
O Brasil tem quase 13 milh�es de desempregados. A economia cresce mais lentamente do que o necess�rio e tamb�m milh�es de brasileiros est�o tendo dificuldades financeiras. Quem est� com o nome sujo encontra dificuldade para voltar a ter cr�dito na pra�a. Levantamento de dados feito pela Confedera��o Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Servi�o de Prote��o ao Cr�dito (SPC Brasil) mostra que, em m�dia, as pessoas demoram 14 meses para quitar as d�vidas que levaram � negativa��o dos CPFs.
Na hora de quitar as contas em atraso, os maiores obst�culos foram obter um bom desconto no valor total da d�vida (27%) e negociar prazos e formas de pagamento (24%). Dos entrevistados, 19% disseram n�o ter conseguido renda extra para honrar os compromissos em atraso. Entre os motivos que impossibilitaram o pagamento dessas contas est�o a redu��o da renda (42%), a perda de controle dos gastos (38%) e o surgimento de imprevistos (36%).
O desemprego � o principal fator que leva as pessoas a cair na inadimpl�ncia. � o caso de V�nia Caetano, de 43 anos. Sem renda frequente, ela viu o ac�mulo das d�vidas se transformar em pesadelo. “Acabei de sair de uma tentativa de negocia��o, na qual disse � mo�a que estou � espera de um trabalho, porque sem emprego n�o tenho como pagar. A gente faz bicos, uma faxina ali, vende espetinho, mas, em primeiro lugar, vem a comida e o g�s dentro de casa. O resto vai ficando para depois. N�o � f�cil quando a gente n�o tem emprego e continua sendo honesto”, lamenta.
No entanto, muitos consumidores, mesmo tendo fonte de renda definida, acabam mergulhando em d�vidas que n�o conseguem pagar. O educador financeiro da SPC Brasil Jos� Vignoli aponta a falta de planejamento financeiro como um dos principais motivos do endividamento. “O uso inadequado do cheque especial, do cart�o de cr�dito rotativo e dos credi�rios leva o brasileiro a ficar com o nome sujo”, explica. Al�m disso, existem problemas considerados menores, mas que tamb�m afligem os brasileiros, como os atrasos em servi�os de telefonia ou TV por assinatura, inadimpl�ncia no aluguel ou mensalidade escolar.
Segundo Vignoli quem est� endividado deve fazer uma an�lise de todos os gastos, para avaliar se o estilo de vida � compat�vel com a renda. “Muitas pessoas vivem acima de suas possibilidades. Com isso, acabam contraindo d�vidas, fazendo muitos empr�stimos, o que n�o � positivo”, afirma.
De acordo com o levantamento do SPC e do CNDL, entre as solu��es encontradas por ex-inadimplentes para quitar d�vidas destacam-se os cortes no or�amento (21%), o dinheiro do 13º sal�rio (15%), os “bicos” para gerar renda extra (13%) e o uso de reserva financeira, como poupan�a e outros investimentos (11%).
acordo Entre os que economizaram para quitar as d�vidas, 59% reduziram despesas com alimenta��o fora de casa e 54%, com lazer. J� 50% mencionaram ter controlado os gastos com vestu�rio e cal�ados (percentual que aumenta para 62% entre as mulheres), 39% com sal�o de beleza, servi�os est�ticos e cosm�ticos, enquanto 33% cortaram os servi�os de TV por assinatura.
Outro dado mostra que 68% dos entrevistados tentaram negociar as d�vidas que originaram a inclus�o do nome em cadastros de restri��o ao cr�dito. Desses, 43% procuraram o credor para propor um acordo e 24% foram procurados pela empresa para negocia��o.
A auxiliar de servi�os gerais Irismar Silva, de 37 anos, descobriu recentemente que est� com o nome no cadastro de negativados. “Tentei entrar em acordo, porque tinha um cheque meu na m�o de uma empresa. Fui tentar negociar e parcelar, mas eles n�o quiseram. Fui ao banco e descobri que meu nome est� no Serasa. Queriam que eu pagasse tudo de uma vez, mas n�o consigo pagar uma d�vida de 1 mil, que � o mesmo valor do meu sal�rio”, reclama.
* Estagi�rias sob supervis�o do subeditor Odail Figueiredo
DURA ROTINA
Obst�culos para quitar d�vidas
- Falta de desconto sobre o valor total do d�bito
- Obter prazo e formas de pagamento, na hora de negociar com o credor
- Dificuldade para conseguir renda extra que possibilite honrar os compromissos em atraso
Motivos do pendura Redu��o da renda
- Perda do controle dos gastos
- Imprevistos
Op��es para pagar
Cortou o or�amento e gerar sobra de recursos
Usou dinheiro extra, como o 13º sal�rio
Fez “bicos” para esticar a renda
Lan�ou m�o de reserva financeira, como poupan�a e outros investimentos
Fonte: CNDL e SPC
Vendedora quebrou o cart�o de cr�dito
De acordo com o especialista em finan�as pessoais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) F�bio Gallo Garcia, existem medidas que precisam ser tomadas para conseguir sair da “bola de neve” das d�vidas. A primeira � levantar com o credor exatamente quanto se deve. “De prefer�ncia, pedir por escrito, at� para conferir se a conta bate e ter certeza dos valores. Em muitos casos, os credores tentam incluir taxas que n�o fazem sentido”, alerta. Segundo ele, � interessante consultar um especialista dos �rg�os de prote��o ao consumidor para checar se est� tudo regular.
A partir do momento em que se tem a conta exata, � necess�rio fazer um plano para sair da d�vida, o que pode incluir buscar cr�dito mais barato ou alguma forma de realizar o pagamento de forma parcelada. “Al�m disso, � preciso resolver o problema da organiza��o financeira. � necess�rio gerar economia e encaixar o planejamento da d�vida no or�amento”, explica Gallo.
De todos os ex-inadimplentes, pesquisa do SPC Brasil e a CNDL indica que 89% acreditam ter melhorado a forma de administrar o or�amento ap�s ter o CPF negativado — principalmente por passarem a pensar mais antes de comprar (38%) — e 31% disseram que procuram controlar os gastos (31%). Para Jos� Vignoli, do SPC, � imprescind�vel priorizar os compromissos financeiros e aprender a organizar o or�amento. “Isso muda completamente a forma como se lida com o dinheiro”.
A vendedora Priscila Ferreira, de 31 anos, j� enfrentou v�rias dificuldades e hoje se v� aliviada e livre das d�vidas. “Eu devia muito e s� consegui resolver o problema quebrando o cart�o. Deixei de usar e, hoje em dia, nem tenho mais cart�o de cr�dito. Do pessoal todo que conhe�o, acho que eu sou das �nicas que n�o tem d�vida, a n�o ser as fixas mensais, que s�o escola de filho, aluguel, �gua e luz”, disse. (BR e RG)