Descuido, falta de equipamentos de seguran�a e at� exaust�o provocam 700 mil acidentes de trabalho por ano em todo o pa�s. Dados levantados pela Previd�ncia Social e pelo Minist�rio do Trabalho revelam a seriedade do problema, que atinge trabalhadores de v�rias profiss�es. O Brasil � a quarta na��o do mundo que mais registra acidentes durante atividades laborais, atr�s apenas da China, �ndia e Indon�sia. Desde 2012, a economia j� sofreu um impacto de R$ 22 bilh�es, por conta de pessoas afastadas de suas fun��es ap�s sofrerem ferimentos durante o trabalho. Se fossem inclu�dos os casos de acidentes em ocupa��es informais, esse n�mero poderia chegar a R$ 40 bilh�es.
Por lei, as empresas s�o obrigadas a garantir a seguran�a de seus funcion�rios. Mas cabe tamb�m ao trabalhador informar a aus�ncia de equipamentos adequados e situa��es perigosas. Os dados do governo levam em considera��o a Classifica��o Brasileira de Ocupa��es (CBO), que divide as profiss�es em �reas de atua��o. Portanto, n�o existe uma classifica��o espec�fica para cada categoria profissional. Em 1966, o governo criou a Fundacentro, entidade ligada ao Minist�rio do Trabalho que tem como finalidade o estudo e pesquisa das condi��es dos ambientes de trabalho.
O gerente de Coordena��o de Seguran�a no Processo de Trabalho da Fundacentro, Jos� Dam�sio de Aquino, destaca que os n�meros de acidentes laborais no Brasil s�o muito elevados. “O quadro � grave, pois, nos �ltimos anos, a quantidade de acidentes tem se mantido pr�xima de 700 mil por ano. � poss�vel identificar queda de 2014 para 2015. Por�m, a varia��o em apenas um ano � pouco para considerarmos que � uma tend�ncia geral e que permanecer� pelos pr�ximos anos”, explica.
O especialista ressalta que a situa��o pode se agrava por conta do n�mero de trabalhadores que n�o s�o registrados. “� importante frisar que os dados sobre acidentes de trabalho, disponibilizados pela Previd�ncia Social, cobrem apenas os segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que representam cerca de 70% da Popula��o Economicamente Ativa (PEA). Assim, podemos considerar que h� uma subnotifica��o nos acidentes, pois muitos trabalhadores, especialmente os informais, n�o entram nas estat�sticas”, completa o pesquisador.
As �reas nas quais ocorrem mais acidentes s�o a constru��o civil e o setor de servi�os. Na constru��o, o �ltimo dado sobre �bitos � de 2009, quando 395 trabalhadores morreram em servi�o. Mas o n�mero pode ser maior, j� que, em muitos casos, a certid�o de �bito n�o cont�m a causa exata da morte, nem o local onde ocorreu. J� entre o setor de servi�os, as maiores v�timas de acidentes fatais ou incapacitantes s�o os motoristas profissionais, com destaque para condutores de caminh�es e carretas. De acordo com dados do Sistema de Informa��es sobre Mortalidade do Minist�rio da Sa�de, desde 2010, ocorrem, em m�dia, 15 mil acidentes envolvendo motoristas do transporte de cargas, com 1,5 mil mortes por ano.
Para n�o integrar essa estat�stica macabra, o caminhoneiro Clovis Alves, de 42 anos, desistiu de viajar pelas estradas brasileiras. O trabalhador optou por rodar apenas no Distrito Federal ap�s ser obrigado a sair da pista, na BR-101, para evitar uma colis�o frontal com outro caminh�o. Na ocasi�o, o motorista que vinha no sentido contr�rio, em uma via de m�o dupla, dormia ao volante. “A poucos metros de colidir, notei que ele dormia enquanto dirigia. Tive que jogar o ve�culo para uma pista lateral, de terra. Naquele dia eu fiquei traumatizado com a situa��o. Durante esses anos vi amigos morrerem nas estradas, e pessoas saqueando as cargas em meio a trag�dia”, conta.
Monitoramento em tempo real
Uma parceria entre a Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT) e o Minist�rio P�blico do Trabalho (MPT) resultou em uma ferramenta que monitora em tempo real os dados sobre acidentes de trabalho no Brasil. O Observat�rio Digital de Sa�de e Seguran�a do Trabalho informa pela internet a quantidade de acidentes, com mapa sobre as regi�es onde mais ocorrem, custos para a Previd�ncia Social e tipos de acidentes.
Conforme o observat�rio, nos �ltimos cinco anos, 544 mil pessoas sofreram cortes e lacera��es corporais em decorr�ncia de acidentes durante exerc�cio da atividade profissional. Um dos criadores do site, o oficial de Projeto da OIT, Luis Fujiwara, destaca que as informa��es s�o importantes para criar pol�ticas p�blicas com objetivo de reduzir o n�mero de acidentes e mortes nas organiza��es.
“Praticamente todos os acidentes de trabalho no Brasil poderiam ser evitados. Os n�meros de ocorr�ncias e de pessoas que ficam inv�lidas ou precisam de aux�lio-doen�a s�o alt�ssimos. Isso tudo gera um preju�zo bilion�rio para a economia. Estimamos, que se forem contabilizados os n�meros de empregos informais, o custo dos acidentes chega a R$ 40 bilh�es”, revela.