
Diante do custo de vida bem mais alto do que o poder de compra pode alcan�ar, a vida de muitos belo-horizontinos virou uma bola de neve. Sem conseguir elaborar um planejamento financeiro, boa parte dos consumidores de BH n�o tem conseguido pagar suas contas em dia e, cada vez mais, vem recorrendo a empr�stimos. A realidade preocupante principalmente para o com�rcio � retratada na Pesquisa Or�amento Dom�stico, feita neste m�s pela �rea de Estudos Econ�micos da Federa��o do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo de Minas (Fecom�rcio MG), divulgada ontem. De acordo com o estudo, subiu de 0,6% em 2015 para os atuais 42,1% o universo dos entrevistados que est�o endividados ou buscam algum tipo de financiamento para suprir as despesas rotineiras.
Para a analista de pesquisa da entidade, Elisa Castro, o recuo no indicador � resultado, em linhas gerais, da deteriora��o da situa��o financeira das fam�lias. “Os dados mostram que o rendimento mensal n�o est� sendo suficiente para cobrir as despesas b�sicas. Assim, com d�vidas acumuladas e precisando de outros recursos para complementar a renda, fica dif�cil para o consumidor se planejar”, avalia. Por�m, o dado mais preocupante, segundo Elisa, � o endividamento.
A pesquisa come�ou a ser feita em 2013 com frequ�ncia bimestral e agora semestral. Nas avalia��es anteriores, recorda Elisa, o percentual de mais de 40% ficava com aqueles que conseguiam pagar suas contas, n�o entre os endividados. “A situa��o est� virando uma bola de neve”, diz. Disso a auxiliar de servi�os gerais Josimeire de Oliveira, de 27 anos, n�o duvida. Com tr�s filhos, ela espera que, somente no fim do ano, consiga quitar as d�vidas que tem e, quem sabe, ter um planejamento financeiro.
“Cheguei a ficar desempregada neste ano. Eu e meu marido, hoje, ganhamos um sal�rio m�nimo cada um e tenho de pagar a escola dos meus filhos maiores, de 9 e 11 anos, j� que n�o consegui o ensino p�blico para eles”, conta. Ela sonha em ter a casa pr�pria e uma carteira de habilita��o. Para economizar, decidiu abandonar o cart�o de cr�dito e no ano que vem pretende mandar os filhos para a casa da av� no interior de Minas Gerais.
RESERVA FINANCEIRA O dinheiro de pl�stico, ali�s, � a dor de cabe�a de muita gente. A pesquisa da Fecom�rcio MG mostrou que os principais compromissos do or�amento s�o: 57,8% para o cart�o de cr�dito; 11,6%, cart�es de loja; e 4,5% com d�vidas contra�das junto a terceiros e fam�lia. A reserva financeira ficou para segundo plano. “Nas pesquisas anteriores, o principal destino do dinheiro que sobrava, ap�s o pagamento dos compromissos correntes, era a poupan�a. Agora, ele vai para o lazer”, comenta Elisa. Em junho deste ano, 27,6% dos entrevistados usam as economias para essa finalidade, ante 26,1% que optaram pelo investimento. Em seguida, est�o gastos com turismo (12,35) e compras/consumo (11,1%).
A fam�lia do analista Vanderli Jacinto Santos, de 42 anos, entra nessa estat�stica. Sem d�vidas, mas sentindo o or�amento apertado, ele conseguiu comprar um pacote de viagens para Macei� (AL) para passar as f�rias com a esposa. “Tudo ficou caro demais, mas para viajar, fizemos quest�o de juntar uma quantia e pagar por esse lazer. Dividimos o valor e vamos embarcar em julho”, conta, dizendo que o �nico financiamento que teve foi de um carro, mas as parcelas est�o prestes a ser quitadas.
A m�e de Vanderli, Jaci Pinto dos Santos, de 74 anos, que considera estar no controle das finan�as, teve que optar por um tratamento de sa�de e adiar a viagem para Caldas Novas. A pesquisa da Fecom�rcio MG tamb�m revelou que o grupo de produtos mais adquirido na capital mineira � o de g�neros aliment�cios (67,6%). No entanto, o maior peso no or�amento � dado pela energia el�trica, indicada por 50,3% das fam�lias. Aparecem, ainda, a conta de �gua (37,7%) e a alimenta��o (25,1%).