
S�o Paulo – Poucos neg�cios oferecem tantas oportunidades no mundo atual do que a ind�stria da cannabis. Um relat�rio recente publicado pelo Banco de Montreal, a institui��o privada mais antiga do Canad� – e, portanto, bastante tradicional – chegou a essa conclus�o. “O potencial � t�o grande que poderia eventualmente elevar o n�vel do c�u”, disse o relat�rio.
O mercado global de cannabis movimentou no ano passado US$ 18 bilh�es. Segundo o levantamento do Banco de Montreal, ele chegar� a US$ 194 bilh�es at� 2026. Isso se o n�mero de pa�ses que liberarem o uso medicinal e recreativo da erva n�o aumentar mais do que o previsto.
Atualmente, 40 na��es permitem o uso medicinal da erva e outros cinco, o recreativo. Estima-se que, nos pr�ximos cinco anos, 60 pa�ses ter�o de alguma forma autorizado o uso da erva para fins diversos.
Por mais surpreendente que possa parecer, nenhum pa�s tem impulsionado tanto os neg�cios ligados � maconha quanto os Estados Unidos. De acordo com um relat�rio publicado pela consultoria Whitney Economics em parceria com o site Leafly, atividades ligadas � cannabis empregam 300 mil pessoas em territ�rio americano – mais do que as fabricantes de cerveja, que contam com 69 mil trabalhadores.
Segundo o mesmo estudo, a for�a de trabalho relacionada ao mercado da maconha avan�ou 44% nos Estados Unidos no ano passado, e dever� crescer ainda mais em 2019. Proje��es mostram que, at� 2025, aproximadamente 500 mil americanos dever�o ter sua renda associada � ind�stria da maconha.
Atualmente, a ind�stria legal da erva movimenta US$ 10 bilh�es nos Estados Unidos. Dez estados americanos j� legalizaram o uso do produto e 34 liberaram a maconha para fins medicinais. Segundo especialistas, os americanos se despiram de velhos preconceitos e perceberam que a ind�stria oficial da cannabis pode gerar muito dinheiro – e produzir novas fortunas em ritmo alucinante.
O crescimento extraordin�rio dos neg�cios da cannabis tem atra�do empresas de diversos setores. A Ambev fechou no final do ano passado uma parceria com a canadense Tilray, uma das maiores produtoras de maconha do mundo, para a pesquisa e desenvolvimento de bebidas feitas � base de cannabis, com infus�es de CBD e THC – os dois canabinoides mais conhecidos do mercado. Enquanto o THC � respons�vel pelos efeitos alucin�genos, o CBD tem propriedades relaxantes.
Op��o para crescer
Descobrir novas frentes de neg�cios � um imperativo para a ind�stria de bebidas. A venda de bebidas alco�licas est� estagnada nos Estados Unidos e a de refrigerantes tem sofrido com a concorr�ncia feroz dos produtos naturais e menos danosos � sa�de. Quem n�o se reinventar – ou ao menos encontrar novas possibilidades no mercado – estar� condenado ao desaparecimento.
A maconha pode ser uma sa�da. A Constelattion Brands, que det�m a marca Corona nos Estados Unidos, comprou 38% da canadense Canopy Growth, uma das l�deres do mercado local de maconha, e a Heineken lan�ou em meados do ano passado bebidas com CBD e THC, vendendo os produtos principalmente na Calif�rnia, na costa oeste dos Estados Unidos, que se tornou o maior mercado legal de maconha do mundo.
N�o s�o apenas as empresas de bebidas que vislumbram possibilidade lucrativas com a cannabis. A Altria, segunda maior empresa de tabaco do mundo e dona da marca de cigarros Marlboro, investiu recentemente US$ 2 bilh�es na Cronos Group, empresa canadense que desenvolve pesquisas que estudam as possibilidades de aplica��o da maconha.
At� empresas de ilumina��o entraram na onda. Maior companhia global do setor, a Signify, derivada da Royal Philips, tem faturado com a venda de equipamentos chamados de “luzes de cultivo”. Em entrevista recente concedida � Bloomberg, Eric Rondolat, CEO da Signify, saiu em defesa da erva. “Onde est� legalizado, n�s participamos”, disse Rondolat. “No mundo inteiro, vemos uma evolu��o na mentalidade sobre a produ��o de cannabis. Esse j� � um mercado substancial e com uma perspectiva muito interessante daqui para a frente.”
A Signify n�o fornece detalhes sobre a performance das vendas de luzes de cultivo de maconha, mas n�meros gerais do mercado confirmam o tremendo potencial do setor. Com a legaliza��o da cannabis para fins medicinais em diversos pa�ses, o mercado de ilumina��o para horticultura dever� crescer de US$ 2,1 bilh�es em 2018 para US$ 6,2 bilh�es at� 2023, segundo proje��es feitas pela firma de consultoria Markets and Markets.
Mercado nacional
No Brasil, o debate a respeito da legaliza��o ganhou volume nos �ltimos meses. O projeto que legaliza o uso da cannabis sativa para fins medicinais est� na Comiss�o de Direitos Humanos e Legisla��o Participativa (CDH) do Senado. De acordo com o texto, a droga poder� ser usada para aliviar as dores em doentes de c�ncer ou para controlar as convuls�es em epil�ticos. No Brasil, cerca de 600 mil pessoas sofrem de epilepsia resistente aos tratamentos convencionais – � esse p�blico que os defensores da libera��o afirmam querer ajudar.
Apesar das incertezas, investidores brasileiros est�o atentos a esse mercado. O Greenfield Global Opportunities, fundo criado por Martim Mattos, ex-diretor financeiro da Hypermarcas, est� investindo em pa�ses onde o uso medicinal ou recreativo da maconha � permitido.
Os investimentos do Greenfield se concentram nos Estados Unidos e Canad�, que lideram as inova��es no setor. Entre os aportes, consta a empresa de big data Headset, que coleta dados das vendas de cannabis no varejo, e a Northern Swan, terceira maior produtora de maconha do mundo na �rea de cultivo.
No Brasil, US$ 2,4 bilh�es em neg�cios
Enquanto diversos pa�ses avan�am na libera��o de produtos derivados da cannabis, no Brasil eles est�o muito longe de ser negociados livremente. Segundo especialistas, a legaliza��o tem poucas chances de avan�ar, considerando principalmente o perfil conservador do atual governo e do Congresso.
Estudos recentes mostram que, do ponto de vista econ�mico, a libera��o poderia trazer benef�cios ao pa�s. Se fosse liberado, o mercado de cannabis acess�vel (maconha regulamentada e il�cita) movimentaria cerca de US$ 2,4 bilh�es no Brasil, segundo levantamento realizado pela consultoria americana New Frontier Data em parceria com a The Green Hub, empresa brasileira especializada em potencializar iniciativas no mercado de cannabis medicinal.
Na Am�rica Latina, a erva poderia gerar receitas de US$ 9,8 bilh�es nos cinco principais pa�ses consumidores, incluindo M�xico (US$ 1,9 bilh�o), Chile (US$ 1,5 bilh�o), Argentina (US$ 1,1 bilh�o) e Col�mbia (US$ 700 milh�es). Os pa�ses latino-americanos citados no relat�rio da New Frontier Data contabilizam uma popula��o de 600 milh�es de habitantes, dos quais 13 milh�es consomem cannabis no m�nimo uma vez por ano.
“� medida em que a comunidade internacional dedica cada vez mais aten��o a uma reforma das leis de consumo de cannabis e envolve-se com o setor da cannabis legalizada, surge uma mir�ade de oportunidades em lugares onde at� pouco tempo atr�s essa atividade parecia inimagin�vel”, diz Giadha Aguirre de Carcer, fundadora e diretora-executiva da New Frontier Data.
Como n�o poderia deixar de ser, h� muita controv�rsia sobre uma poss�vel descriminaliza��o da maconha no Brasil. Para ju�zes e desembargadores do F�rum Nacional de Ju�zes Criminais (Fonajuc), o pa�s n�o est� preparado para enfrentar as poss�veis consequ�ncias da libera��o da erva ao consumo pr�prio. Para a entidade, as cidades brasileiras se tornariam ainda mais violentas com o poss�vel surgimento de novos grupos criminosos que lutariam pelo controle dos processos de distribui��o da maconha aos consumidores.