S�o Paulo – A Movile anunciou ontem que far� at� o final de 2019 o investimento de, no m�nimo, US$ 500 milh�es (cerca de R$ 1,909 bilh�o) na sua principal opera��o, o aplicativo de pedidos de comida iFood. O aporte, feito pelos s�cios da Movile – o fundo Inova Capital, do empres�rio Jorge Paulo Lehman, e a Naspers, um conglomerado de m�dia da �frica do Sul –, poder� ser ainda maior. Tudo vai depender de negocia��es que est�o em andamento para atrair mais capital de novos s�cios, o que deve ser definido em at� dois meses.
O investimento bilion�rio ser� destinado, prioritariamente, na amplia��o da opera��o do iFood no Brasil, onde foi fundado em 2011. Mas uma parte menor dos recursos (valor n�o divulgado) ser� destinada �s opera��es na Col�mbia e no M�xico. A estrat�gia dos gestores da companhia prev� aportes nas �reas de log�stica, de tecnologia, fus�es e aquisi��es.
Se os planos de Bloisi sa�rem de fato do papel, o iFood poder� triplicar dentro de um ano e meio o atual n�mero de restaurantes, 50 mil (eram 27 mil h� 12 meses), e dobrar o volume de entregadores, hoje ao redor de 120 mil (88% de crescimento em rela��o a outubro de 2017) apenas na opera��o brasileira. Com esse plano ambicioso, o executivo espera dar ao aplicativo o status de lideran�a mundial. “Queremos construir um l�der global a partir do Brasil e mostrar que d� para fazer coisas legais aqui”, disse.
INSPIRA��O INTERNACIONAL O an�ncio de ontem, segundo Bloisi, foi at� o momento o maior aporte de capital em uma empresa de tecnologia da Am�rica Latina. Hoje, o iFood � apontado por seus investidores como a quarta maior opera��o do g�nero no mundo, perdendo para competidores com atua��o nos mercados da China, �ndia e Estados Unidos. Esses pa�ses t�m feito parte dos roteiros de viagem dos executivos da Movile, que buscam informa��o e inspira��o para melhorar a opera��o brasileira.
Al�m do tamanho populacional, a China chama a aten��o do mundo da tecnologia por conta da evolu��o r�pida em seus sistemas de pagamento e no varejo on-line. Os consumidores est�o cada vez mais conectados e o cart�o de cr�dito est� praticamente aposentado, o que pode apontar alguns caminhos para empresas como o iFood, que pensam na internacionaliza��o de forma consistente.
Com o aporte bilion�rio, Bloisi acredita que tamb�m dever� dobrar o n�mero de cidades atendidas no Brasil – atualmente s�o 483, menos de 10% do total de munic�pios. Mas, al�m do crescimento acelerado, o presidente da Movile promete melhorar o servi�o, reduzindo o tempo de entrega dos pedidos e o valor gasto pelos clientes. Ele acredita ser poss�vel convencer os brasileiros a trocar a cozinha de casa pelo smartphone, mesmo com o problema de queda no poder aquisitivo da popula��o e o elevado n�vel de desemprego.
O executivo espera ainda melhorar a oferta de servi�os para os usu�rios do aplicativo. Isso deve acontecer conforme avan�arem as pesquisas na �rea de intelig�ncia artificial e permitir� melhorar a oferta de restaurantes de forma mais direcionada, levando em considera��o o perfil de quem pede a refei��o. O software aprende mais sobre as prefer�ncias do consumidor � medida que ele utiliza o servi�o e assim pode fazer promo��es e sugest�es personalizadas. “Fomos pioneiros em mobile e agora seremos em intelig�ncia artificial”, garante. Para Bloisi, o Brasil ainda � muito carente em pesquisas nessa �rea, o que precisa ser revisado caso o pa�s queira aumentar a proje��o de suas startups no cen�rio mundial.
GRANDES N�MEROS No m�s passado, o iFood fez cerca de 12 milh�es de entregas no Brasil – 138,8 a cada segundo. Por ano, a empresa tem crescido a uma taxa m�dia de 140%. A GrubHub, maior empresa desse segmento nos Estados Unidos, que vem crescendo cerca de 40% ao ano, divulgou recentemente que faz uma m�dia de 416 mil entregas di�rias, enquanto que o aplicativo brasileiro est� na casa dos 390 mil pedidos atendidos e 9,1 milh�es de usu�rios ativos.
Segundo Bloisi, o aumento da concorr�ncia no mercado nacional n�o chega a ser motivo de preocupa��o. O iFood, diz, � 16 vezes maior que o segundo colocado e 20 vezes maior que o n�mero 3. Apesar da aparente tranquilidade, a companhia n�o pretende descuidar. Tanto � assim que parte dos US$ 500 milh�es ter� como destino a aquisi��o de concorrentes, como a que foi feita h� cerca de tr�s meses com a compra da Pedido J�. No passado, adquiriu a HelloFood e a RestauranteWeb.
Apesar de todos esses movimentos e planos, Bloisi n�o fala qual � o valor de mercado do iFood. O que ele garante � que a empresa j� passou a fase de “unic�rnio” – quando uma startup � avaliada acima de US$ 1 bilh�o – desde mar�o do ano passado e a Movile como um todo chegou ao mesmo patamar h� quase dois anos. � uma filosofia da Movile n�o sobrevalorizar esse crit�rio. Em seu material de divulga��o e nas conversas com jornalistas, seus executivos costumam dizer que “sonham muito maior.”
Em entrevista em agosto, Eduardo Henrique, diretor de Novos Neg�cios e cofundador da Movile, disse ao Estado de Minas/Correio Braziliense: “N�o falo de valuation ou de abertura de capital. O conceito que eu gosto � de 1 bilh�o de usu�rios felizes. � para isso que trabalhamos, fazemos planos de fus�es e aquisi��es. N�o pensamos pequeno. Queremos criar uma empresa global de US$ 15 bilh�es, US$ 20 bilh�es, US$ 30 bilh�es. Esse � o nosso caminho”. Na ocasi�o, ele lembrou o tamanho do potencial do mercado brasileiro e como a tecnologia poder� ajudar no crescimento. No neg�cio da alimenta��o, 95% das encomendas s�o feitas por telefone e apenas 5% por aplicativos.
Segundo Carlos Moyses, CEO do iFood, h� muito espa�o para avan�ar. “Estamos animados com o potencial do mercado brasileiro. Hoje, da forma que crescemos, n�o canibalizamos as opera��es feitas pelo atendimento telef�nico pelos pr�prios restaurantes, mas sim trazemos novos clientes.”
CASA DE FERREIRO Ao final da apresenta��o dos dados para um pequeno grupo de jornalistas, Bloisi convidou a todos para o almo�o. Mas, apesar de comemorar os n�meros atuais e os planos agressivos de expans�o, as refei��es n�o foram pedidas pelo aplicativo. Restou ao executivo lamentar, um tanto acanhado: “N�o pediram o almo�o pelo iFood?”.
Por onde a Movile se movimenta
Al�m da �rea de alimenta��o, a Movile atua nos setores de t�quetes, educa��o e cuidados e entrega. Fazem parte da vertical Food as empresas iFood, Spoonrocket, SinDelantal e Mercadoni. A Sympla (plataforma para venda e gest�o de ingressos e inscri��es para eventos) integra o bra�o Tickets. J� a PlayKids (plataforma de conte�do educativo infantil) e a Wavy (plataforma de conte�do de mensagens para operadoras de telefonia m�vel) est�o sob o guarda-chuva Education&Care. No bra�o Rapiddo est�o Rapiddo Marketplace (plataforma de integra��o entre diferentes servi�os, como delivery de comida e cupons de desconto), Delivery (entregas de diferentes produtos), Zoop (plataforma aberta de pagamentos e servi�os financeiros) e Maplink (plataforma de log�stica e geolocaliza��o em nuvem).
Entrevista
Fabr�cio Bloisi/presidente e cofundador da Movile
Reconhecimento de voz chega em at� 12 meses

Fabr�cio Bloisi, presidente e cofundador da Movile, acredita que o Brasil tem potencial n�o apenas no segmento de alimenta��o, mas em v�rios setores que dependam de tecnologia para se tornar mais competitivos. Para o empres�rio, o pa�s tem condi��es de gerar muitas startups avaliadas em dezenas de bilh�es de d�lares. Em entrevista, ele fala como pretende avan�ar na �rea de reconhecimento de voz e reduzir o valor dos pedidos.
Como foi o processo de convencimento dos s�cios para chegar � decis�o de aportar US$ 500 milh�es em um neg�cio que tem o Brasil como principal fonte de receita, justamente em um momento de transi��o de governo e na economia? S� o potencial de consumo � suficiente?
No Brasil, temos um mercado de consumo imenso e estamos em um momento positivo, com muitos investidores grandes olhando para a regi�o. Tivemos grandes aportes no pa�s e isso traz muito otimismo para o cen�rio de tecnologia brasileiro. Estamos apenas come�ando e estamos muito otimistas em liderar esse movimento, pois temos muitas oportunidades aqui para cria��o de empresas de US$ 10, US$ 20 e at� US$ 30 bilh�es no Brasil. O iFood est� apenas no in�cio de sua jornada e a oportunidade para um crescimento explosivo cont�nuo � imensa. O acr�scimo de investimento da Naspers e da Movile acelerar� esse crescimento, potencializar� o desenvolvimento e a inova��o de produtos, al�m de impulsionar a expans�o geogr�fica do iFood em toda a regi�o.
Como est�o as pesquisas na �rea de reconhecimento de voz? Quando a ferramenta deve estar dispon�vel?
Fomos parceiros do Google Assistant para lan�ar o recurso de voz do aplicativo do iFood, ent�o estamos indo em dire��o a essa tend�ncia. Por�m, no Brasil, ainda estamos andando mais devagar na aplica��o do reconhecimento de voz. Estamos investindo em acelerar essa realidade para que nos pr�ximos 6 ou 12 meses tenhamos algo incr�vel e que seja reconhecido globalmente.
A intelig�ncia artificial j� � usada na opera��o do iFood? Quando os clientes poder�o contar com esse tipo de ajuda?
A Movile acabou de contratar um vice-presidente de Intelig�ncia Artificial com o objetivo de acelerar o processo. A ideia � otimizar as rotas e os pedidos, com o objetivo de fazer com que os brasileiros deixem de cozinhar e criem o h�bito de fazer pedidos online.
Como � poss�vel reduzir o valor dos pedidos feitos pelo iFood, j� que esse tipo de gest�o � feita pelo dono do restaurante/lanchonete?
Faremos isso oferecendo mais infraestrutura e log�stica para os restaurantes para que eles foquem em fazer o que fazem de melhor, a comida, enquanto n�s cuidamos da estrutura de entrega, oferecendo a melhor experi�ncia para os nossos consumidores.
A empresa fala em crescimento, mas a expans�o r�pida tamb�m traz algumas dificuldades em qualquer neg�cio. O que foi preciso fazer ou que ainda tem de ser corrigido para melhorar a opera��o? A sele��o e treinamento dos entregadores, por exemplo?
Corre��o de rota � a realidade constante em uma empresa de alta tecnologia crescendo r�pido. Estamos sempre ajustando a rota, repensando como trabalhando. Conseguimos fazer isso operando de forma descentralizada, com pessoas muito boas e empoderadas, que podem elas mesmas corrigir o rumo, e mantendo a empresa alinhada em dire��o ao nosso prop�sito. Erramos muito, mas corrigimos r�pido, aprendemos e fazemos melhor.