
S�o Paulo – Os bancos digitais t�m sido respons�veis por pautar muitas das inova��es do setor financeiro nos �ltimos anos. Com a tecnologia como ponto de partida, eles t�m conseguido concorrer com as institui��es tradicionais com a facilidade da opera��o on-line e a proposta de reduzir e at� zerar os custos para os clientes.
Agora, al�m de ter de dar conta de investimentos constantes na melhoria tecnol�gica, precisam encontrar formas de n�o ser atropelados pelo n�mero crescente de competidores.
Em junho, outro competidor chega a esse mercado, aumentando ainda mais a concorr�ncia. Fundado por ex-executivos do BTG Pactual, o C6 Bank tem, desde janeiro, a autoriza��o do BC para funcionar como banco. At� agora, seu aplicativo vinha sendo testado por funcion�rios e convidados.
''Uma das formas de n�o ser afetado pela concorr�ncia crescente � a oferta de servi�os''
. Priscila Salles, diretora de marketing e CRM do Banco Inter
Desde a semana passada, o banco abriu um programa para interessados em se tornar clientes do tipo “beta-testers”. A partir de maio, os inscritos receber�o uma senha de acesso ao aplicativo da institui��o financeira, para que fa�am parte da fase de testes e apontem problemas para que a equipe de tecnologia possa deixar a opera��o bem calibrada at� o lan�amento oficial.
Agora, est�o sendo oferecidos servi�os como conta-corrente sem taxa de manuten��o, cart�o m�ltiplo (d�bito e cr�dito) com a tecnologia NFC (pagamento por aproxima��o), saques gratuitos e ilimitados nos caixas da rede Banco 24Horas e TED para qualquer banco (ilimitada e sem custo).
Porta-voz do C6 Bank, Verena Fornetti explica que o lan�amento da fase de “beta-testers” n�o � uma estrat�gia de marketing para popularizar o banco, mas um caminho comum �s empresas de tecnologia, que ajuda a diminuir o tempo da ideia at� que o produto ou servi�o chegue ao mercado.
“Nesse tipo de neg�cio, o processo de trabalho � mais din�mico e � preciso reduzir o tempo que leva para um lan�amento. Em vez de ter a vers�o final do produto, a opera��o � iniciada com a vers�o PMV (Produto M�nimo Vi�vel), que permite come�ar a colher a impress�o dos usu�rios. A partir da� � constru�da uma nova vers�o, n�o como beta-tester, mas como beta-constante”, explica a executiva do C6 Bank.
Desde que a fase de testes come�ou, o app do banco ganhou nova vers�o a cada 15 dias. Parte desses ajustes veio de pesquisas qualitativas feitas como os clientes, que apontaram acertos e erros.
Ao contr�rio de alguns competidores, que apostam na oferta de solu��es banc�rias para o p�blico jovem, Verena conta que a ideia do C6 � ir al�m dos nichos e ser voltada a todo tipo de cliente, independentemente de renda (no caso da pessoa f�sica) ou faturamento (para as empresas). “A digitaliza��o tem sido um caminho escolhido tanto pela pessoa f�sica quanto pela jur�dica e vem crescendo cada vez mais na sociedade de uma forma geral, em diferentes servi�os. Queremos nos posicionar como banco de baixo custo, com qualidade e democr�tico.”
Al�m da participa��o de clientes desde a fase de concep��o do aplicativo, o banco tem investido em informa��o. O usu�rio que navega pelo app, explica a executiva, v� de forma clara as taxas cobradas e se h� saldo suficiente para uma determinada opera��o. Se ele entrar em cheque especial, diz Verena, que seja de forma consciente. “Estamos preocupados em fazer com que os clientes se sintam confiantes”.
COMUNIDADE DE CLIENTES O Nubank j� � um dos maiores bancos digitais do pa�s. Muitos de seus clientes extrapolaram essa rela��o para as redes sociais, formando comunidades no Facebook, por exemplo, onde a institui��o financeira � o tema principal das discuss�es. Esse movimento levou o banco a lan�ar, recentemente, depois de quase um ano de pesquisa, uma plataforma digital de servi�os financeiros para seus usu�rios. Lan�ada h� uma semana, a NuCommunity j� conta com cerca de 16 mil usu�rios.
“Esse espa�o surgiu para proporcionar a intera��o entre as pessoas”, diz a gerente de comunidade do Nubank, M�nica Hirayama. Segundo a executiva, os grupos em redes sociais surgiram de forma org�nica, sem a interfer�ncia do banco. Com o tempo, notou-se que faltava ao banco algu�m que participasse dessas discuss�es. Foi feito um mapeamento dos grupos e foram identificados os clientes que teriam potencial para funcionar como “embaixadores” da marca. “Vimos que era uma oportunidade de criar um ambiente onde eles encontrariam as informa��es corretas e com credibilidade.”
Al�m disso, a gerente acredita que a plataforma ser� uma forma de entender melhor o comportamento das pessoas. M�nica lembra que n�o se trata de uma rede social para clientes, mas um canal para os clientes se conectarem e se informarem sobre lan�amentos. “As rela��es por meio de comunidades s�o uma das caracter�sticas das empresas de tecnologia, por isso faz tanto sentido”, avalia.
No Nubank, cerca de 70% dos clientes t�m menos de 36 anos. Recentemente, a institui��o financeira divulgou ter chegado a todos os 5.570 munic�pios do pa�s, com aproximadamente 6 milh�es de consumidores.
Para estimular o interesse, o banco deve criar, com o tempo, formas de premiar os clientes mais engajados. Por exemplo, criando experi�ncias exclusivas com a marca, como a participa��o de testes para um novo produto, ou possibilitando que esses usu�rios estejam entre os primeiros a receber uma nova fun��o do app do Nubank. Os usu�rios s�o classificados em quatro est�gios de experi�ncia – de NuTalker a NuLeader –, segundo a sua participa��o. No caso do NuLeader, por exemplo, � oferecido o acesso a �reas restritas de informa��o sobre novos produtos.
Diretora da ABFintechs (Associa��o Brasileira de Fintechs), Ingrid Barth explica que, apesar do empenho e dos investimentos, os grandes bancos tradicionais ter�o dificuldades em competir com o modelo digital.
“Os bancos grandes est�o olhando para tecnologias que apenas v�o transformar algo que j� existe. Eles n�o surgiram como fintechs ou bancos digitais, que n�o precisam de ag�ncia e trabalham com um custo bem menor. A� est� a diferen�a”, analisa Ingrid.
Na sua opini�o, os bancos digitais ainda ter�o muito para crescer, j� que seus custos mais baixos v�o permitir a inclus�o no sistema financeiro dos desbancarizados, que hoje encontram as portas fechadas nas institui��es tradicionais, principalmente por estar negativados.
Por outro lado, s�o pessoas que se relacionam com as novas tecnologias – lembrando que o Brasil � um dos pa�ses com maior n�mero proporcional de usu�rios de smartphone. “Essas pessoas, muitas vezes, n�o conseguem nem ao menos abrir uma conta, mas esse n�o � um problema para os bancos digitais.”
A diretora da associa��o lembra, no entanto, que ainda haver� uma curva de aprendizado a ser percorrida. “Ser� preciso aprender a conversar n�o apenas com os millenials de S�o Paulo, mas de todo o Brasil, que apresentam caracter�sticas muito diferentes”, sugere.
Banco Inter lan�a marketplace com Google Palay e Spotify
Primeira fintech a abrir capital na B3, o Banco Inter � um dos irm�os mais velhos entre os bancos digitais brasileiros. Sua opera��o com contas digitais come�ou em 2015. No ano passado, sua carteira j� contava com 1,450 milh�o de clientes. Priscila Salles, diretora de marketing e CRM, conta que “uma das formas de n�o ser afetado pela concorr�ncia crescente � a oferta de servi�os”.
Recentemente, o Banco Inter passou a oferecer aos clientes um marketplace de servi�os digitais, em que � poss�vel comprar cr�ditos para usar em outras empresas, como Spotify, Google Play, Xbox e aplicativos de transporte. A institui��o financeira � 100% gratuita. Oferece desde os servi�os tradicionais, como conta-corrente e cart�o, at� uma carteira diversificada de investimentos e home-broker 100% gratuito. Sua receita vem da comiss�o obtida com servi�os, como o pagamento de boleto ou de cada opera��o processada de cr�dito e d�bito.
A implementa��o do marketplace possibilitou uma nova fonte de recursos. Com algumas dessas parcerias, o banco tem oferecido o chamado “cash back”, em que o usu�rio recebe uma parte do que gasta na aquisi��o do servi�o.
CONTA PORT�TIL O Inter conseguiu superar as metas internas de crescimento. Em parte, isso se deve a uma mudan�a na regulamenta��o do setor, feita pelo Banco Central (BC), que facilitou a portabilidade das contas-sal�rio, assim como ocorria com o servi�o de telefonia.
Hoje em dia, o banco mineiro det�m 12% de portabilidade de contas-sal�rio de todo o Brasil, entre f�sico e digital. “Esse n�mero � importante, porque s�o clientes ativos, j� que recebem seus sal�rios nessas contas”, explica a diretora.
Para a executiva, o crescimento da concorr�ncia n�o � um problema, nem mesmo com a press�o cada vez maior feita pelos grandes bancos f�sicos, que t�m investido em um modelo combinado com o digital. “Para as fintechs, as dificuldades est�o na parte regulat�ria. J� para os bancos grandes, concorrer com o digital exige uma quebra de paradigmas, como a mudan�a na cobran�a de tarifas. Essas mudan�as levam mais tempo, por isso os digitais saem na frente”, analisa a executiva do Banco Inter.
A isen��o na cobran�a de tarifas � o cart�o de visitas de institui��es como o Inter, que tem no seu site um “tarif�metro” que mostra quanto houve de economia sem o pagamento dessas taxas. S� nos primeiros quatro meses do ano, foram “poupados” R$ 398 milh�es.