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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Ind�stria busca op��es ao canudo de pl�stico

Press�o cada vez mais forte dos consumidores leva fabricantes a investir pesado em mat�rias-primas biodegrad�veis para reduzir o impacto desses produtos na natureza


postado em 01/08/2018 06:00 / atualizado em 01/08/2018 09:16

Júnia Quick baniu os canudos de suas lojas; Júlio César vai esperar a lei para fazer o mesmo; e Renata Malloy aprova as iniciativas pelo meio ambiente(foto: Jair Amaral/EM/D.A. Press)
J�nia Quick baniu os canudos de suas lojas; J�lio C�sar vai esperar a lei para fazer o mesmo; e Renata Malloy aprova as iniciativas pelo meio ambiente (foto: Jair Amaral/EM/D.A. Press)

S�o Paulo – A campanha global contra o uso de canudos de pl�stico vem ganhando ades�es de empresas e do poder p�blico gra�as a uma onda crescente que tem contado com a ajuda das redes sociais e de milh�es de consumidores que condenam o uso do produto por causa dos res�duos descartados no meio ambiente, principalmente nos oceanos.


Algumas cidades americanas j� transformaram a guerra ao pl�stico descart�vel em lei. � o caso de Seattle, que em julho passou a proibir o uso de utens�lios feitos com a resina obtida a partir do petr�leo em restaurantes, caf�s e lojas de alimenta��o. Quem descumprir a regra vai pagar multas a partir de US$ 250. Apenas nos Estados Unidos, o consumo di�rio de canudinhos chega a 500 milh�es de unidades por dia. Na natureza, seu tempo de decomposi��o � de aproximadamente 200 anos.


No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira a adotar esse tipo de restri��o. Desde o m�s passado, bares, restaurantes e quiosques s�o obrigados a oferecer canudos de papel. A puni��o para quem n�o seguir a lei pode chegar a multas de R$ 6 mil. Outras cidades brasileiras, como S�o Paulo, discutem a possibilidade de adotar o mesmo tipo de regra.


Para quem oferece canudos a seus clientes, o caminho tem sido trocar o pl�stico por outras mat�rias-primas. Nas �ltimas semanas, grandes grupos como Starbucks, McDonald’s, American Airlines, Disney e Marriott anunciaram que j� come�aram a fazer a transi��o do pl�stico para outros materiais e que pretendem abandonar a resina definitivamente nos pr�ximos anos.

ALTERNATIVAS Com as empresas se antecipando � legisla��o para atender � mudan�a de h�bito do consumidor, os fabricantes de canudos de pl�stico come�aram a buscar solu��es para adequar a produ��o a um novo perfil de demanda. Paralelamente, pequenos empreendimentos t�m investido no desenvolvimento de materiais alternativos, como os acess�rios feitos de vidro, bambu e metal.


Dona da marca de canudos Bic�o, a Plastifer, de S�o Paulo, come�ou a produzir canudos de pl�stico biodegrad�vel em julho. At� o fim do m�s, a mudan�a chegar� a 100% da produ��o. Para chegar a essa solu��o, conta Valney Aparecido, gerente-geral da empresa, foi preciso pesquisar quem poderia fornecer o aditivo respons�vel por “quebrar” o polipropileno usado nos acess�rios. “Estamos buscando solu��es desde janeiro”, diz o executivo. “No come�o, o valor do aditivo era t�o alto que dobraria o pre�o do canudo.” Agora, segundo o executivo, o produto biodegrad�vel deve ter uma alta de 5%.


A Plazapel, de Orleans, no interior catarinense, atua no segmento de descart�veis com 10 op��es de canudos, al�m de pratos, copos e talheres. Procurada, a empresa informou que ainda n�o fabrica os canudos de papel, mas tem buscado informa��es sobre a mat�ria-prima alternativa para ent�o estudar a possibilidade de inclu�-la na linha de produ��o. A Fulpel, outra grande empresa do segmento de produtos descart�veis, tamb�m se prepara para come�ar a aderir a outra mat�ria-prima. Neste m�s, come�am a ser produzidos os modelos feitos com papel. A previs�o � que essa linha responda por 20% das vendas dos acess�rios at� o fim do ano.


V�nia Zuin, professora e pesquisadora da Universidade Federal de S�o Carlos e da Universidade de York na �rea qu�mica, acredita que a ind�stria de pl�stico tenha evolu�do pouco nos aspectos ambientais, se concentrando mais em caracter�sticas cosm�ticas de seus produtos, como efeitos que valorizam a cor e o brilho com o objetivo de estimular o consumo.

 

CONSUMO INCONSCIENTE Ao longo dos anos, o canudinho acabou sendo o “�cone” dessa mudan�a de comportamento do consumidor e se tornou um item muito usado, mas “sem uma necessidade funcional”, explica a pesquisadora. “Isso, no fundo, s� serve para agregar mais mat�ria-prima sem fun��o. Falta a essa ind�stria, muito resistente a mudan�as, investir em an�lises mais criteriosas que atendam a v�rias caracter�sticas sustent�veis, n�o s� econ�micas, mas sociais e ambientais. O modelo de produ��o hoje � insustent�vel”, avalia.


Ainda segundo V�nia, as alternativas que surgem ao canudinho de pl�stico s�o melhores, mas al�m de leis que pro�bam os acess�rios de origem petroqu�mica deve haver um movimento de educa��o dos consumidores “para que n�o utilizem tantos produtos desnecess�rios”. O consumo desses pequenos itens realmente � elevado. S� no caso da rede Starbucks, s�o 1 bilh�o de unidades por ano.


A Abiplast, entidade que representa o setor do pl�stico, tem feito algumas a��es para aumentar a conscientiza��o tamb�m entre os fabricantes. Em 2016, a associa��o lan�ou o selo Senaplas, que identifica as empresas recicladoras que trabalham dentro dos crit�rios sociais, ambientais e econ�micos exigidos por lei. Depois de dois anos, apenas 14 conseguiram a chancela. H� ainda a modalidade do selo que certifica produtos feitos com pl�stico reciclado para garantir um material com maior qualidade.


Ricardo Hajaj, coordenador da C�mara de Recicladores da Abiplast, concorda que h� um consumo excessivo e o descarte inadequado de muitos materiais pl�sticos – como as sacolinhas. Por isso, o executivo defende que haja pol�ticas governamentais que aumentem a ades�o a programas de reciclagem, por meio de incentivos fiscais (como a redu��o do ICMS), al�m da conscientiza��o dos consumidores sobre o descarte correto. “Se hoje n�o se recicla o canudo � porque ele n�o chega aos recicladores”, afirma. Hajaj defende o setor e diz que a ind�stria est� “consciente sobre a necessidade de dar o destino correto ao pl�stico e desenvolver produtos mais leves, que levem em considera��o o seu ciclo de vida”.


Maior petroqu�mica do pa�s, a Braskem mant�m desde 2012 um programa de incentivo �s cooperativas de reciclagem do pl�stico. Al�m disso, a empresa faz parte de uma plataforma, a Wecycle, que se prop�e a valorizar os res�duos pl�sticos ao longo de toda a cadeia produtiva, contribuindo com a reciclagem, o p�s-consumo e o meio ambiente. Entre os parceiros est�o o GPA, que utiliza resina reciclada para produzir embalagens do produto tira-manchas da linha pr�pria Qualit�, e a Condor, fabricante de um kit de pintura que tamb�m usa essa mat�ria-prima.


Por meio de nota, a empresa informou estar “atenta ao movimento envolvendo os canudos pl�sticos, acreditando que eventuais impactos ser�o antes equalizados com um olhar para o setor como um todo e para os h�bitos da sociedade, desenvolvendo tecnologias que gerem ganhos em todos os aspectos – industriais, sociais e ambientais”.

As empresas que decidiram abandonar o acess�rio de pl�stico

l American Airlines
» A companhia a�rea americana vai reduzir o uso do pl�stico em suas salas de espera e nos avi�es. A expectativa � cortar o uso da mat�ria-prima em cerca de 30 mil quilos ao ano. Em julho, os canudos de pl�stico come�aram a ser trocados por modelos feitos com material biodegrad�vel e palitos de madeira para misturar as bebidas. A partir de novembro, ser� a vez de substituir o material atual pelo bambu.
 
l Marriott International
» A rede americana de hot�is anunciou em julho que deixar� de usar canudos e palitos de pl�stico em suas 6,5 mil unidades, distribu�das por 30 marcas. A meta � concluir o projeto daqui a 12 meses. Com a decis�o, o grupo deixar� de usar cerca de 1 bilh�o de tubinhos de pl�stico por ano e em torno de 250 milh�es de palitos.
 
l McDonald’s
» A Arcos Dourados, franqueada da rede de fast-food no Brasil e Am�rica Latina, passar� a dar canudinhos apenas aos clientes que pedirem. A nova pol�tica passa a valer este m�s. Em junho, a companhia anunciou que pretende tirar o acess�rio das lojas do Reino Unido, mas por enquanto essa possibilidade n�o � tratada aqui. A empresa informou que adotar� embalagens de fontes renov�veis, recicladas ou certificadas em todos os restaurantes at� 2025.

l Starbucks
» Em julho, a Starbucks comunicou que at� 2020 deixar� de usar o acess�rio de pl�stico em todas as 28 mil lojas no mundo. Cerca de 1 bilh�o de canudos deixar�o de ser descartados no lixo por ano, segundo a rede de caf�s. Para isso, a companhia precisou fazer adapta��es nas tampas dos copos de bebidas geladas de caf� e ch�. Por volta de 8 mil lojas nos Estados Unidos e no Canad� j� n�o utilizam mais o modelo de pl�stico. Quem n�o abrir m�o do canudinho poder� usar a vers�o de papel ou de pl�stico biodegrad�vel.
 
l Royal Caribbean
» A frota de 50 navios da Royal Caribbean deixar� de ter acess�rios de pl�stico at� 2019, conforme comunicado feito em junho. Ser�o oferecidos nas embarca��es apenas modelos de papel. Desde 2017, os canudos deixaram de ser ofertados voluntariamente nos cruzeiros. O passageiro tem de solicitar o tubo caso queira.
 
l Disney
» A gigante do entretenimento anunciou em meados de julho que pretende abrir m�o de canudos e mexedores de bebidas feitos com pl�stico e n�o reutiliz�veis em todos os seus parques tem�ticos, resorts e propriedades at� meados de 2019. Fica de fora da decis�o o Tokyo Disney, que pertence e � operado pela The Oriental Land Co. Deixar�o de ser utilizados 175 milh�es de canudos e 13 milh�es de mexedores por ano.
 
l SeaWorld Parks & Entertainment
» O operador de 12 parques tem�ticos, entre eles o SeaWorld e o Busch Gardens, comunicou ao mercado em junho que deixar� de usar os canudinhos em todas as suas unidades.
 
l Ikea
» A cadeia sueca de m�veis, dona de 363 lojas, prometeu abandonar os produtos pl�sticos de uso �nico, como canudos, sacolas, copos, pratos e sacos de lixo, em suas lojas e restaurantes at� 2020, substituindo a mat�ria-prima por uma que seja mais amig�vel em termos ambientais.
 
l Bon App�tit
» A maior empresa de servi�os de alimentos dos Estados Unidos abandonar� os acess�rios de pl�stico usados nas bebidas em suas 1 mil unidades at� setembro de 2019.
 
l Hyatt Hotels
» A partir de setembro, a rede hoteleira passar� a oferecer canudinhos apenas se o cliente solicitar.

 O exemplo que vem de consumidores e comerciantes

Banidos na cidade do Rio de Janeiro, os canudinhos podem estar tamb�m com os dias contados no restante do pa�s. Projetos de lei em tramita��o na C�mara dos Deputados preveem a proibi��o de uso, fabrica��o e comercializa��o dos tubinhos de pl�stico em todo o territ�rio nacional. Todos est�o em discuss�o na Comiss�o de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel. Com exce��o de um deles, o PL 10.345, que disp�e sobre a diminui��o gradativa, os outros determinam a proibi��o do fornecimento, venda, compra e disponibiliza��o de canudos pl�sticos.


Na C�mara de BH, h� duas proposi��es. O Projeto de Lei 614/2018, do vereador Elvis C�rtes (PHS) est� sendo apreciado pela Comiss�o de Legisla��o e Justi�a. Em fase mais avan�ada, o PL 557/2018, do parlamentar Jorge Santos (PRB), est� pronto para ir a plen�rio. Ele obriga os estabelecimentos a fornecer canudos de papel biodegrad�vel, recicl�vel e/ou reutiliz�vel. Aos infratores, prev� como puni��o advert�ncia escrita, multa que dobra na reincid�ncia e cassa��o do alvar�.


Enquanto as propostas n�o viram lei em BH, iniciativas individuais e de empresas contribuem para a mudan�a de comportamento dos consumidores na capital. A empres�ria J�nia Quick, por exemplo, decidiu que a partir de hoje em seus estabelecimentos de alimenta��o natural, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, canudos pl�sticos saem de cena para dar lugar aos biodegrad�veis. Por enquanto, o fornecedor � de S�o Paulo. Mas, ela conta que j� percebe um movimento por parte de empresas interessadas em vender o produto ecologicamente correto e, de outro lado, de lojas que querem mudar o que t�m oferecido aos clientes. “O pre�o � bem mais alto, mas se justifica e n�o impacta no neg�cio”, relata a dona do N�ctar da Serra.


“J� tinha esse desejo, e estamos sempre envolvidos com tudo o que diz respeito a reciclagem, fazendo o que podemos. O foco no canudinho � um in�cio de conscientiza��o contra o uso excessivo de pl�sticos e embalagens”, afirma. A empres�ria Renata Malloy Dias, de 42 anos, gostou da novidade. “�s vezes, voc� toma dois sucos e v�m dois canudos. Devolvo sempre o segundo. Fico satisfeita com a iniciativa, pois � algo que me aflige pessoalmente”, diz.

MERCADO No Mercado Central, um dos pontos de com�rcio mais tradicionais da capital mineira, os canudinhos de pl�stico est�o por todos os lados. Dono da Lanchonete Palhares, J�lio C�sar Palhares diz que gasta cerca de 500 por semana. Apesar de ser favor�vel �s mudan�as, ele considera adotar novos modelos apenas mediante lei municipal ou uma diretiva do mercado. “Tudo o que traz malef�cio ao meio ambiente tem que acabar. N�o � um produto de necessidade para a maioria das pessoas”, afirma. A salgadeira Ana Maria Silva, de 61, lancha no mercado sempre que vai �s compras. “A gente pega porque v�, mas os canudos deveriam ser abolidos”, diz.


Algo que j� fez a Escola Casa Fundamental, no Bairro Castelo, na Regi�o da Pampulha, onde canudos, simplesmente, n�o existem. “As crian�as mais novinhas, que chegam com depend�ncia de copo com canudo ou bico, se acostumam rapidamente”, relata. “Fazemos escolhas conscientes na escola, desde uma alimenta��o org�nica at� n�o usar o canudinho. Ensinamos �s crian�as que as escolhas que fazem t�m repercuss�o no mundo”, diz Maria Carolina Mariano, diretora da escola.

 


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