Conhe�a a hist�ria do brasileiro que criou startup de US$ 1 bi

S�o Paulo – Formado em mecatr�nica pela Escola Polit�cnica da Universidade de S�o Paulo, Ariel Lambrecht � um empreendedor por natureza. Seu primeiro neg�cio foi o ebaH, rede social acad�mica que angariou mais de 1 milh�o de usu�rios ativos. Em 2012, depois de viajar de f�rias para a Alemanha, descobriu que os moradores locais chamavam t�xis por aplicativo. Da� nasceu a ideia de fazer algo parecido no Brasil. Ao lado dos colegas Paulo Veras e Renato Freitas, que tamb�m tinham estudado na Poli, Ariel fundou o 99, que mais tarde se tornaria o primeiro unic�rnio (como s�o chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilh�o) brasileiro e que acabaria vendido para a Didi Chuxing, considerada a Uber chinesa.

Irrequieto, Ariel n�o parou por a�. Em 2017, come�ou a desenvolver, com capital inicial de R$ 50 milh�es e ao lado de dois s�cios (al�m de Freitas, parceiro da 99, Eduardo Musa, ex-presidente da Caloi), a startup que acabaria por mudar a paisagem urbana das metr�poles brasileiras: a Yellow, empresa de aluguel de bicicletas que n�o depende de esta��es ou locais espec�ficos para a retirada e devolu��o das bikes. A Yellow n�o s� caiu no gosto dos usu�rios como se tornou um fen�meno empresarial. H� alguns dias, deu mais um passo – ou mais uma pedalada – ousado em sua curta trajet�ria: associou-se � mexicana Grin, maior empresa de patinetes el�tricos da Am�rica Latina. Da parceria nasceu a Grow, nome que vem da jun��o das palavras Grin e Yellow. Nesta entrevista, Ariel, que ser� o diretor de produtos da nova companhia, fala sobre as oportunidades de neg�cios na Am�rica Latina e o desafio de empreender no Brasil.

O que motivou a Yellow a se associar � Grin?
A fus�o re�ne os principais players da Am�rica Latina (juntos, j� estamos presentes em sete pa�ses) para criar uma companhia l�der em micromobilidade e permitir que seja constru�da uma infraestrutura abrangente de O2O (servi�os on-line para off-line) na regi�o. A soma das estruturas das companhias oferecer� servi�os de mobilidade, entrega de alimentos e pagamentos digitais. A oportunidade de mercado na Am�rica Latina � enorme. Ambas as empresas est�o escalando o mais r�pido poss�vel para atender � demanda dos usu�rios em toda a regi�o. Essa transa��o apresentou uma grande oportunidade de combinar for�as e recursos para avan�ar mais rapidamente.

Quem det�m o controle da nova companhia?
O controle pertence aos fundadores e investidores provenientes da Grin e Yellow.

Qual foi o aporte feito pelos s�cios de cada empresa? H� fundos de fora do neg�cio ou apenas quem j� era acionista?
Com a fus�o, a Grow tem acesso a uma linha adicional de financiamento de US$ 150 milh�es. N�o abrimos outras informa��es a respeito da opera��o.

A opera��o est� em que fase e quando vai se transformar em um �nico neg�cio?
Neste momento, estamos trabalhando na integra��o dos dois times, com forte interc�mbio de profissionais de todas as �reas das duas empresas, tanto do M�xico como do Brasil.

Como ser� o plano de expans�o? Juntas, qual � o tamanho de Grin e Yellow?
Juntas, as companhias contam atualmente com mais de 135 mil patinetes e bikes em sete pa�ses, j� realizaram 2,7 milh�es de viagens em apenas seis meses e contam com 1,1 mil funcion�rios. O plano de curto prazo � mais do que dobrar a frota, al�m de ampliar ainda mais as ofertas e expandir para outros pontos da Am�rica Latina nos pr�ximos meses. A Grin e a Yellow contaram com uma ado��o muito r�pida em seus respectivos mercados. Esperamos um forte crescimento de usu�rios, j� que h� uma enorme demanda n�o atendida em toda a Am�rica Latina. A regi�o compartilha muitas das mesmas caracter�sticas-chave de mercado que a China, o Sudeste Asi�tico, a �ndia e outras regi�es onde o transporte sob demanda decolou.

Que caracter�sticas s�o essas?
Alta densidade populacional, forte penetra��o de telefonia m�vel, popula��o n�o bancarizada, transporte p�blico e infraestrutura subdesenvolvidos, ecossistema, cultura e clima amig�veis para bicicletas e scooters.

A Yellow fala da possibilidade de entrar no mercado financeiro ao transformar a marca em uma carteira digital. Como est� esse projeto? A opera��o poder� se transformar em um banco digital, por exemplo?
A Yellow Pay � uma unidade central de neg�cios da Grow e, como tal, planejamos continuar a desenvolv�-la e expandi-la em todos os pa�ses nos quais a empresa estar� presente. O objetivo � oferecer uma maneira segura e conveniente de pagar em dinheiro pelos servi�os da empresa, principalmente porque existe um n�mero alto de pessoas, nos mercados nos quais atuamos, que n�o s�o bancarizadas.

''Vemos grandes oportunidades na �rea de mobilidade no Brasil. Todo problema, como o tr�nsito, gera oportunidades. Quem resolve o problema de muitas pessoas tem chance de obter sucesso''

Voc� tem pesquisado oportunidades em outros setores? Por exemplo, em health tech?
H�, sim, planos para expandir a parceria existente entre a Rappi e a Grin para a Yellow. Hoje, essa parceria permite que os usu�rios da Rappi desbloqueiem os patinetes el�tricos da Grin pelo aplicativo da Rappi.

O aumento da concorr�ncia no Brasil foi um dos gatilhos para a decis�o de se associar com outra empresa e acelerar os planos de internacionaliza��o? Por quanto tempo imagina que o mercado brasileiro ainda vai oferecer oportunidades nessa �rea?
A Grow est� preparada para enfrentar a concorr�ncia externa, com solu��es locais e customizadas para o usu�rio brasileiro e latino-americano, como o Yellow Pay. Acreditamos que o mercado brasileiro de micromobilidade tem muito a crescer em todas as metr�poles do pa�s.

Nos Estados Unidos, o n�mero de acidentes com ve�culos el�tricos tem chamado a aten��o das autoridades. Isso pode levar � cria��o de uma legisla��o restritiva?
A Grow v� com bons olhos o edital de chamamento p�blico aberto no �ltimo 2 de fevereiro pela Prefeitura de S�o Paulo. Os patinetes da Grow t�m buzina, farol noturno, luz indicadora de freio, indicador de velocidade e bateria, freio motor e mec�nico. Tem certifica��o da Ag�ncia Nacional de Telecomunica��es (Anatel) para a trava inteligente, um importante diferencial, visto que o dispositivo opera por meio de bluetooth. A empresa incentiva o uso do capacete e a��es educativas tamb�m s�o feitas via app e redes sociais com o objetivo de conscientizar os usu�rios e disseminar o uso respons�vel dos modais.

''A Am�rica Latina compartilha caracter�sticas da China: alta densidade populacional, forte penetra��o de telefonia m�vel, transporte p�blico e infraestrutura subdesenvolvidos''

Qual � a sua opini�o sobre o ambiente regulat�rio brasileiro?
N�s valorizamos o nosso relacionamento com os governos e �rg�os reguladores brasileiros, mexicanos e em todos os outros pa�ses em que operamos atualmente. Procuramos trabalhar em conjunto localmente para garantir o atendimento �s necessidades de cada comunidade em que operamos. Por exemplo, h� uma demanda enorme pelos servi�os da Grin e da Yellow, e algumas cidades pediram �s empresas para ajudar a definir o a regulamenta��o, o que � uma prova do bom relacionamento das empresas com esses setores em toda a regi�o. Os governos municipais de toda a Am�rica Latina est�o ansiosos por solu��es de transporte inovadoras, que sejam pr�ticas e amplamente acess�veis. Como esses servi�os j� est�o consolidados em S�o Paulo e na Cidade do M�xico, outras cidades implementar�o solu��es semelhantes para se manter competitivas e modernas em termos de transporte.

Logo que a opera��o come�ou, surgiram v�rios casos de vandalismo. Como a empresa lida com isso?
Lidamos com essa quest�o mobilizando nosso time de guardi�es, como � chamada nossa equipe de rua, para o monitoramento e organiza��o das opera��es de bikes. Mantemos contato constante com as autoridades locais para combater qualquer tipo de ocorr�ncia indevida. Al�m disso, � importante ressaltar que nossas bikes f oram desenvolvidas com pe�as exclusivas, que n�o se adaptam a outros modelos. Tamb�m convidamos os usu�rios e as comunidades a participarem da preven��o, fazendo den�ncias tanto no pr�prio app como diretamente na pol�cia. Isso tem ocorrido nas diversas cidades em que atuamos.

''Os governos municipais de toda a Am�rica Latina est�o ansiosos por solu��es de transporte inovadoras, que sejam pr�ticas e amplamente acess�veis''

Qual � o grande problema (ou os grandes problemas) para quem decide empreender na �rea de mobilidade no Brasil?
Vemos grandes oportunidades para empreendimentos na �rea de mobilidade no Brasil. Todo problema, como o tr�nsito, gera oportunidades. Quem resolve o problema de muitas pessoas tem grande chance de obter sucesso. Portanto, entendo que n�o h� dificuldades adicionais para empreender neste ramo.

O fato de profissionais aut�nomos usarem as bicicletas compartilhadas para fazer entregas de aplicativos chega a ser um problema para a Yellow? A empresa pretende coibir essa iniciativa?
Nosso servi�o � de aluguel de bikes e patinetes. Se esse servi�o est� gerando oportunidades de trabalho e renda para uma parcela relevante da popula��o, vemos o fen�meno com bons olhos.

Qual grande ideia gostaria de ter tido como empreendedor?
O Waze.