Que o brasileiro l� pouco n�o � novidade. Entre 70 pa�ses avaliados em ranking pelo Programa Internacional de Avalia��o de Alunos (Pisa, na sigla em ingl�s), o Brasil est� na lanterna do �ndice de leitura, ocupando o 59º lugar. Para entender a crise que o mercado editorial enfrenta no pa�s, � do outro lado do mundo, na China – de volta � berlinda em recente pol�mica aberta pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro –, que uma das pernas mais afetadas do setor, a ind�stria gr�fica, encontra explica��o. A importa��o de toneladas de livros impressos na China persiste, sem dar tr�gua �s f�bricas de livros em terras tupiniquins.
De acordo com o presidente da entidade, Luiz Carlos Dias Oliveira, � como se o estado tivesse, nos �ltimos nove anos, importado cerca de 380 mil exemplares do best-seller Textos cru�is demais para serem lidos rapidamente, da Editora Globo Livros. O boom chin�s chegou a atingir 53,335 toneladas de livros embarcados ao estado em 2011, volume que voltou a cair, mas persiste, numa curva inst�vel, mas com presen�a garantida nos mercados mineiro e brasileiro. Naquele mesmo ano, o Brasil importou 11,5 mil toneladas da ind�stria gr�fica chinesa.
O fen�meno da invas�o da locomotiva asi�tica reflete os pre�os cerca de 35% mais baixos oferecidos pelas gr�ficas da China �s editoras no Brasil, comparados �queles pedidos pela ind�stria local, segundo Oliveira. Apesar da imunidade tribut�ria, prevista em lei, de que as gr�ficas desfrutam imprimindo livros, jornais e peri�dicos, o custo no Brasil n�o � t�o atraente para as editoras quanto a oferta do concorrente asi�tico. “N�o adianta, porque as nossas m�quinas n�o s�o avan�adas, o que nos faz perder a vantagem para o outro lado”, afirma.
Outro ponto questionado por Dias Oliveira, tamb�m presidente da regional mineira da Associa��o Brasileira da Ind�stria Gr�fica (Abigraf-MG), � que a ind�stria gr�fica, embora fa�a parte da cadeia da produ��o de um bem cultural, patrocinado pela Lei Rouanet – disponibiliza recursos para a realiza��o de projetos art�stico-culturais, como os livros –, n�o se beneficia da legisla��o. “Ela [a Lei Rouanet] ajuda na qualidade e conte�do dos livros brasileiros, que conseguem, de certa maneira, competir com os de outros pa�ses, mas s� envolve a produ��o intelectual. A�, eles (as editoras) mandam os livros para serem impressos em outro pa�s e a gente n�o ganha nada.”
Dias Oliveira admite que, al�m das condi��es desiguais em que a ind�stria gr�fica trabalha, frente ao concorrente chin�s, outro problema est� na gest�o ineficiente das empresas do setor. A ind�stria gr�fica e as pr�prias editoras, na avalia��o do industrial, n�o conseguiram acompanhar as transforma��es pelas quais esses mercados passaram nos �ltimos anos.
“N�o fizemos o nosso para casa do jeito que dever�amos. Atribuir essa crise s� ao governo � um equ�voco. A maneira de produzir � outra, as plataformas s�o diferentes e ningu�m quer entender isso”, relata. Questionado se ele se referia ao fen�meno da edi��o digital, o novo modelo de leitura dos e-books, Oliveira nega. “Ler um livro � muito diferente de ler um artigo na internet. O livro ainda � um produto tang�vel. N�s � que perdemos a maneira de comercializar e de empreender.”
Efeito cascata
No fim do m�s passado, Luiz Schwarcz, presidente da Companhia das Letras, uma das maiores editoras do Brasil, divulgou carta aberta em que analisa aspectos da atual crise editorial no pa�s. Na intitulada “Carta de Amor aos Livros”, ele cita os recentes pedidos de recupera��o judicial feitos pelas livrarias Saraiva e Cultura, o que teria gerado efeito cascata em todo o mercado editorial do Brasil. Schwarcz destaca que dezenas de lojas foram fechadas, centenas de livreiros despedidos e as editoras ficaram sem 40% ou mais dos seus recebimentos previstos.
Alencar Perdig�o, de 54 anos, dono da tradicional Quixote Livraria e Caf�, instalada na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, Zona Sul de Belo Horizonte, acredita que a crise tem rela��o, principalmente, com a modifica��o da cadeia de comercializa��o de um livro (do autor, passando pela editora, a gr�fica, a distribuidora e a livraria).
Ele considera ter havido altern�ncia do foco dos donos das grandes editoras. “Eles s�o, de certa forma, gananciosos, querem vender cada vez mais r�pido e mais barato. As editoras est�o eliminando tanto as distribuidoras quantos �s livrarias, est�o vendendo diretamente para o consumidor. A crise da Saraiva e da Cultura tem muito a ver com isso.”
Quando o assunto � a sa�de financeira das pequenas livrarias, Perdig�o defende como salva��o para o mercado a aprova��o da chamada Lei do Pre�o Fixo. Determina��o em vigor na Fran�a, Alemanha, Portugal e na vizinha Argentina, entre outros pa�ses, o projeto de lei em tramita��o no Senado prev� que, durante um ano ap�s o lan�amento do livro, as livrarias fiquem impedidas de aplicar descontos superiores a 10% em cada obra.
“Assim, as livrarias pequenas teriam as mesmas condi��es de venda do que os grandes comerciantes, como a Amazon e as lojas de eletrodom�sticos, que est�o interessadas em vender televis�o e n�o livro. Para vender aparelhos, eles jogam o pre�o dos livros l� pra baixo e voc� sai do site com um livro e uma TV”, afirma Alencar Perdig�o.
* Estagi�rio sob a supervis�o da subeditora Marta Vieira
