S�o Paulo - Para Ant�nio Bernardo, presidente da consultoria Roland Berger para o Brasil, a crise que o pa�s atravessa n�o tirou o apetite dos investidores estrangeiros. O que falta, segundo ele, � que o governo estruture uma estrat�gia de longo prazo para atrair esses investidores, j� que h� uma predisposi��o em buscar retornos melhores para o capital.
Em rela��o � perspectiva para 2016, sob o ponto de vista de crescimento, ele avaliou que o cen�rio vai continuar a ser negativo. "Estamos em linha com as m�dias da previs�es que indicam uma queda entre 2,5% e 3% para o PIB. Mas eu vou um pouco contra a corrente. Acredito que tudo vai depender das medidas que forem tomadas pelo governo", afirmou. "Quando falo com investidores internacionais, que t�m uma vis�o mais de m�dio prazo, vejo que eles pensam como eu. O pa�s precisa de uma estrat�gia de longo prazo, para os pr�ximos dez anos, por exemplo. Isso � importante at� para que os pr�prios participantes dos mercado, as empresas de engenharia e os investidores possam se organizar."
De acordo com Bernardo, para que essa estrat�gia de governo de longo prazo ocorresse, seria importante que fossem encontrados alguns consensos. "N�o seria preciso ir nos detalhes, mas chegar � defini��o grandes consensos, temas transversais, para os diversos partidos pol�ticos. Quem fez isso muito bem e deveria ser uma refer�ncia foi a Alemanha", lembrou. "Quando o pa�s esteve pr�ximo de uma crise, os dois partidos advers�rios se uniram, o PSD e o CDU (o Partido Social Democrata e a Uni�o Democrata Crist�, da primeira ministra Angela Merkel, s�o opositores, mas j� fizeram coaliz�es para garantir a governabilidade do Pa�s). O que prevaleceu entre eles? A percep��o de que eles at� t�m diverg�ncias, mas que nenhuma diverg�ncia pode ficar acima da pol�tica e da economia da Alemanha."
Sobre exemplos de temas transversais, Bernardo citou que a conta p�blica � uma discuss�o para todos. "A necessidade de liberalizar a economia tamb�m. O fluxo comercial, a participa��o do Brasil nas exporta��es globais, � muito pequeno. O fluxo comercial do Brasil equivale a 15% do PIB. No M�xico � 60%. Na Alemanha, 70%", disse.
Para Bernardo, o pa�s s� conseguir� ser mais eficiente na economia e na ind�stria com a abertura comercial. "Hoje, as tarifas de importa��o do Brasil est�o entre as mais pesadas do mundo. Isso nos leva a crer que muito setores n�o s�o eficientes porque n�o est�o abertos � concorr�ncia internacional. O Brasil pode ter um posicionamento importante em muitas das cadeias globais. Mas, para ter esse posicionamento, precisa ser mais competitivo."
Questionado sobre um cen�rio aparente de falta de apetite do setor privado, num momento no qual o setor p�blico, tem restri��es para investir, por causa do ajuste fiscal, Bernardo respondeu n�o acredita nesta falta de apetite. "Eu converso com muitos investidores. Eles t�m apetite. Mas necessitam de um sistema regulat�rio adequado, necessitam de financiamento privado - que eu acho poss�vel neste momento, se for bem estruturado -, necessitam que n�o ocorram derrapagens nos prazos, por quest�es ambientais ou outros problemas que atrasam obras", afirmou. "N�o d� para um projeto atrasar dois, tr�s anos, e os budgets (or�amentos) crescerem 100%, 150%. Mas h� muitos investidores estrangeiros interessados, por exemplo, na �rea de infraestrutura: aeroporto, portos, ferrovias. S� que temos de criar aqui uma base competitiva - nada de favores, mas bases competitivas."
Sobre a vis�o de especialistas em infraestrutura, que dizem que j� n�o � certo que o Brasil possa atrair capital privado com tanta facilidade este ano, o que poderia at� comprometer o programa de concess�es, Bernardo disse que h� "muita liquidez na economia mundial e os yields (taxa de retorno, rendimentos) dos pa�ses desenvolvidos s�o baixos". "O do governo alem�o, para dez anos, d� 0,4%! Os dos t�tulos dos tesouro americano, para dez anos, s�o 2,1%. H� uma predisposi��o dos investidores para assumir mais risco, se puderem ter retornos melhores - desde que as condi��es sejam mais bem organizadas. O Estado precisa atuar mais como um regulador, um grande orientador, e n�o precisa estar onde o setor privado est�."
Perguntado se a crise pol�tica que o governo enfrenta, com uma amea�a de impeachment pairando, afeta o �nimo do investidor, Bernardo avaliou que tudo que gera instabilidade deixa os investidores mais nervosos. "E, dentro disso, diria que h� dois tipos de investidores. Quem tem foco no curto prazo, o investidor financeiro, digamos, foi o primeiro a reduzir posi��es no Brasil, at� como uma rea��o natural � perda de grau de investimento", comentou. "Mas h� os investidores estruturais, que investem em ind�strias, em servi�os, e que miram no m�dio e longo prazos. � nesses que o Brasil precisa focar. E o Brasil precisa tamb�m atrair o investidor ingl�s, franc�s, que reduziram participa��o aqui. O governo precisa ir at� eles, fazer o que chamo de pesca a linha, para atra�-los."
Sobre eventuais medidas que o governo poderia tomar para atrair esses investidores, ele disse que as concess�es s�o uma oportunidade. "Em aeroportos, o governo reviu o papel da Infraero. Agora n�o tem Infraero. Foi um passo importante. Vai fazer diferen�a no leil�o. Na �rea de energia e de rodovias ainda � preciso rever a discuss�o para que os retornos sejam mais compat�veis com os riscos. Isso ainda n�o foi revisto", destacou. "Precisaria tamb�m criar uma equipe de atra��o de investimentos e agir pontualmente - n�o de forma gen�rica - para atrair investidores estrangeiros para cada um dos projetos. O governo tem uma chance nessa �rea porque h� muita liquidez global."
Em rela��o � sa�da de Joaquim Levy e a sua substitui��o por Nelson Barbosa no Minist�rio da Fazenda, Bernardo afirmou que essa discuss�o n�o � muito relevante para o investidor internacional. "� mais para consumo interno. O que far� diferen�a s�o as medidas tomadas pelo novo ministro e a maneira como vai comunicar essas medidas."
Questionado sobre que outros setores, al�m do de infraestrutura, seriam atraentes no Brasil, ele citou a ind�stria. "Hoje, h� um conjunto de ativos industriais com alto potencial, mas que precisam ser reestruturados. Mas, de maneira geral, aqui para n�s, na Roland Berger, � claro que est� se iniciando um grande processo de reestrutura��o de ativos de empresas privadas", salientou. "Em geral, s�o empresas com bons produtos, uma boa carteira de neg�cios, mas que est�o com problemas de caixa, problemas financeiros s�rios, quer seja porque est�o muito endividadas, tiveram atrasos na conclus�o de seus projetos ou porque est�o sentindo a queda na demanda. N�o estou falando das empresas �bvias, que est�o na Lava Jato. S�o outras. E h� muitos investidores olhando essas empresas e pensando no potencial de reestrutura��o. Podem fazer reestrutura��o financeira, estrat�gica ou operacional. A reestrutura��o estrat�gica passa por consolida��o. Um exemplo: no setor automotivo, o potencial � enorme. "
Para Bernardo, na cadeia toda h� oportunidades de consolida��o e reestrutura��o. "Haver� tamb�m a necessidade de reestruturar empresas de bens de consumo, inclusive de produtos aliment�cios. Muitas fizeram grandes investimento, mas a demanda caiu. Acreditamos tamb�m que haver� uma reestrutura��o nas empresas de varejo - e varejo de v�rios tipos. H� muito investidores olhando esses setores", comentou, acrescentando que, em fun��o da crise, haver� um momento de press�o: as empresas ter�o de repensar suas estrat�gias.