Considerado a salva��o e o futuro do Brasil pelo ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, o pr�-sal entrou na mira dos desinvestimentos para aliviar o caixa da Petrobras e alguns campos da promissora camada poder�o ser vendidos. Apesar de o presidente da estatal, Aldemir Bendine, ter negado que venderia ativos em produ��o do pr�-sal durante o an�ncio do balan�o cont�bil de 2014, na quarta-feira � noite, ontem a diretora de Explora��o e Produ��o da companhia, Solange Guedes, afirmou que a empresa vai avaliar a possibilidade de se desfazer de projetos em in�cio de explora��o, que demandar�o investimentos crescentes.
“Estamos avaliando desinvestimento sim, para buscar agregar valor”, disse a executiva, em teleconfer�ncia com analistas. A Petrobras anunciou um plano de vendas de ativos de US$ 13 bilh�es entre 2015 e 2016 e vai reduzir os aportes anuais de forma gradativa. A previs�o da companhia � investir US$ 29 bilh�es neste ano e US$ 25 bilh�es em 2016, enquanto, em 2014, o investimento somou US$ 35 bilh�es. Solange destacou que a Petrobras est� focando a carteira explorat�ria em ativos de baixo risco e que “vai postergar projetos de baixo retorno ou que demandem investimento inicial prolongado”.
Na avalia��o de Oliveira, seria fundamental a Petrobras vender t�rmicas e projetos da �rea de energia el�trica, al�m de pequenos campos que mant�m em terra. “No caso do pr�-sal, a sa�da � procurar s�cios. Isso daria um f�lego para a empresa. Ou o governo sinaliza a possibilidade de a estatal n�o mais entrar em todos os blocos do pr�-sal com participa��o obrigat�ria de 30%”, destacou o especialista.
O professor tamb�m considera importante a companhia recuperar a credibilidade entre funcion�rios, com auditorias para verificar quais empregados est�o de fato sob suspeitas e eliminar a desconfian�a interna, e definir a diretoria. “A atual � tempor�ria. A nova diretoria deve ser livre de indica��es pol�ticas, sem v�nculo com o governo, para recuperar a confian�a dos investidores”, disse.


Rea��o do mercado Ontem, o mercado ainda n�o havia demonstrado tanta confian�a na Petrobras, apesar de as a��es ordin�rias da companhia terem ajudado a Bolsa de Valores de S�o Paulo (BMF&Bovespa) a fechar na maior alta desde 21 de novembro do ano passado, com o Ibovespa subindo 1,95% a 55.684 pontos. As a��es da petroleira tiveram grande volatilidade, abrindo em queda – chegaram a cair 10% – e oscilando bastante, com descolamento entre os pap�is ordin�rios e preferenciais. No fechamento do dia, as ON tiveram alta de 5,63%, cotadas a R$ 14,06 e as PN registraram queda de 1,52%, precificadas em R$ 12,92.
Segundo os especialistas de mercado, as ON t�m direito a voto, enquanto as PN d�o prefer�ncia ao recebimento de dividendos. Ontem, depois da decis�o da Petrobras de n�o pagar os dividendos, os pap�is ordin�rios voltaram a ter maior procura, enquanto os preferenciais tiveram queda. Outro fator que explica o descolamento � que os ON s�o mais negociadas por estrangeiros. A alta maior significa a entrada de investidores internacionais no ativo.
Depois do an�ncio do balan�o, o Bank of America Merril Lynch recomendou a compra para os ADR (American Depositary REceipts), recibos de a��es negociadas na Bolsa de Nova York, que subiram 5,26% ontem. A institui��o acredita que os problemas da companhia ainda n�o acabaram mas o caminho dos pap�is parece ser bom, com maior visibilidade em rela��o � nova gest�o. “Continuamos a ver um potencial s�lido de alta”, disseram os analistas em relat�rio.
De acordo com o Banco do Brasil Investimentos (BBI), o total de baixa de quase R$ 51 bilh�es (R$ 6,2 bilh�es de corrup��o e R$ 44,6 bilh�es em devaloriza��o de ativos) deu credibilidade ao balan�o. Contudo, para o analista-chefe do BBI, Wesley Bernab�, o plano de gera��o de caixa � altamente dependente dos desinvestimentos previstos para os pr�ximos dois anos (de US$ 10 bilh�es em 2016 e US$ 3 bilh�es em 2015). “Por outro lado, o comprometimento de definir metas vi�veis, entregar um plano estrat�gico dentro de 30 dias e realizar um passo de cada vez s�o t�o importantes para dar mais transpar�ncia ao mercado e, portanto, mais credibilidade”, disse Bernab�, em relat�rio.
CVM investiga a divulga��o de resultados A Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM) abriu outro processo para analisar o balan�o cont�bil da Petrobras, divulgado na quarta-feira � noite. Agora, a estatal � alvo de 16 procedimentos administrativos desde 2013, nove abertos apenas este ano pelo �rg�o regulador. As investiga��es passam pelos casos de corrup��o da Opera��o Lava-Jato, pol�tica de pre�os da companhia, projetos pol�micos como o Complexo Petroqu�mico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Refinaria Abreu e Lima (PE). Dois deles s�o referentes �s auditorias KPMG e PwC contratadas pela petroleira.
Ontem, a Superintend�ncia de Rela��es com Empresas da CVM instaurou o mais novo processo para avaliar as demonstra��es financeiras anuais auditadas referentes ao ano de 2014. O balan�o do terceiro trimestre de 2014 assinado por auditoria externa foi inclu�do no processo que j� havia sido aberto para analisar os resultados n�o auditados divulgados pela Petrobras na madrugada de 28 de janeiro.
De acordo com a assessoria de imprensa da CVM, � “normal” o �rg�o regulador instaurar processos para avaliar os balan�os das companhias de capital aberto. Contudo, os processos administrativos representam apenas uma primeira fase, quando s�o analisados os dados apresentados pela empresa. Dependendo do resultado, podem ser gerados outros processos, a� sim sancionadores, quando pode ser feita alguma acusa��o por irregularidades encontradas. Neste caso, pode haver puni��es.
Al�m das investiga��es da CVM, a Petrobras � alvo de inqu�ritos na cong�nere norte-americana, Securities and Exchange Commission (SEC) e de uma a��o judicial coletiva de v�rios investidores estrangeiros na corte de Nova York, que est� sendo conduzida pelo fundo de pens�o Universities Superannuation Scheme (USS) — o maior da Gr�-Bretanha – como l�der do processo.
Puni��es Para o especialista em Direito Empresarial, Adelmo Emerenciano, s�cio do escrit�rio Emerenciano, Baggio Associados, a Petrobras adotou um crit�rio muito simpl�rio para apurar as perdas com a corrup��o e se colocou no papel de v�tima para evitar puni��es mais severas nas a��es em que � r�. “A companhia simplesmente colocou os 3% das propinas pagas em cima dos contratos. Isso mostra que n�o apurou nada. Al�m disso, se coloca como v�tima e n�o como protagonista das fraudes na tentativa de evitar puni��es mais severas da SEC”, disse.