As m�os que ajudaram a transformar o min�rio em a�o e a construir a hist�ria do Vale do Rio Doce s�o pr�digas tamb�m em preparar alimentos, atuar no com�rcio, cultivar a terra e fomentar atividades culturais e esportivas. Em Ipatinga, distante 209 quil�metros de Belo Horizonte, ex- funcion�rios da Usiminas e descendentes dos pioneiros japoneses na usina sider�rgica continuam a fazer do trabalho e do respeito pela terra brasileira a sua bandeira maior. E fazem a roda da economia girar. “Vou ficar aqui, mesmo, porque n�o d� mais para come�ar do zero. Afinal, encontrei amizade e boa conviv�ncia”, diz M�rio Rioite Taguchi, de 76 anos, casado com Luzia Mitiko e pai de Celso Yukio, engenheiro e sushiman, e de Cristina Mayumi, farmac�utica.
Noite de ter�a-feira e o movimento � constante no restaurante, que agrada pelo ambiente aconchegante, comida deliciosa e aten��o dos propriet�rios. Com voz tranquila, M�rio se recorda dos primeiros tempos em Ipatinga, que, h� 60 anos, recebia a primeira leva de imigrantes japoneses dispostos a trabalhar na sider�rgica implantada gra�as � parceria comercial entre o Brasil e o Jap�o. Naquela �poca, a empresa iniciava a escalada no futuro Vale do A�o e a uni�o da m�o de obra nip�nica com os mineiros transformaria a regi�o em todos os aspectos.
“Era tudo dif�cil, principalmente para chegar aqui, por causa das estradas. Asfalto, s� at� Jo�o Monlevade”, conta M�rio, que, solteiro, foi recrutado em Ara�atuba, onde morava, para trabalhar em Ipatinga: “Depois voltei l�, me casei e trouxe a esposa”. A ideia do restaurante come�ou pelas m�os de Luzia, que, enquanto o marido trabalhava, p�s em pr�tica seus dotes culin�rios, come�ou a fazer pratos t�picos e vender numa feira local.
Frutos da terra A comida brasileira n�o seduziu de cara os imigrantes e muitos deles, passadas seis d�cadas, mant�m a maior parte do card�pio dom�stico com os pratos da sua terra. L� pelo fim da d�cada de 1950, para suprir a necessidade de alguns g�neros aliment�cios, a Usiminas convocou fam�lias no interior paulista para cultivar hortali�as e atender os novos moradores. Entre os primeiros nesse setor, estavam os Shibata, os Mihara e os Imazaki, que formaram a “Horta do Amaro Lanari (nome do primeiro presidente da companhia), num bairro pertencente a Coronel Fabriciano.
Hoje, a comunidade japonesa, estimada em cerca de 100 fam�lias, segundo a Associa��o Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI), encontra produtos para os pratos t�picos da gastronomia oriental. No Bairro Bom Retiro Leste, s�o encontradas algas para fazer sushi, molhos, �leo de gergelim, macarr�o japon�s e outros itens. No balc�o do Taniguchi Ten, est� o simp�tico casal Kengo Taniguchi, de 90, que chegou ao pa�s com cinco anos, e Kazuco, brasileira filha de japoneses.
De mem�ria prodigiosa, Kengo conta que trabalhou no setor de lamina��o e tamb�m como int�rprete na sider�rgica. “M�o de obra era muito dif�cil, o pessoal era analfabeto”, ressalta, lembrando que chegou a Ipatinga casado e com tr�s filhos, sendo que um deles, M�rio, foi vereador e presidente da C�mara Municipal. Olhando os produtos dispostos nas prateleiras, o comerciante diz que, nos prim�rdios, era preciso mandar buscar o arroz japon�s em S�o Paulo. “Hoje, tudo mudou. E at� no Natal, as pessoas querem comer sushi. N�o falta nem no churrasco”, diz com bom humor.
Hospitalidade aprovada
Em Ipatinga, a equipe do Estado de Minas foi recebida pela fam�lia do metal�rgico Kenji Inoue na casa do Bairro Ideal. Na mesa comprida e com muitos lugares, todos se serviram do bule de ch� de g�rmen de trigo torrado, biscoitinhos de gengibre e morangos desidratados com recheio de chocolate branco, rec�m-chegados do Jap�o na bagagem de Toshiko, casada com Shizuo Suenaga. � mesa, al�m do casal Inoue, est� B�rbara, de 16, filha de Taeko. “Temos gratid�o por Ipatinga, houve muito respeito conosco. Se os japoneses trouxeram uma grande responsabilidade pelo trabalho, receberam de volta uma amizade calorosa e a alegria de viver dos brasileiros”, afirma Yoshiko. As fam�lias tamb�m guardam lembran�a do pa�s distante n�o s� no cora��o, como tamb�m em casa, como � o caso das bonecas (foto) artesanais japonesas. Na tradi��o do Jap�o antigo, as bonecas eram preservadas de gera��o a gera��o, com a cren�a de que algumas delas poderiam adquirir vida e abrigar a alma do homem.
A For�a das fam�lias
1958 – Em 16 de agosto, ocorre a cerim�nia de Crava��o de Estaca para in�cio das obras da usina sider�rgica de Ipatinga, com a presen�a do presidente da Rep�blica Juscelino Kubitschek, do embaixador Yoshiro Ando e de outras autoridades dos dois pa�ses. Embora n�o haja registro, conta-se que a primeira fam�lia japonesa a chegar a Ipatinga foi a de Hakal Sato.
1958 – Embora tenha recebido muitos imigrantes, a regi�o do futuro Vale do A�o n�o tinha verduras e legumes, o que levou a Usiminas a criar a horta do antigo Maring�, conhecida como “horta japonesa”. A primeira fam�lia a trabalhar nesse local foi a de Shizuo Shibata (vi�vo) e do filho Nobaru. A esposa de Nobaru, conhecida como dona Maria, chegou em abril de 1960.
1960 – Em fevereiro, chegou a primeira fam�lia de comerciantes (Natsuo e Yoca Esaki), que abriu armaz�ns de secos e molhados e miudezas em geral, no Bairro Horto. Depois se instalaram a senhora Cec�lia Eguchi, Joaquim e Maria Haru (armaz�m de secos e molhados) e fam�lia Haibara (bar no antigo centro comercial do Bairro Bom Retiro Centro).
1960 – Em maio, chegou � regi�o a fam�lia de Yukata e Mitsuko Mihara. No ano seguinte, em 12 de setembro, vieram Mitsuo e Ana Imasaki.
1960 – Em 18 de outubro, nasceu a primeira descendente de japoneses, S�nia Esaki. E em 26 de dezembro, veio ao mundo o primeiro descendente de um funcion�rio da Usiminas, J�lio Tahara, que se formou em medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na capital, e se especializou em cirurgia pl�stica.
1962-1963 – Com o andamento das obras da Usiminas e in�cio da opera��o, o n�mero de japoneses e familiares chega a mais de 350. Al�m desses, vieram mais 80 de outras empresas e, na sequ�ncia, horticultores e comerciantes, que formaram a comunidade japonesa.
1963 – Em 22 de maio, a Usiminas construiu uma escola, onde fica atualmente a sede da Associa��o Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI). No auge da instala��o da sider�rgica e in�cio da opera��o, foram promovidas diversas atividades educacionais, culturais, esportivas e sociais: concurso de haiku (pequeno poema de 17 s�labas), realiza��o de undokai (gincana poliesportiva), jogos de madjan (domin� chin�s), go (jogo de conquista de territ�rio), shogui (xadrez), baseball (muito apreciado pelos japoneses), sum� (luta), a arte marcial ninjutsu e v�lei e apresenta��es da tradicional bon-odori (dan�a folcl�rica).
1970-1973 – Com o impulso dado pelos programas do governo brasileiro de desenvolvimento da agricultura do cerrado, com parceria de investidores japoneses, Prodecer e Padap, come�aram a chegar a Minas as primeiras fam�lias de empreendedores nip�nicos da terra, que se destacaram na produ��o agr�cola em S�o Gotardo (foto) e Carmo do Parana�ba, no Alto Parana�ba. Esses munic�pios se tornaram grandes produtores de alimentos.