
O trabalho incessante nas reservas minerais de Minas Gerais, a despeito de pre�os que desabaram no mercado internacional e da grande repercuss�o do desastre provocado em Mariana pelo rompimento da Barragem do Fund�o, da Samarco, joga por terra o consenso de que min�rio n�o d� duas safras. A frase c�lebre, ainda propagada, foi cunhada nos anos 20 pelo ent�o presidente Artur Bernardes (1922-1926), mas o avan�o da minera��o no estado mostra que ele estava enganado. Em Minas, a explora��o do min�rio de ferro n�o s� est� na terceira safra em �reas de Itabira, ber�o das opera��es da multinacional brasileira Vale, como lidera um grupo restrito de atividades respons�veis por quase dois ter�os do valor que toda a produ��o industrial agrega no estado.
Esse carro-chefe que faz girar a ind�stria e, com ela, a economia em Minas � conduzido pela minera��o, junto �s usinas metal�rgicas e os fabricantes de ve�culos automotores e de alimentos. A concentra��o da produ��o de Minas nas m�os desses quatros setores n�o encontra paralelo nos principais estados, representando 63,5% do chamado Valor da Transforma��o Industrial (VTI) mineiro, revela estudo feito pela Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg) - veja o quadro.
Na m�dia do Brasil, os principais segmentos da ind�stria concentram 54,7% das opera��es da ind�stria, que tem influ�ncia direta na produ��o de bens e servi�os, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). Dos estados selecionados para o levantamento dos dados, o estado que mais se aproxima do caso de Minas � o Rio de Janeiro, onde os quatros principais setores concentram 62,4% do valor gerado pela ind�stria. No extremo oposto, est�o Santa Catarina e S�o Paulo, com �ndices de concentra��o de 45,4% e 47,2%, respectivamente.
Os n�meros resultaram do cruzamento das estat�sticas mais recentes dispon�veis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) e do Minist�rio do Trabalho e Previd�ncia Social entre 2007 e 2013. Mostram que a concentra��o da produ��o aumentou em Minas nesse per�odo, segundo o gerente do Departamento de Economia da Fiemg, Guilherme Veloso Le�o. “Minas mant�m uma concentra��o industrial superior � m�dia dos estados analisados. Se esse fen�meno propicia risco maior para a economia, por outro lado pode significar mais especialidade e capacidade de ser competitiva”, afirma.
Os riscos preocupam o governo estadual, segundo o secret�rio de estado de Desenvolvimento Econ�mico, Altamir de Ara�jo R�so Filho, e n�o � por pouco. Pelas proje��es da equipe da pasta, sem a minera��o e a metalurgia, Minas perderia o posto de terceira economia que mais recebe investimentos no Brasil, descendo ao 14º lugar do ranking dos estados que mais atraem investidores. A palavra de ordem colocada nos planos para estimular o desenvolvimento econ�mico � diversifica��o, algo que v�rios outras administra��es apresentaram como prioridade, sem sucesso , tendo em vista a concentra��o identificada no estudo da Fiemg.
“Esse acidente (o rompimento da barragem da Samarco em Mariana) mostra toda a nossa fragilidade. A ind�stria da minera��o, em geral, ser� impactada com revis�o de processos”, afirma o secret�rio Altamir R�so. O planejamento no qual ele trabalha, pela proposta do governador Fernando Pimentel, cria 17 regi�es em Minas com potencial de desenvolvimento econ�mico, que est� sendo avaliado para compor uma pol�tica estadual de incentivos. O programa dever� estar pronto em junho.
FOCO NA DIVERSIFICA��O Como era de se esperar, a localiza��o do estado e as largas malhas rodovi�ria e ferrovi�ria de Minas ter�o de ser aproveitadas, de acordo com Altamir R�so, para viabilizar as ideias em estudo. “Teremos um grande trabalho para atacar que implica muito investimento em inova��o e tecnologia”, diz o secret�rio de Desenvolvimento. Guilherme Le�o, da Fiemg, defende que qualquer programa para induzir a diversifica��o da produ��o mineira seja orientado na dire��o dos quatros principais setores que atuam no estado.
Significa dizer que o est�mulo governamental deveria mirar, por exemplo, servi�os de engenharia, fornecimento e produ��o de m�quinas para minera��o, siderurgia e a ind�stria de alimentos, al�m de uma cadeia de neg�cios capitaneados pela ind�stria automotiva indo al�m da fabrica��o de autope�as, segmento j� importante para a ind�stria no estado. “As grandes empresas de minera��o, alimentos e metalurgia est�o aqui. N�o seria melhor trabalhar em �reas alinhadas a elas do que querer ser forte em outros setores?”, indaga Guilherme Le�o. H� que se considerar, como observa o economista da Fiemg, o avan�o de segmentos novos em termos de crescimento da produ��o, como o farmac�utico, eletroeletr�nico, ferrovi�rio e de tecnolgia da informa��o, apesar da participa��o modesta em rela��o �s ind�strias tradicionais.
Li��es da trag�dia
O Brasil tem muito a aprender com o vazamento dos rejeitos de min�rio de ferro da Samarco em Mariana, e uma das primeiras li��es � a necessidade de desenvolver tecnologia para o aproveitamento de todo o material retirado das rochas pelas empresas, alerta Jos� Mendo Mizael de Souza, consultor em minera��o e presidente da Comiss�o de Minera��o e Metalurgia da Associa��o Comercial e Empresarial de Minas Gerais (AC Minas). “Minas tem de se reconciliar com suas montanhas. Cada vez mais a evolu��o da sociedade exige isso”, afirma. Para Mendo Mizael, a trag�dia refor�a que se precisa de uma a��o conjunta das empresas, universidades e centros de pesquisa, al�m do estado como indutor de investimentos, pela cria��o de mercado de consumo de material � base dos rejeitos da minera��o.