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Estado de Minas ENTREVISTA/ROBERTO JAGUARIBE

'A Europa se voltou para n�s', avalia presidente da Apex-Brasil

Empresas brasileiras podem ganhar com barreiras comerciais adotadas por Donald Trump


postado em 02/04/2018 12:00 / atualizado em 02/04/2018 09:13

(foto: Divulgação)
(foto: Divulga��o)
 

S�o Paulo – As recentes jogadas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no tabuleiro do com�rcio internacional continuam provocando ampla discuss�o. O Brasil, apesar de ter uma participa��o muito pequena no mercado de produtos e servi�os transacionados no mundo, tamb�m foi alvo das decis�es protecionistas recentes do l�der republicano. As ind�strias do a�o e alum�nio foram as que mais sentiram o impacto da sobretaxa imposta pelo governo americano. As a��es das companhias brasileiras que atuam nesses setores perderam valor diante da possibilidade de redu��o do volume de exporta��es para os EUA e do aumento da importa��o desses produtos a pre�os que dificultem a briga no mesmo n�vel de competitividade.


Agora, a diplomacia brasileira tenta negociar para que o pa�s fique de fora da decis�o de Trump e mantenha seus embarques nas mesmas condi��es anteriores ao rompante presidencial. Paralelamente, as principais v�timas das sobretaxas anunciadas pelo presidente americano, como China, Uni�o Europeia e Coreia do Sul, amea�am levantar a voz e tamb�m partir para retalia��es.


Para Roberto Jaguaribe, presidente da Ag�ncia Brasileira de Promo��o de Exporta��es e Investimentos a Apex Brasil, que tem grande experi�ncia na fun��o de  embaixador em pa�ses como China e Reino Unido, o Brasil pode encontrar oportunidades em um momento de tens�o comercial, especialmente entre Estados Unidos, Uni�o Europeia, China e pa�ses da Nafta – o bloco comercial formado pelos EUA, M�xico e Canad�.
Jaguaribe acredita que a decis�o de Trump de dificultar as importa��es em alguns setores poder� ser o empurr�o que faltava para que o Mercosul finalmente assine o acordo comercial com a Uni�o Europeia. “A Europa se voltou para n�s”, afirma. Ele alerta, ainda, para o fato de que a Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) est� enfraquecida, o que pode ser um problema diante das batalhas comerciais envolvendo protagonistas globais como Estados Unidos e China.

O Brasil est� muito exposto � guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos?
N�o vejo nenhuma raz�o para o Brasil se transformar em eixo central de poss�veis acirramentos de conflitos comerciais. N�o h� a menor d�vida de que pode resvalar algum efeito negativo para n�s e vamos procurar evitar que ele nos atinja de forma significativa. Neste momento, n�o temos nenhum ind�cio de que um setor em particular ser� afetado negativamente. Sempre h� outras quest�es que podem influenciar, mas n�o em fun��o de um conflito desse tipo.

Por outro lado, o Brasil pode buscar oportunidades com essa tens�o comercial pairando no ar?
Uma postura mais avessa � internacionaliza��o de alguns pa�ses faz com que outros pa�ses busquem novas parcerias. De certa forma, esse comportamento dos Estados Unidos mais refrat�rio ao com�rcio com a Europa, com a �sia e mesmo em rela��o ao acordo com os pa�ses do Nafta (Tratado de Livre Com�rcio da Am�rica do Norte, que inclui Estados Unidos, Canad� e M�xico), leva outros parceiros comerciais a buscar alternativas. � o caso de Canad� e M�xico, que t�m uma concentra��o enorme de com�rcio com os Estados Unidos. Isso gera um potencial reflexo negativo para eles.

Como fica o Brasil?
O Brasil, ao lado do Mercosul, est� fazendo um esfor�o de se aproximar do Canad� e da mesma forma se empenha para completar o ciclo de negocia��o para a Alian�a do Pac�fico. Falta acertar com o M�xico, porque Col�mbia, Peru e Chile j� t�m acordos com o Brasil no �mbito do Mercosul. Nesse sentido, existe uma vontade maior daqueles pa�ses mais afetados em buscar alternativas. E isso j� est� gerando situa��es favor�veis ao Brasil nas negocia��es comerciais.

Que tipo de papel a Apex pode ter em um momento de indefini��es no com�rcio mundial?
A Apex tem a responsabilidade de promover as exporta��es brasileiras e os investimentos no Brasil, al�m de apoiar empresas brasileiras no exterior. Esses movimentos protecionistas acentuam a necessidade de o Brasil se posicionar tamb�m para ter mais empresas nacionais se internacionalizando. Quando uma empresa come�a a operar fora, automaticamente ela vai ampliar o com�rcio com aquele pa�s no qual ela vai se estabelecer.

E no movimento oposto, das empresas estrangeiras que v�m para o Brasil?
Ocorre o mesmo em rela��o �s empresas estrangeiras que v�m para c� e que v�o aumentar o com�rcio entre seu pa�s de origem e o Brasil. Esse � um dos pap�is em que a Apex pode ajudar, mas ela tamb�m tem uma atua��o mais direta no �mbito da Camex (C�mara de Com�rcio Exterior, ligada ao Minist�rio da Ind�stria e Com�rcio Exterior e Servi�os, o MDIC), al�m de ter condi��es de promover sinergia em assuntos relevantes entre a esfera federal e o setor produtivo.

Esta pode ser uma oportunidade para que finalmente o Mercosul e a Uni�o Europeia assinem acordos de coopera��o?
Todos os ind�cios apontam para isso, mas eu vou al�m. Mais do que o interesse em um acordo entre o Mercosul e a Uni�o Europeia, h� uma converg�ncia de interesses entre Argentina e Brasil, o que permite mais coes�o para nos engajarmos em novos processos negociadores. O mais evidente � com a Uni�o Europeia, que est� em vias de ser conclu�do e que foi beneficiado por essa maior relut�ncia dos Estados Unidos em se engajar em uma negocia��o comercial, que acabou sendo paralisada. Como consequ�ncia desse processo, a Uni�o Europeia se voltou para n�s em um processo que j� era muito antigo, mas que at� ent�o n�o deslanchava. Com tudo isso, os ind�cios s�o muito positivos para que haja em breve um acordo com a Uni�o Europeia, o que poder� trazer in�meros benef�cios para o Brasil.

Pela experi�ncia que o senhor tem na diplomacia, � poss�vel imaginar um recuo nas a��es mais extremas depois de iniciada uma guerra comercial?
Existem in�meras possibilidades, mas tenho certeza de que, neste momento, os atores relevantes, n�o s� os agentes p�blicos mas tamb�m os privados, est�o atuando para impedir que haja um processo de deflagra��o plena de uma guerra comercial. N�o s� os Estados Unidos, mas tamb�m pa�ses como a China, que � um grande comerciante global, t�m o seu papel. Por isso, n�o acredito que cheguemos a um ponto de dif�cil revers�o dessa situa��o. Por mais que se viva um per�odo de alguma tens�o, n�o acredito que os efeitos negativos sejam permanentes.

Por tudo que o senhor viveu no avan�o do com�rcio mundial nas �ltimas d�cadas, � poss�vel imaginar que ocorreram mudan�as relevantes no que entendemos hoje por globaliza��o?
N�o acredito que haja um permanente surto de conten��o da globaliza��o; at� porque, iniciativas protecionistas s�o uma forma de diminuir os impactos e o pr�prio processo de globaliza��o. Ela traz benef�cios �s economias, mas tamb�m h� inevit�veis perdas espec�ficas para determinados grupos. Por essa raz�o, � importante que n�o se perca a coes�o, que esses setores prejudicados tenham uma aten��o particular para n�o ficarem � m�ngua. Em parte, isso explica o que aconteceu nos Estados Unidos, essa ideia do presidente Donald Trump e a rea��o da Uni�o Europeia. Protecionismo � uma forma de reduzir impactos, mas n�o acredito que v� perdurar, porque o benef�cio da globaliza��o � muito claro, ainda que alguns setores ou pa�ses saiam perdendo, especialmente os pequenos.


A Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) tem protagonismo para atuar neste momento mais tenso da economia mundial?
A OMC � resultado de um esfor�o crescente de racionaliza��o e de cria��o de normas e regras para a conduta do com�rcio internacional. � evidente que ela est� enfraquecida hoje e que n�o tem poder, mesmo em seu eixo mais relevante, que � a resolu��o de controv�rsias e conflitos.

O que explica a perda de poder da OMC nos �ltimos anos?
Isso � reflexo tamb�m dos interesses dos Estados Unidos, j� que a OMC n�o tem se comportado de acordo com os anseios americanos. Ela foi criada para atender a esses interesses, de forma que h� certas contradi��es que precisam ser resolvidas. N�o h� d�vidas de que a OMC est� enfraquecida, mas ela precisa se reerguer para garantir processos saud�veis de trocas comerciais.

LONGA TRAJET�RIA

Presidente da Ag�ncia Brasileira de Promo��o de Exporta��es e Investimentos (Apex), o diplomata ocupou o cargo de embaixador do Brasil na China, Mong�lia, Reino Unido e Irlanda do Norte. No Minist�rio das Rela��es Exteriores, foi subsecret�rio-geral de Pol�tica, diretor do Departamento de Promo��o Comercial e chefe da Divis�o de Propriedade Intelectual. No exterior, atuou ainda como ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington. Tamb�m foi conselheiro na Delega��o Permanente do Brasil em Genebra, atuando como delegado no Acordo Geral da Tarifas e Com�rcio (GATT), na Organiza��o Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) e na Confer�ncia de Desarmamento.



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