Diante da desacelera��o da economia e do avan�o dos pre�os, as negocia��es salariais ao longo deste ano prometem ser at�picas. A quest�o � saber se o aumento real m�dio nos sal�rios ser� maior, igual ou menor que o percentual de 2014. Levantamento do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese) mostrou que o ganho real no ano passado foi de 1,39%, em m�dia, acima do registrado em 2013 (1,22%). Vale lembrar que a data-base da maioria das categorias ocorre entre o pr�ximo m�s e agosto.
Do outro, os sindicatos dos empregados se articulam para manter as vantagens conquistadas em anos anteriores e conseguir aumento nos contracheques acima do indicador calculado pelo IBGE. As negocia��es levam em conta o que ocorre na economia nacional, mas dois indicadores s�o essenciais na composi��o da pauta. Um deles � o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a infla��o oficial do pa�s.
A equipe econ�mica do Pal�cio do Planalto n�o est� conseguindo domar o drag�o em 2015. A meta do governo era de uma infla��o anual de 4,5%, com toler�ncia de dois pontos percentuais para cima, o chamado teto da meta (6,5%). Por�m, no acumulado dos �ltimos 12 meses, encerrados em fevereiro, o indicador avan�ou 7,7%. O percentual deve avan�ar mais at� outubro: o boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pelo governo, por meio do Banco Central, sinaliza que o IPCA deve encerrar o ano com alta ainda superior.
Outro indicador levado em conta nas mesas de discuss�es � o do desemprego. Diante da queda no consumo e na produ��o, empresas est�o engordando a estat�stica. Em fevereiro, por exemplo, a taxa de desocupa��o no pa�s ficou em 5,9%, acima da apurada em janeiro (5,3%) e da registrada em igual m�s de 2014 (5,1%). Parte desse aumento ocorreu em raz�o de o homem da casa ter perdido o emprego, gerando crescimento do n�mero de mulheres que deixaram os afazeres do lar para procurar emprego e do total de jovens que suspenderam o projeto de apenas estudar para entrar no mercado de trabalho.
O aumento no desemprego refletiu na queda do rendimento real habitual, de R$ 2.194,22 em fevereiro de 2014 para R$ 2.163,20 em igual m�s de 2015. “A infla��o e o mercado de trabalho s�o fundamentais do ponto de vista dos resultados. As dificuldades ser�o maiores para negocia��o”, avaliou Jos� Silvestre, coordenador de rela��es sindicais do Dieese. Ele, por�m, ainda considera cedo para fazer qualquer aposta sobre qual ser� o percentual do aumento real m�dio das negocia��es em 2015. “O que d� para dizer � que estamos em um cen�rio mais dif�cil para negocia��es”, refor�ou.
CRISE COMO ALIMENTO O advogado Mauro Scheer Lu�s, especialista em direito empresarial e s�cio do escrit�rio Scheer & Advogados Associados, acredita que as pr�ximas negocia��es tendem a ser as mais dif�ceis das �ltimas duas d�cadas. Para ele, podem ocorrer in�meras greves. O bacharel destaca ainda que os p�fios resultados na economia s�o alimentados pela crise pol�tica.
“A estrat�gia nas negocia��es, que n�o ser�o nada f�ceis, � a principal arma das empresas para minimizar os preju�zos. Por isso, a mat�ria-prima do processo negociador � a informa��o, que precisa ser interpretada, analisada e transformada em comunica��o expressiva para mobilizar argumentos concretos que conven�am os representantes das partes. A flexibilidade dos negociadores � fundamental”, disse o advogado.
“As negocia��es mais dif�ceis s�o durante as crises, porque os sindicatos dos trabalhadores t�m muito a pedir e os patronais t�m pouco a dar. Este � um ano muito mais dif�cil para negocia��o salarial. A tend�ncia � que muitos sindicatos patronais digam que n�o podem sequer entrar na quest�o do INPC. Lamentavelmente, � ruim para o pa�s, mas em 2015 aumentar� o n�mero de categorias de empregados que n�o v�o conseguir receber o INPC. Acredito que o aumento real m�dio n�o chegue a 1%”, prev� Osmani Teixeira de Abreu, presidente do Conselho de Rela��es de Trabalho da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Experiente no assunto, a primeira negocia��o da qual participou foi em 1977, quando era diretor da Fiat. “Havia tr�s cl�usulas. A primeira dizia que a data-base era em outubro. A segunda informava que o aumento (salarial) era baseado no �ndice fixado pelo governo (naquela �poca, o governo fixava o �ndice e empregados e patr�es discutiam o assunto em conven��o). E a terceira destacava que os problemas seriam dirimidos pela Justi�a do Trabalho. Hoje, h� 98 condi��es na conven��o coletiva. De tr�s para 98. Isso significa que, ao longo do tempo, negociamos muito”, completou Osmani.
O presidente do Sindicato dos Metal�rgicos de Betim e Regi�o, Jo�o Alves de Almeida, tamb�m lamenta a situa��o econ�mica do pa�s, mas destaca que a categoria vai trabalhar para manter as conquistas e conseguir aumento real. “N�o esperamos facilidade nas negocia��es diante desse cen�rio, com ajuste fiscal e juro alto. Mas estamos trabalhando no sentido de sempre manter nossas conquistas. Desde o governo Lula, estamos tendo aumento real. No ano passado, foi de 0,38%. Vamos trabalhar para obtermos o ganho acima da infla��o. Os trabalhadores, de modo geral, est�o sendo bombardeados de informa��es, e � o momento em que as empresas se aproveitam para tentar tirar algum aproveito.”