postado em 04/08/2019 06:00 / atualizado em 04/08/2019 08:23
Da produ��o de 105 milh�es de pares por ano no munic�pio do Centro-Oeste de Minas, s� 3% s�o destinados ao exterior, especialmente � Argentina (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Nova Serrana – Pisar em novos quintais vizinhos do Brasil deixou de ser apenas um sonho para virar esfor�o concentrado nas f�bricas do principal polo cal�adista de Minas Gerais, Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado. Na ind�stria comandada por Pedro Gomes da Silva, h� 26 anos no ramo, a ordem � buscar clientes na Argentina, Peru, Col�mbia e Bol�via, aproveitando toda a experi�ncia que a empresa conquistou ao atravessar a fronteira do Brasil, mas ainda com embarques t�midos. “Vamos aderir a todos os projetos de exporta��o. O mercado externo � a alternativa”, diz o industrial.
A f�brica de Alfredo Assis Pereira tamb�m trabalha firme no projeto de fincar bandeira no exterior e, para isso, criou este ano um departamento dedicado a incrementar exporta��es. Al�m de embarques j� feitos � Argentina, a ind�stria conquistou espa�o nos mercados do Panam�, Costa Rica e Paquist�o. “A exporta��o � interessante por v�rios fatores, melhora o fluxo de caixa, a carteira de pedidos � maior e ainda temos um c�mbio que nos favorece”, diz Assis Pereira.
Os fabricantes de cal�ados de Nova Serrana querem alavancar o setor, incrementado as vendas externas e antes mesmo do rec�m-anunciado acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia j� haviam definido o alvo certo: a Am�rica Latina.
Atualmente, da produ��o local de 105 milh�es de pares de sapatos por ano, s� 2% a 3% chegam �s prateleiras de outros pa�ses, especialmente Argentina, Equador e Bol�via. No ano passado, as vendas ao exterior do polo cal�adista movimentaram US$ 13,5 milh�es com o com�rcio de 2,8 milh�es de pares – 32,8% de todo o cal�ado que foi exportado por Minas Gerais. A meta, agora, � ambiciosa: pelo menos dobrar esses n�meros.
No comparativo com 2017, o volume de vendas externas at� aumentou no ano passado, j� que foram comercializados 2,78 milh�es de pares naquele ano. No entanto, o valor m�dio do par caiu: US$ 4,70 em 2018, frente a US$ 5,30 em 2017. J� no mercado interno, o primeiro semestre n�o se revelou dos melhores para os cal�adistas, pois os n�meros mostram uma estagna��o nas vendas no comparativo com os seis primeiros meses de 2018, enquanto o custo de produ��o cresceu. Dessa equa��o, ganha for�a a busca pelos mercados vizinhos, onde os consumidores t�m prefer�ncias similares �s dos brasileiros e procuram o tipo de cal�ado fabricado em Nova Serrana.
Desafio de se adequar aos padr�es internacionais
“J� conhecemos bastante os gostos e modos de opera��o na Am�rica Latina, que tem ainda uma identidade cultural bastante forte conosco. E � um mercado que ainda tem muito a ser explorado”, pondera o presidente da Associa��o Brasileira das Ind�strias de Cal�ados (Abical�ados), Heitor Klein. Mas para chegar ao mercado internacional n�o basta querer: � preciso se adequar a padr�es e obter algumas certifica��es. Segundo o Sindicato Intermunicipal das Ind�strias de Cal�ados de Nova Serrana (Sindinova), entre as 1,2 mil micro, pequenas e empresas de porte m�dio instaladas nos 12 munic�pios que integram o polo cal�adista da regi�o, n�o chega a 10% o universo daquelas que j� exportam seus produtos.
Um dessas empresas � a Randall, de Pedro Gomes da Silva. Dos 3,2 mil pares de t�nis vulcanizados produzidos diariamente na f�brica, cerca de 4% s�o exportados. A empresa j� fechou neg�cios tamb�m com Estados Unidos e M�xico. “H� uma queda geral na produ��o em raz�o da retra��o do consumo interno e vivemos a falta de onde escoar a produto. O mercado internacional � a nossa op��o”, diz o propriet�rio da empresa.
Mesmo para quem j� ganhou o mercado internacional, n�o h� d�vida de que ainda h� muito espa�o a ser conquistado l� fora. � o que defende M�rio Menezes, consultor do N�cleo de Com�rcio Exterior do Sindinova. “Fizemos v�rias entrevistas com importadores em eventos do setor e um ou outro conhecia a regi�o. Somos hoje um mercado reconhecido internamente pela qualidade e competitividade, os outros pa�ses precisam nos conhecer e saber disso”, afirma.
Novas gera��es Na avalia��o de M�rio Menezes, a busca pela exporta��o est� ganhando adeptos na medida em que novas gera��es familiares v�m assumindo os neg�cios, com uma vis�o mais moderna de produ��o e mercado. O N�cleo de Com�rcio Exterior do Sindinova foi criado recentemente para orientar e assistir os empres�rios.
“O parque industrial est� formado e o Brasil n�o apresenta um espa�o no m�dio ou curto prazo para aumentar o consumo interno. Ent�o a meta � a gente aumentar as exporta��es”, disse Ronaldo Lacerda, presidente do Sindinova, que representa cerca de 400 empresas de Nova Serrana. O setor aposta em uma feira marcada para este m�s na cidade, quando estar�o na mesa de negocia��es representantes de Argentina, Col�mbia, Uruguai, Peru e Bol�via.
Am�rica Central e Estados Unidos em segunda fase
Pesa a favor de Nova Serrana, segundo os especialistas, a semelhan�a nas condi��es clim�ticas e tend�ncias de moda entre o Brasil e os demais pa�ses da Am�rica do Sul. Hoje, a cidade exporta principalmente os segmentos de cal�ados femininos com plataforma, sapatilhas e rasteirinhas, e os t�nis esportivos. Em um segundo momento, as aten��es estar�o voltadas tamb�m para pa�ses da Am�rica Central e Estados Unidos.
Inadimpl�ncia A Organiza��es Amaral contabiliza a venda de 60 mil pares de t�nis vulcanizados por ano no mercado externo, especialmente � Argentina. A meta inicial � recuperar outros clientes argentinos e colombianos. E, quem sabe, chegar a usar toda a capacidade produtiva da empresa, que � de 10 mil pares di�rios. Hoje a produ��o � de 3 mil pares.
“A cidade cresceu, a ind�stria cal�adista � muito grande, ent�o temos que buscar novos mercados para espalhar o nosso produto”, diz Geraldo C�sar da Silveira, um dos propriet�rios da empresa. A busca de novos mercados � uma alternativa tamb�m para compensar a alta inadimpl�ncia que a empresa hoje � obrigada a enfrentar: j� chega a quase R$ 1 milh�o o d�bito de clientes.
A Redak resolveu concentrar os neg�cios no Brasil e encerrou a venda de cal�ados para Argentina, Suriname e Paraguai no in�cio dos anos 2000. Diante da crise nacional, 15 anos depois as exporta��es voltaram para a pauta da empresa, a ponto de, neste ano, ter criado um departamento voltado exclusivamente para esse segmento. O volume de vendas ainda est� bem abaixo da meta de vender 25% da produ��o – o �ndice atual � de menos de 10%, informa Alfredo Assis Pereira, propriet�rio da empresa.
“Al�m de uma alternativa � crise no mercado interno, a exporta��o � interessante por v�rios fatores, melhora o fluxo de caixa, a carteira de pedidos � maior e ainda temos um c�mbio que nos favorece. Uma empresa que quer crescer tem de exportar”, defende Assis Pereira. A ind�stria exporta cerca de 60 mil pares de cal�ados femininos por ano.
Europa entra nas proje��es
Amparados pelo acordo comercial fechado recentemente entre a Uni�o Europeia e o Mercosul – e que prev� o fim das tarifas no per�odo de sete a 10 anos –, os empres�rios de Nova Serrana admitem o interesse de conquistar o mercado europeu em um futuro n�o muito distante. Hoje, as negocia��es com pa�ses da Europa est�o concentradas no polo industrial do Sul do pa�s, onde os cal�ados t�m mais identidade com o clima e as tend�ncias do Velho Continente.
“Esse acordo entre Mercosul e Uni�o Europeia nos traz uma vantagem competitiva bastante relevante. Temos um fluxo de com�rcio intenso com os pa�ses europeus, mas somos tolhidos por um patamar mais elevado que o adequado para uma disputa com maior tranquilidade”, explica Heitor Klein, presidente da Associa��o Brasileira das Ind�strias de Cal�ados (Abical�ados). Dados do primeiro semestre deste ano apontam negocia��es de US$ 148 milh�es com a Europa, sendo a Fran�a o maior comprador de sapatos brasileiros: 2,47 milh�es de pares.
Mas para Nova Serrana entrar nesse mercado, os empres�rios t�m consci�ncia de que � necess�rio investir em novos materiais e design para atender �s caracter�sticas de um consumidor bem diferente do latino-americano. “Para se colocar no mercado europeu, que � bem mais sofisticado, � um pouquinho mais trabalhoso, mas � compensador e vale a pena o investimento, pois os resultados s�o vantajosos. Isso vale tamb�m para Nova Serrana”, completa Klein.
De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal das Ind�strias de Cal�ados de Nova Serrana (Sindinova), Ronaldo Lacerda, em um primeiro momento os esfor�os ser�o concentrados para uma maior proximidade com o mercado da Am�rica Latina, mas o mapa da Europa n�o est� riscado. “� muito mais f�cil come�ar com mercados mais pr�ximos, que t�m identidade de l�ngua e o mesmo clima que o nosso. Mas podemos buscar a Europa tamb�m”, planeja.