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Estado de Minas

Moradores do Vale do Rio Doce vendem tudo para se mudar para a Am�rica


postado em 24/05/2015 06:00 / atualizado em 24/05/2015 08:15

Eneidson Celestino com o filho Igor: em Massachusetts, ele conseguiu comprar uma BMW(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Eneidson Celestino com o filho Igor: em Massachusetts, ele conseguiu comprar uma BMW (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Fernandes Tourinho e Capit�o Andrade
– A economia de Governador Valadares, com cerca de 300 mil habitantes, n�o � a �nica a surfar nas ondas dos valad�lares: a remessa da moeda americana tamb�m garante empregos e renda em dezenas de cidades de pequeno porte do Vale do Rio Doce. A popula��o de muitas delas ficou menor, nas �ltimas semanas, em raz�o da disparada do d�lar no acumulado deste ano.

“Tem muita gente indo para os Estados Unidos”, esclareceu Luiz Henrique Ribeiro da Silva, de 20 anos. Ele pr�prio embarca esta semana para Boston. “Ser� a primeira vez que pisarei nos Estados Unidos. Fiz o acerto no emprego – eu cuidava de gado – e vendi at� o aparelho de telefone celular. Vou trabalhar na marmoraria de um tio”, acrescentou o jovem.

Luiz n�o domina o idioma de Barack Obama, mas avalia que isso n�o ser� entrave ao seu crescimento profissional. “Na hora do aperto, a gente aprende a falar tudo. Tenho vontade de crescer na vida, de ser dono do meu pr�prio neg�cio”, justifica o rapaz, que j� se despediu de muitos amigos e parentes de Fernandes Tourinho, uma pacata cidade cercada por montanhas e com aproximadamente 3,2 mil moradores.

� dif�cil encontrar no lugarejo uma fam�lia em que pelo menos um parente n�o more ou tenha ido aos Estados Unidos para juntar boa grana e retornar � terra natal para investir na economia local.

Leandro Vilas Novas se despede do amigo Luiz Henrique, que já acertou até emprego nos EUA(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Leandro Vilas Novas se despede do amigo Luiz Henrique, que j� acertou at� emprego nos EUA (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
“Na d�cada de 1990, fizemos um levantamento nas casas da �rea urbana – cerca de 800 resid�ncias – e constatamos que todas tinham pelo menos um familiar nos Estados Unidos”, disse o funcion�rio p�blico F�bio Luiz Ramos, que mora na mesma rua que Eneidson Jos� Celestino, de 36.

O vizinho do servidor p�blico morou nos Estados Unidos de 2004 a 2008, quando ocorreu a chamada bolha imobili�ria americana. O rapaz planeja retornar a Massachusetts, diante da disparada do d�lar, mas tamb�m em raz�o do aumento do custo de vida no Brasil. “Conseguia tirar, como ajudante em cozinhas de restaurantes, US$ 4 mil (R$ 12 mil) por m�s. Aqui, como servente de pedreiro, ganho mais ou menos R$ 1,5 mil (US$ 500)”.

PESO DOS TRIBUTOS

No per�odo em que esteve por l�, Eneidson comprou uma BMW. “Paguei US$ 50 mil. Aqui ela vale muito mais, por causa dos impostos.” A carga tribut�ria no Brasil � de tirar o f�lego, como mostra um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tribut�rio (IBPT): a soma de todos os tributos no pa�s correspondeu, em 2014, a 35,42% do Produto Interno Bruto (PIB), que � a soma das riquezas da na��o. Nos Estados Unidos, esse percentual � de 24,3%.

Geraldo Rosa e sua mãe, Iris, ainda vivem em casa construída no modelo norte-americano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Geraldo Rosa e sua m�e, Iris, ainda vivem em casa constru�da no modelo norte-americano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
“L�, h� melhor seguran�a, melhor educa��o, melhor sa�de”, acrescentou o rapaz. O retorno do imposto que a popula��o honra com o poder p�blico tamb�m foi medido pelo IBPT por meio de um indicador batizado de �ndice de Retorno de Bem-estar � Sociedade (Irbes), que compara a rela��o carga tribut�ria e PIB com o �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). O levantamento foi feito com indicadores de 30 pa�ses. Nas cinco edi��es, o Brasil ficou em �ltimo lugar. Os Estados Unidos, na mais recente, aparece na lideran�a.

“A carga tribut�ria no Brasil � um absurdo. A cada venda de R$ 150 que fa�o em gasolina, o cliente paga R$ 60 em impostos”, lamentou Gilson Souza, de 42, morador de Capit�o Andrade, com cerca de 5 mil habitantes. Ele passou 12 anos nos Estados Unidos, aonde, conta, foi “com uma m�o na frente e outra atr�s”. “Fui como carpinteiro e consegui minha pr�pria empresa.” No retorno ao Brasil, aplicou o que ganhou em terras, numa lanchonete e num posto de combust�vel.

Nesse �ltimo, emprega tr�s colaboradores. O aumento do custo de vida no pa�s refletiu em seus neg�cios: “A venda do diesel, por exemplo, caiu em torno de 40% comparando os cinco primeiros meses deste ano e o mesmo per�odo de 2014.” O diesel, por ser combust�vel usado principalmente em caminh�es, � uma esp�cie de term�metro da economia nacional.

Gilson, como v�rios moradores do Vale do Rio Doce que j� moraram nos Estados Unidos, planeja retornar � Am�rica.

D�lar alto atrai bico

Capit�o Andrade – A alta do d�lar favorece a renda de quem pensa em passear e fazer bicos nos Estados Unidos, como dona Francisca Pereira, de 67 anos e que recebe um sal�rio m�nimo de aposentadoria. “Vou vender salgados. Acredito que v� ganhar tr�s vezes mais l�.”

Ela est� com viagem marcada para junho para a Fl�rida, onde visitar� parentes. Francisca j� morou em Boston, onde foi cozinheira: “Recebia US$ 600 por semana em 2012”.

A economia que fez na terra do Tio Sam lhe possibilitou construir a casa em que mora hoje, no Centro do pacato lugarejo, onde Gilmar Sxarabelli, de 37, tem um posto de combust�veis. Ele embarcou para Nova Jersey h� dois meses.

O empres�rio morou 11 anos nos Estados Unidos e retornou em 2009, no auge da crise econ�mica mundial. Depois de ganhar a vida como carpinteiro e na limpeza de resid�ncias, investiu os d�lares no empreendimento. A alta do d�lar o atraiu novamente para l�.

“A moeda americana est� muito valorizada em rela��o ao real. � uma boa oportunidade para ele fazer um bom investimento aqui”, concluiu dona Edmara, esposa de Gilmar. “O que fica � a saudade minha e do nosso filho”, pondera a mulher, respons�vel pelo posto de combust�veis na aus�ncia do marido.

Heran�a dos gringos

Governador Valadares – Parte da arquitetura da maior cidade do Vale do Rio Doce era bem diferente da de hoje na d�cada de 1940, quando engenheiros americanos foram a Governador Valadares para trabalhar na expans�o da estrada de ferro Vit�ria–Minas. No bairro conhecido como Acampamento da Vale, havia dezenas de casas de madeira, constru�das de acordo com a arquitetura daquele pa�s.

O tempo passou e muitas foram jogadas ao ch�o. Deram lugar a resid�ncias mais modernas e pr�dios. Tr�s delas, por�m, resistem ao tempo na Rua Tenente Coronel Francisco Rodrigues. � l� que moram o m�dico Geraldo Vieira Rosa, de 65 anos, e sua m�e, dona Iris, de 88.

“Havia mais de 20 casas nesta rua com o mesmo estilo”, lamenta o homem enquanto mostra uma fotografia antiga. O pai dele trabalhou na empresa ferrovi�ria. A fama dos valad�lares tamb�m atraiu uma das irm�s do m�dico, que mora nos Estados Unidos h� duas d�cadas.


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