Impulsionado por consumidores cada vez mais preocupados com a origem do produto e na esteira do crescimento dos produtos artesanais, o fen�meno mundialmente conhecido como terceira onda do caf� chegou de vez a Belo Horizonte. A abertura nos �ltimos meses de cafeterias especializadas em extrair o melhor do gr�o mostra que a busca por caf�s especiais se firma como tend�ncia de mercado e com enorme potencial a ser explorado, uma vez que pouco mais de uma dezena de casas na capital mineira oferecem ao cliente informa��es desde a origem do gr�o � escolha do m�todo de preparo – do tradicional cafezinho de coador � extra��o mais sofisticadas, como aeropress, chemex e prensa francesa.
A Noete se junta a casas pioneiras como Caf� Kahlua, no Centro; Academia do Caf�, que abriu em 2011 como escola e laborat�rio e se tornou refer�ncia no pa�s; e a novos endere�os como Oop e Intelligenza, que abriram neste segundo semestre, na Savassi.
Segundo os s�cios Guilherme e Daniel Cabral, o n�mero de assinaturas da Noete triplicou em um ano. S�o planos que variam de R$ 31,90 (250g de caf�, em gr�os ou mo�dos) a R$ 49,90 (500g). Os n�meros e o comportamento dos consumidores – a maioria homens, de 20 a 40 anos –, confirmam a tend�ncia. “Al�m de o n�mero crescer, o assinante foi evoluindo. Quem assinava 250g migrou para 500g e, em vez de mo�do, hoje pede em gr�os, pois j� se acostumou a moer em casa, diversificou os m�todos”, comenta Daniel.
ETAPAS
O per�odo � um avan�o em rela��o � primeira onda – quando houve aumento do consumo em decorr�ncia da moderniza��o do processamento e comercializa��o, p�s-Segunda Guerra –, e da segunda onda –, quando foi introduzido o conceito de caf�s especiais, com a populariza��o do caf� expresso e o surgimento de redes como Starbucks, a partir dos anos 1960.
“Nos �ltimos tr�s, quatro anos, esta tend�ncia de mercado se fortaleceu, muito impulsionada por jovens, seja no consumo, seja no interesse em se envolver com este universo: torrando e moendo os pr�prios gr�os, frequentando casas especializadas”, afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associa��o Brasileira da Ind�stria de Caf� (Abic). Nathan ressalta ainda o potencial do consume do caf� em casa. “O segmento de c�psulas vem crescendo exponencialmente, com previs�o de crescer 18% nos pr�ximos anos. Tudo isso faz parte da busca por novas experi�ncias.”
OPORTUNIDADE
Al�m da Noete, outras duas casas foram abertas neste segundo semestre dedicadas exclusivamente aos caf�s especiais: a Intelligenza e a Oop, mbas na Savassi. A Oop come�ou h� quatro meses pelos s�cios Tiago Damasceno e Adriene Cobra, que se conheceram no mercado financeiro. “Fizemos pesquisa de mercado. Estivemos em S�o Paulo, onde o mercado � mais maduro, percebemos que Belo Horizonte tinha grande potencial e a abertura dessas casas aconteceria inevitavelmente, uma vez que � um movimento mundial”, conta Tiago.

Tiago, paraense, e Adriene, de fam�lia de cafeicultores de Alfenas, no Sul de Minas, apostaram em uma casa moderna, com um longo balc�o para conversar com os clientes. “Nossa miss�o � formar p�blico. Gostamos de conversar, mostrar o processo, desmistificar o caf�. Muita gente tem medo por causa do nome 'especial', pensa logo ser muito mais caro, mas muitas vezes o pre�o � um pouco mais alto que o convencional”, conta Adriene.
PALADAR APRIMORADO
Educar o p�blico continua sendo o grande desafio para as cafeterias que est�o apostando suas fichas em oferecer toda a diversidade que o caf� oferece. Os desafios di�rios v�o desde convencer o usu�rio a aposentar o a��car at� explicar que o m�todo de preparo vai muito al�m do coador de pano que todo mundo se acostumou desde crian�a.
“No in�cio a gente sofria demais, teve gente que falava que n�o tomaria aquela ‘�gua de batata’. A gente ia explicar os m�todos e as pessoas ficavam desconfiadas”, conta J�lia Fortini, diretora comercial da Academia do Caf�, refer�ncia em Belo Horizonte na forma��o de baristas (desde 2011) e em oferecer caf�s especiais ao cliente. “Hoje j� est� mudando, nos procuram curiosas, porque sabem que aqui tem diversos caf�s. Tamb�m h� uma mudan�a na cultura do consumo, com as pessoas mais preocupadas em saber de onde vem o produto, gostam de saber quem � o produtor. A cerveja ajudou muito na forma��o deste p�blico”, conta Ivan Totti Heyden,diretor de qualidade da casa.
TREINAMENTO

A Academia funciona em uma casa aconchegante na Rua Gr�o Par�, no Funcion�rios, aberta em 2013 por Bruno Souza, da quarta gera��o de uma fam�lia produtora do Cerrado Mineiro. Praticamente todos os baristas ou empreendedores que se envolveram com o universo do caf� nos �ltimos anos passaram pela Academia, em cursos que v�o de workshop de extra��o (R$ 380) para o p�blico em geral a cursos de torra (R$ 3.500) e de barista (R$ 950), com certifica��o da Associa��o de Caf�s Especiais da Europa (SCAE).
J�lia e Ivan ainda destacam a uni�o entre os baristas e cafeterias. “Como caf� especial ainda � mundo muito pequeno, a gente tende a se unir para expandir o mercado no Brasil”, conta J�lia. “Quem busca caf� especial em um lugar, busca em outros. A gente se indica. Quanto mais gente oferecendo, melhor para o produtor, melhor para as cafeterias, melhor para o consumidor”, conta Ivan.