
Em 1908, chegaram os primeiros japoneses ao Brasil para trabalhar em lavouras do caf� no interior de S�o Paulo. Passados 110 anos que o navio Kasato Maru encostou no Porto de Santos com 165 fam�lias, os imigrantes do pa�s oriental se destacam pela expressiva contribui��o para a economia e os investimentos feitos no pa�s, n�o s� na ind�stria, como tamb�m na infraestrutura. A log�stica do abastecimento de bens entrou no card�pio nip�nico de aportes financeiros realizados pelo pa�s asi�tico e tende a manter sua import�ncia nas rela��es comerciais entre os dois antigos parceiros.
Dados do Banco Central (BC) sobre a evolu��o do investimento estrangeiro direto no Brasil mostram que o Jap�o ocupou, no ano passado, a 13ª posi��o do ranking de na��es que mais investiram no pa�s. Os investidores japoneses destinaram a projetos brasileiros USS 530 milh�es de janeiro a novembro, estat�stica mais recente dispon�vel. A lista de 2017 tem 41 investidores, liderados pelos Estados Unidos, e incluindo tamb�m Holanda, Luxemburgo, Su��a, Espanha, Fran�a, Chile, Reino Unido e Canad�. Da s�rie hist�rica dos aportes japoneses em terras tupiniquins, o melhor per�odo foi o de 2011, quando eles chegaram a US$ 7.536 bilh�es.
De acordo com a C�mara de Com�rcio e Ind�stria Japonesa do Brasil, a crise financeira internacional de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers, dos Estados Unidos, trouxe p�nico ao mundo, mas tamb�m fez com que o Jap�o come�asse a considerar o Brasil com destino para investimentos al�m da �sia. A primeira onda dos investimentos japoneses em solo brasileiro ocorreu no fim dos anos 1950, quando o ent�o presidente Juscelino Kubitschek decidiu promover de forma ativa a industrializa��o e o ingresso do capital estrangeiro no pa�s.

Numa segunda fase, empesas japonesas se instalaram no pa�s durante o governo militar, o chamado per�odo do “milagre econ�mico”. Em abril de 1974, foi realizada no Brasil a 1a. Reuni�o Conjunta do Comit� de Coopera��o Econ�mica Brasil/Jap�o, na sede da Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI). Desde 2014, depois de um per�odo de encolhimento do n�mero de empresas japonesas no Brasil, tem havido aumento do n�mero de associados da C�mara Japonesa. S�o 230 associados, hoje, maior universo de toda a hist�ria no Brasil.
Ainda em 2014, o primeiro-ministro japon�s Shinzo Abe esteve em visita oficial ao Brasil. Documento da C�mara Japonesa destaca que o pa�s tem grandes desafios a vencer: a crise pol�tica, a crise moral, al�m da retra��o da economia. Ainda assim, e mesmo diante do atraso das reformas estruturais, “as empresas japonesas continuam possuindo forte interesse em investir no Brasil”, diz o documento.
Em 2016, o presidente Michel Temer cumpriu agenda oficial em T�quio, onde se encontrou com o imperador japon�s Akihito e com o primeiro-ministro Shinzo Abe. Na ocasi�o, Brasil e Jap�o firmaram acordo de coopera��o de projetos na �rea de infraestrutura. A parceria prev� a cria��o de um grupo de trabalho e define os setores de transporte e log�stica, tecnologia da informa��o e de comunica��es e energia como priorit�rios para projetos conjuntos.
� �poca, Abe disse que o Brasil significa oportunidade para as empresas japonesas, sobretudo na �rea de infraestrutura. “Nesse ponto de vista, fico feliz que nesta ocasi�o firmamos acordo para instala��o de uma agenda na �rea de infraestrutura”, afirmou o primeiro-ministro.
Para o c�nsul honor�rio do Jap�o em Minas Gerais, Wilson Brumer, a complementariedade da economia brasileira (e mineira), como fornecedora de mat�rias-primas industriais importantes, e da atividade econ�mica do Jap�o, que precisou busc�-las no exterior sempre esteve na base das rela��es comerciais e da parceria bem-sucedida entre os dois pa�ses. “Os japoneses s�o, por natureza, investidores de longo prazo. Depois de se convencerem, estabelecem relacionamento duradouro. Por isso, se tornaram parceiros de d�cadas no Brasil”, afirma o executivo, que lidou com representantes do pa�s asi�tico em diversas empresas, �s quais dirigiu como a mineradora Vale e a Usiminas.
Fundamentos Viabilidade e sustentabilidade do projeto de investimento, de um lado, e empatia, do outro, s�o dois fundamentos dos quais os japoneses n�o arredam ao definir sua participa��o, lembra Wilson Brumer. O principal desafio do Consulado hoje, de acordo com o executivo, � atrair parcerias no Brasil com pequenas e m�dias empresas dos dois pa�ses. “� um campo em que temos trabalhado – trazer o pequeno investidor –, o que n�o � f�cil pela complexidade da economia brasileira e do encontro de culturas muito diferentes”, afirma.
Uma das iniciativas mais recentes de aproxima��o de empres�rios do Jap�o e do Brasil, e de Minas, foi a reuni�o na sede da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg), em 2017, de pelo menos uma dezena de representantes do empresariado japon�s com cerca de 70 empreendedores brasileiros.
Parceiros e irm�os
O governo de Minas Gerais mant�m, por sua vez, um dos primeiros acordos de aproxima��o com prov�ncias japonesas – s�o mais de uma dezena no Brasil – firmado em 1973. A co-irmandade foi feita com Yamanashi, a terra do monte Fuji, s�mbolo do pa�s asi�tico. A coopera��o se d� tanto na economia quanto no esporte, nas artes e na seguran�a. As rela��es cooperativas incluem um tratado pelo qual dois mineiros, um dos quais servidor p�blico do governo de Minas, participam todo ano de um programa de trainee na prov�ncia japonesa.
Edi��es do Festival do Jap�o tamb�m tem ocorrido regularmente em Minas. Neste ano, quando ser�o comemorados 110 anos da imigra��o japonesa no pa�s, o festival ter� car�ter especial em fevereiro. S�o esperadas 24 mil pessoas para a festa cultural no centro de conven��es Expominas, em Belo Horizonte.
No agroneg�cio, a participa��o dos japoneses foi fundamental para o avan�o da produ��o mineira de diversos itens, como cenoura, alho e outros hortifrutigranjeiros em S�o Gotardo; caf� em Carmo do Parana�ba, no Alto Parana�ba; uva e de diversas outras frutas em Pirapora, no Norte de Minas. O estado deve tamb�m �s comunidades e investidores nip�nicos boa parte do sucesso do polo produtor e exportador de frutas do Ja�ba, no Norte mineiro. Foi com os recursos de US$ 20 milh�es aplicados pelo Jap�o na chamada etapa 2 do Projeto Ja�ba que a expans�o do empreendimento foi garantida.
Uma �nica palavra
Na sala de reuni�es da Associa��o Nipo-Brasileira de Ipatinga, um grupo formado por Minoru Sakuraoka, Yoshiro Togura e seu filho Vitor, de 27, aut�nomo e quarta gera��o no pa�s, e o casal Mitsuteru Urabe e a mulher Keiko, casados h� 45 anos, conversa sobre o passado e o presente dos japoneses no Vale do A�o. Com um peda�o de giz, Vitor escreve uma palavra para definir a rela��o de seis d�cadas: amizade. Enquanto isso, Keiko a traduz em ideogramas. “No in�cio, os japoneses sofreram muito, mas foram bem recebidos e houve entrosamento”, ressalta Yoshiro.