Genebra - Deputados europeus pressionam a Comiss�o Europeia para que freie as negocia��es com o Mercosul diante da fraude na carne brasileira, enquanto autoridades veterin�rias de Bruxelas criticam de forma dura a gest�o do governo de Michel Temer em rela��o � crise e fazem at� novas amea�as.
"Se o Brasil n�o nos der garantias e se vermos que o problema � sist�mico, haver� consequ�ncia", disse Michael Scannell, chefe do escrit�rio de Veterin�ria da Comiss�o Europeia. Segundo ele, Bruxelas pediu que todos os governos do bloco elevassem os controles sobre alimentos de origem animal importados do Brasil. "Pedimos maiores controles f�sicos e a inclus�o de controles de higiene", disse, indicando que um primeiro resultado desse esfor�o ser� conhecido na sexta-feira.
A pedido da Europa, o Brasil suspendeu as exporta��es de quatro estabelecimentos envolvidos na Opera��o Carne Fraca. Mas, durante a reuni�o em Bruxelas, Scannell admitiu que, no passado, "fez auditorias no Brasil e encontrou problemas". "No setor de carnes, continuamente temos alertado sobre problemas ao longo de anos", disse.
No setor bovino, apenas "um n�mero pequeno de estabelecimentos" pode exportar hoje. No caso da carne su�na, o chefe dos veterin�rios insiste que o Brasil "fracassou nas auditorias" e nenhum grama de carne entra. Mesmo entre as empresas brasileiras autorizadas a exportar, a UE confirmou que registrou ao longo dos anos 47 casos de irregularidades.
"Insistimos que temos preocupa��es de que tal grau de corrup��o dentro dos estabelecimentos e das ag�ncias de controle n�o tenha sido de conhecimento das autoridades", disse. Esper�vamos, francamente, que esses problemas tivessem sido detectados e que algo s�rio estivesse ocorrendo, sem ter de esperar pela pol�cia", afirmou Scannell.
Tradicionalmente contr�rios a um acordo com o Mercosul, o lobby agr�cola no Parlamento Europeu aproveitou a crise para deixar claro que n�o quer um acordo com o Brasil. "Temos um problema muito grave no Brasil", declarou o eurodeputado e ex-ativista franc�s Jos� Bov�. "Se a fraude ocorreu em quatro estabelecimentos, tem uma falha de um sistema global de controle de fraude", disse. "N�o s�o apenas as quatro empresas que est�o em quest�o. � o Brasil que est� em xeque", atacou.
Bov� pediu formalmente para que a Europa reveja todo o sistema de avalia��o das condi��es de exporta��o do Brasil. "Todo o sistema � que est� sendo questionado. Podemos levar um ou dois anos para restabelecer. Mas como � que podemos negociar com um parceiro quando vemos que ele est� colocando a m�o no bolso?", atacou.
"N�o podemos fazer concess�es a quem tentou enganar", disse o deputado Eric Andrieu. "Temos de ser cautelosos com acordos. Quando � que v�o anunciar o fim das negocia��es?", questionou o tamb�m deputado Philippe Loiseau. "Depois do que descobrimos, por que ainda estamos negociando um acordo com eles?", criticou o deputado Luke Flanagan.
Para o eurodeputado John Agnew, existe "uma cultura da propina no Brasil". "Se vamos continuar a importar do Brasil, a �nica forma � enviar nossos inspetores l�", defendeu. "Onde existe uma suspeita sobre um produto, existe sobre todos", disse a deputada Mairead McGuinness.
Paolo De Castro, deputado italiano, qualificou o caso como um "esc�ndalo muito s�rio" e exigiu que os padr�es europeus sejam impostos ao Brasil se o pa�s quer vender para o mercado europeu. "� um esc�ndalo grave que desestabiliza o consumidor", disse o deputado Michel Dantin. "Os autores precisam ser condenados na Europa como no Brasil", disse.
Cr�ticas
Ao explicar aos deputados o que ocorria no Brasil, os negociadores abandonaram a diplomacia. "Ficamos sabendo pela imprensa", lamentou Scannell. "Deixamos claro para o Brasil que era inaceit�vel que tiv�ssemos tido conhecimento do esc�ndalo pela imprensa e que n�o tivemos contatos oficiais", afirmou.
De acordo com ele, uma primeira comunica��o de Bruxelas foi enviada ao governo ainda na sexta-feira, pedindo esclarecimentos e exigindo "medidas decisivas". Nos dias que se seguiram, houve um "contato diplom�tico intenso" com o Brasil e at� um encontro de Temer com embaixadores.
"Na segunda-feira, examinamos a resposta do Brasil a nossas preocupa��es iniciais e o encontro com o presidente. N�o ficamos felizes com as respostas e escrevemos imediatamente pedindo mais informa��es", explicou Scannell. "Nossa preocupa��o mais imediata era sobre os estabelecimentos implicados", disse. "Insistimos para que as autoridades brasileiras retirassem da lista de exportadores esses estabelecimentos imediatamente", contou.
Desde segunda-feira, negociadores sul-americanos e europeus est�o reunidos na Argentina para debater como garantir um acordo entre os dois blocos at� o final do ano. Fontes europeias em Buenos Aires confirmaram � Ag�ncia Estado por telefone que, apesar do esc�ndalo e da suspens�o da carne por parte de Bruxelas, o ritmo das negocia��es n�o foi alterado. No come�o da semana, o porta-voz da Comiss�o Europeia para com�rcio, Daniel Ros�rio, garantiu que o caso da carne n�o afetaria as negocia��es com o Mercosul.