamb�m compromete a qualidade dos produtos. “Se falta �gua at� para o povo beber em S�o Paulo, para produzir a coisa est� pior ainda. Com a seca, as frutas est�o ficando murchas e sem vida.”
A alta nos pre�os dos hortifrutigranjeiros pesa nos bolsos de consumidores como a professora Delvani de Souza, de 42, moradora de Montes Claros. “As coisa est�o muito caras por causa da seca. E a tend�ncia � que pre�os venham subir mais ainda pois a seca n�o vai acabar da noite para o dia. Pe�o a Deus para ter d� da gente. Sem �gua, n�o tem alimento”, diz Delvani.