
S�o Paulo – A oferta de produtos veganos, mais variados e com melhor sabor, tem crescido em muitos pa�ses. Tanto que recentemente, pela primeira vez, uma empresa desse setor, a americana Beyond Meat, abriu capital na Bolsa de Nova York. Mas h� outras companhias com o mesmo plano de chegar ao mercado de capitais e distribuir seus produtos pelo mundo.
Uma delas � a foodtech chilena, come�ou a vender sua maionese, NotMayo, feita a partir de gr�o de bico nas lojas do P�o de A��car, do GPA, em abril, e agora se prepara para nacionalizar sua produ��o e aumentar o portf�lio. Para isso, j� conta com alguns executivos brasileiros.
Segundo Muchnick, a decis�o de vir para o Brasil foi tomada por conta do tamanho do mercado, que tem visto, assim como em outras grandes economias, o interesse crescente de multinacional do setor de alimentos por companhias que atuam no segmento dos produtos mais saud�veis.
“Se o produto � bom, mais natural e conveniente, os brasileiros v�o comprar”, aposta o empreendedor. O pre�o n�o chegou a ser um problema nas primeiras exporta��es para o Brasil, j� que sua maionese de gr�o de bico n�o tem a press�o do pre�o dos ovos, que impactam em cerca de 48% no custo de produ��o do alimento n�o vegano.
Hoje, a produ��o da maionese da NotCo, diz Muchnick, chega a 100 toneladas por m�s, com uma unidade fabril que funciona nos tr�s turnos para levar a marca para as prateleiras de redes como Walmart e Cencosud, no Chile. Segundo o fundador, hoje a marca j� tem 10% de participa��o no mercado chileno de maionese, onde o consumo per capita chega a quatro quilos por ano. “Aqui se coloca maionese em tudo”, brinca o s�cio.

Diante do tamanho do mercado brasileiro e depois de analisar os custos de produ��o local e compar�-los com os do Chile, os empreendedores decidiram fabricar a maionese por aqui. Al�m disso, v�o incluir na linha de produtos um tipo de leite vegetal (a mat�ria-prima por enquanto n�o � revelada) e sorvetes dentro de tr�s meses. Ao mesmo tempo que vai passar a fabricar no Brasil, a NotCo come�ar� a exportar para a Argentina e o M�xico.
Mas em boa medida esse movimento da NotCo de desembarcar no Brasil e come�ar a produzir nacionalmente s� foi poss�vel depois de algumas rodadas de investimento.
Dinheiro de bilion�rioas
Em mar�o, depois de rodadas anteriores de investimento, a foodtech levantou US$ 30 milh�es gra�as a participa��o da The Craftory, da Bezos Expeditions (fundo familiar do bilion�rio Jeff Bezos, dono da Amazon), do fundo Kaszek Ventures, que foi criado pelo GP Investments por uma de suas subsidi�rias, em 2018, para ser uma empresa de bens de consumo que apoia “marcas disruptivas”. S�o fundadores do GP Investments os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlo Alberto Sicupira e Marcel Telles, s�cios da 3G Capital – que por sua vez det�m marcas como Burger King e Kraft Heinz.
Tamb�m entrou nessa rodada de investimento o fundo Maya Capital, que tem Lara Lemann, filha de Jorge Paulo, como uma das s�cias. Desde a sua funda��o, a NotCo recebeu ainda US$ 250 mil da aceleradora de biotecnologia Indiebio, do Vale do Sil�cio, que entrou com o valor, seguida por mais US$ 3 milh�es aportados pelos fundadores do Mercado Libre. “Seremos a primeira companhia chilena na Nasdaq”, avisa Muchnick, animado com os primeiros resultados da vegana Beyond Meat, que em menos de um m�s multiplicou seu valor em bolsa por quatro.
No radar de Muchnick, est� o plano de ser uma empresa com potencial global de vendas. E o empreendedor acredita que a NotCo levar� vantagem em rela��o a gigantes que tentam nos �ltimos anos fazer um movimento em dire��o � alimenta��o saud�vel, como o McDonald’s com suas saladas e ma��s. “N�s j� nascemos com esse conceito e esse � o tipo de percep��o que n�o se muda na cabe�a do consumidor.”
Na atual etapa, o Brasil, segundo Muchnick, � mercado priorit�rio. “Ser� em seis meses o maior mercado para a NotCo, mas queremos que seja uma companhia latino-americana”. Para ganhar volume, o empreendedor sabe se a exclusividade com o P�o de A��car n�o ter� vida t�o longa. No entanto, ele n�o antecipa com quais redes est� negociando.
Recentemente, um deputado do PSL, partido de Jair Bolsonaro, protocolou na C�mara um projeto de lei (PL) para que seja proibido o uso do termo “carne” para produtos de origem vegetal, como “carne de soja’. Segundo Nelson Barbudo (MT), que � produtor rural, express�es como bife, hamb�rguer, fil�, bacon e lingui�a somente devem ser usados quando se referirem a “tecidos comest�veis de esp�cies de a�ougue, englobando as massas musculares, com ou sem base �ssea, gorduras, mi�dos, sangue e v�sceras, podendo os mesmos ser in natura ou processados”. Sua justificativa � que o termo “carne” para produtos de origem vegetal induz o consumidor ao erro.
“Politicamente n�o me parece adequado. Essa decis�o deveria valer por exemplo para produtos processados, que levam ingredientes como a soja e suas embalagens apontam que s�o carne de origem animal. Carne � um conceito, por isso estou de acordo desde que a lei se aplique para todos”, opina o empreendedor.