
O aumento desregrado do uso de lenha nas casas trar� consequ�ncias negativas tanto para a sa�de quanto para o meio ambiente do pa�s. Esse � um dos alertas do estudo desenvolvido pela professora Adriana Gioda, do Departamento de Qu�mica do Centro T�cnico Cient�fico da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de Janeiro (CTC/PUC–Rio).
Segundo Adriana Gioda, a expans�o do uso da lenha no preparo de alimentos no Brasil est� relacionada ao aumento do pre�o do botij�o de g�s liquefeito de petr�leo (GLP). “Isso � muito visto, principalmente nas regi�es mais pobres. No Nordeste, o aumento do uso de lenha � muito maior do que nas outras regi�es”, diz. Conforme a Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombustiveis (ANP), a queda de 1% no consumo de GLP, de 2017 para 2018, significou 13,2 bilh�es de litros consumidos a menos em todo o Brasil.
Em dezembro de 2017, quando o pre�o do GLP na refinaria chegava ao maior valor at� o momento (R$ 24,38), a alta em rela��o a julho de 2017 atingia 37%. Em maio de 2018, mesmo com queda no pre�o das refinarias, o aumento acumulado desde julho de 2017 alcan�ava 24%, de acordo com informa��es do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese).
O desemprego tamb�m contribuiu para o aumento da lenha nas casas brasileiras. Com ele, segundo Adriana, vem um problema adicional, que � o uso de lenha catada, n�o comercial, em fog�es r�sticos, com queima ineficiente. “As pessoas acabam consumindo mais lenha e sendo expostas a uma quantidade grande de part�culas, o que agrava os problemas de sa�de”, explica.
Al�m da polui��o do ar, tanto no ambiente interno como externo, as pessoas acabam tendo doen�as variadas. O primeiro efeito s�o os problemas respirat�rios, como asma, bronquite, em fun��o das part�culas. “No longo prazo, isso acaba indo para a corrente sangu�nea, entrando no c�rebro e afetando v�rios �rg�os do corpo”, adverte.
Adriana Gioda destaca que nas regi�es Sul e Sudeste, tamb�m se usa lenha, mas de boa qualidade. “Rio Grande do Sul e Minas Gerais, por exemplo, fazem uso da lenha, mas t�m fog�es, lareiras e churrasqueiras de boa qualidade. Sem contar que a lenha � comercializada nessas regi�es. Voc� compra lenha, n�o pega lenha de floresta”, comenta.
A pesquisa da professora Adriana Gioda foi publicada na revista cient�fica Biomass and Bioenergy, usando dados dispon�veis de 2016 do IBGE e da Empresa de Pesquisa Energ�tica (EPE), vinculada ao Minist�rio de Minas e Energia.
Polui��o
A pesquisadora observa que quando houve distribui��o no pa�s do Vale G�s, ocorreu diminui��o do uso de lenha. “S� que, agora, o Vale G�s foi incorporado ao Bolsa Fam�lia, mas o programa n�o obriga as pessoas a comprarem g�s. Elas acabam abrindo m�o de comprar g�s e optando pelo que necessitam mais”. O Vale G�s foi um programa de distribui��o de renda implementado pelo governo federal brasileiro em 2001 para atender os benefici�rios da Rede de Prote��o Social, juntamente com o Bolsa Escola e o Bolsa Alimenta��o.
Pesquisas internacionais t�m mostrado o alto grau de polui��o causado pela queima de lenha e carv�o na cozinhar e como isso � prejudicial � sa�de no ambiente dom�stico. Em determinados casos, a polui��o dom�stica ultrapassa limites de seguran�a e as emiss�es de combust�o, que mistura mon�xido de carbono, metano e part�culas variadas, como a fuligem, contribuem diretamente para o aumento de doen�as e da mortalidade.
Em termos globais, Adriana informou que quase 3 bilh�es de pessoas usam lenha como principal combust�vel, o que equivale a 40% da popula��o mundial. Na �frica e na �sia, chega a 95% a parcela da popula��o que cozinha com lenha, em fog�es que n�o s�o adequados. “Muita gente morre em decorr�ncia dos efeitos da exposi��o”, ressalta.
Segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), s�o registradas mais de 4,3 milh�es de mortes no mundo, das quais cerca de 70 mil na Am�rica Latina e Caribe, provocadas pela polui��o do ar no ambiente dom�stico, gerada pela utiliza��o da lenha e carv�o. A maioria das mortes � prematura e afeta principalmente mulheres e crian�as.
Estimativa
Com sua equipe de pesquisa, Adriana Gioda procura dimensionar o custo do uso crescente da lenha pelas fam�lias, que pressiona o Sistema �nico de Sa�de (SUS). Em parceria com a organiza��o n�o governamental (ONG) Instituto Perene, a professora est� iniciando estudo sobre a utiliza��o de lenha na Bahia, um dos estados que mais consomem esse tipo de produto para cozinhar alimentos, sobretudo na �rea do Rec�ncavo Baiano.
Com os resultados apurados, ela pretende fazer proje��es do uso da lenha em n�vel nacional. Conforme a professora, muitos pa�ses t�m a comprova��o de que � mais barato usar outro tipo de combust�vel. “A gente pretende fazer estimativas do quanto se usa de lenha, como isso est� afetando a sa�de, um estudo bem grande nessa regi�o mais exposta, para ter um projeto-piloto e transformar isso em termos de Brasil”, diz. A primeira parte da pesquisa dever� ficar pronta em tr�s ou quatro anos.