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Estado de Minas

Desempregado, cozinheiro distribui curr�culos at� dentro de �nibus

Ele � um dos 9,5 milh�es de pessoas sem ocupa��o no Brasil. Pesquisa divulgada pela Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) mostra que o �ndice que mede o receio de perder o emprego subiu 4,1% em mar�o, na compara��o com dezembro do ano passado


postado em 06/04/2016 06:00 / atualizado em 06/04/2016 07:36

Com 51 anos e constrangido, C.M.R procura trabalho em BH e pede oportunidade a passageiros em ônibus(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Com 51 anos e constrangido, C.M.R procura trabalho em BH e pede oportunidade a passageiros em �nibus (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Constrangido e com a voz embargada, C.M.R, de 51 anos, deseja boa-tarde ao motorista e trocador, e, dentro do �nibus, pede por socorro: “Preciso de um emprego. Para quem puder me ajudar, est� aqui o meu curr�culo”, diz, ao entregar nas m�os de cada passageiro que lhe escuta a sua esperan�a. H� dois meses sem conseguir trabalho nem bico em Belo Horizonte, C.M.R esconde da sua mulher o que faz todos os dias, das 8h �s 17h. “Para ela, estou com alguma ocupa��o. Mas ela nem imagina que estou na rua pedindo emprego”, diz. Sem nenhuma oportunidade em vista, ele volta para casa com uma caixa de leite ou uns trocados, doa��es que ganha por quem se solidariza com a situa��o. “� muito ruim, me sinto humilhado com tudo isso. Mas n�o estou vendo sa�da”, lamenta.


C.M.R trabalhou por 14 anos na empresa automotiva Fiat, em Betim, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. L� foi cozinheiro industrial. Em 2011, foi demitido. Depois conseguiu emprego em restaurantes da cidade, por�m, com a crise econ�mica, C.M.R s� encontra as portas fechadas. “A maioria dos restaurantes onde trabalhei fechou por falta de demanda. Est� praticamente imposs�vel encontrar uma ocupa��o”, reclama. O homem tem uma filha de 5 anos e engrossa o reflexo mais cruel da crise na economia: j� s�o 9,6 milh�es de desempregados no pa�s.


Ciente de que o mercado n�o est� favor�vel, ele levanta todos os dias e vai � Defensoria P�blica imprimir curr�culos, e n�o gasta por isso. Procura uma vaga de cozinheiro em jornal e pelo caminho dispara seu hist�rico profissional por onde passa. Nele, C.M.R escreve, al�m das �ltimas experi�ncias, ser um profissional com capacidade de comunica��o, respons�vel e dedicado. “Quando aparece uma oportunidade, a empresa n�o quer contratar porque moro no Barreiro e s�o necess�rios dois �nibus de ida e dois de volta. Hoje (ontem) mesmo, fui ao Belvedere e perdi a vaga porque o contratante n�o quis pagar quatro passagens”, lamentou, destacando que o sal�rio de um profissional como ele n�o passa de R$ 1,2 mil e que, com a situa��o, tende a diminuir.


Outro empecilho, segundo C.M.R � a idade. “As vagas que aparecem s�o para pessoas de 25 a 35 anos. Ningu�m quer contratar algu�m mais velho.” Outra dificuldade encontrada no mercado por C.M.R � a estrat�gia dos empregadores em ficar com o empregado por 89 dias. “O contrato de experi�ncia � de 90 dias. Eles mandam embora antes para n�o efetivarem o profissional. Voc� chega em um restaurante e o dono j� reclama que o movimento est� fraco e que vai demitir”.

ESCONDIDO A hist�ria de C.M.R j� chegou nas redes sociais, por meio de uma passageira de um �nibus. Ao receber seu curr�culo, a mulher publicou no Facebook o pedido de socorro do cozinheiro. Assustado quando informado pela reportagem que o seu hist�rico profissional estava na rede, C.M.R teve medo da sua mulher descobrir. O problema, segundo ele, � que ele esconde dela essa sua rotina de pedir emprego no transporte p�blico da cidade. Por isso, n�o deixou ser fotografado e nem autorizou a divulga��o do seu nome completo.


Ele conta que a mulher trabalha cuidando de crian�as, mas ganha cerca de R$ 500. Para ela, o marido arranja um bico a cada dia. Por isso, chega em casa com leite e trocados. “Na verdade, sempre que estou pedindo a algu�m um emprego, as pessoas se solidarizam e me d�o dinheiro. Mas n�o quero viver assim, minha mulher vai ficar triste demais. Quero trabalhar”, implora. Ontem, durante a sua passagem por um �nibus na capital, o Estado de Minas acompanhou a abordagem do cozinheiro. “Conhe�o uma pessoa que teve restaurante em BH, mas fechou as portas. Talvez ela, por ser d� �rea, possa ajud�-lo. Por isso, peguei o curr�culo dele”, comentou a passageira e oficial de Justi�a, Simone Am�lia, revelando n�o ser a primeira pessoa a quem vai ajudar a achar um emprego este ano.

 

 Enquanto isso...

..cresce o medo do desemprego

Pesquisa divulgada ontem, pela Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) mostra que o �ndice que mede o receio de perder o emprego subiu 4,1% em mar�o, na compara��o com dezembro do ano passado, e 7,8% ante mar�o de 2015. Este � o pior dado registrado na s�rie hist�rica desde julho de 1999. A CNI usa o resultado m�dio da pesquisa feita em 2003 para estabelecer uma base fixa de 100 pontos. Seguindo esse par�metro, a m�dia hist�rica do medo do desemprego � de 88,7 pontos, mas a deteriora��o do mercado de trabalho no pa�s levou o resultado da pesquisa a 106,5 no m�s passado. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 munic�pios entre os dias 17 e 20 de mar�o.


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