Uber lan�a Tuk-tuk no Brasil em momento delicado para patinetes
Parceria com a Movida come�a por Vit�ria e servi�o, o mais barato entre as modalidades oferecidas pelo aplicativo de transporte, n�o deve chegar a cidades de tr�nsito intenso
postado em 30/01/2020 04:00 / atualizado em 30/01/2020 08:53
Em parceria com a Movida, a Uber iniciou por Vit�ria, no Esp�rito Santo, a oferta de transporte em tuk-tuks. O servi�o n�o deve chegar �s cidades de tr�nsito intenso
(foto: Uber/Divulga��o)
S�o Paulo – Quem anda pelas ruas de Vit�ria tem a chance de encontrar um transporte incomum no Brasil: o tuk-tuk. O modelo el�trico come�ou a rodar na capital capixaba, nessa quarta-feira (29), depois de um ano e meio de conversas e testes desenvolvidos pela Uber e Movida. Por enquanto, est�o rodando 26 unidades do triciclo adaptado. Entre todas as modalidades oferecidas pelo aplicativo de transporte da cidade, essa ser� a mais em conta para o usu�rio.
Diretor executivo comercial e de marketing da Movida, Jamyl Jarrus lembra que n�o � a primeira parceria entre as duas empresas. No caso do tuk-tuk, explica o executivo, assim como em outros neg�cios na �rea de mobilidade desenvolvidos pela companhia do setor de loca��o de ve�culos, a novidade vai demandar cautela e n�o haver� pressa no processo de expans�o do modelo.
“Esse neg�cio tem algumas semelhan�as com o de carros, porque exige manuten��o, reposi��o de pe�as, por exemplo. Al�m disso, quando se investe em novas modalidades, � preciso levar em considera��o qual � a infraestrutura oferecida. E, � claro, se n�o � apenas uma necessidade ef�mera”, diz Jarrus. Segundo o executivo, a valida��o do modelo de aluguel de tuk-tuks levou tempo para ser definida porque exigiu uma s�rie de regulamenta��es. Entre elas, uma autoriza��o do poder p�blico para que o ve�culo pudesse funcionar no modelo proposto pela Uber.
''Os ve�culos s�o abertos, o que tem tudo a ver com o clima do litoral capixaba, e v�o oferecer uma experi�ncia in�dita para os brasileiros''
Silvia Penna gerente de opera��es da Uber
A Movida n�o antecipa quais s�o os planos que tem para o projeto. Mas o executivo aponta algumas caracter�sticas das cidades que poder�o contar com esse tipo de servi�o: sem tr�nsito intenso e com qualidades tur�sticas. Al�m disso, gra�as � pot�ncia do motor el�trico e do ve�culo, que transporta motorista mais dois passageiros, n�o � poss�vel us�-lo em lugares com muitas ladeiras.
O lan�amento do tuk-tuk acontece em um momento delicado para as empresas que trabalham com outro novo meio de transporte, o patinete. H� menos de uma semana, a Grow (uni�o dos neg�cios da mexicana Grin e da brasileira Yellow, anunciada em janeiro do ano passado), anunciou uma revis�o de seus planos no Brasil para a opera��o dos patinetes el�tricos e promoveu um enxugamento das cidades onde o aplicativo de aluguel est� dispon�vel.
Semanas antes, outra startup revelou seu descontentamento com a opera��o desse meio de transporte. A americana Lime comunicou que, apenas seis meses ap�s come�ar a oferecer seu servi�o de aluguel de patinete no Rio de Janeiro e S�o Paulo, deixaria o pa�s. Na reformula��o do neg�cio, foram exclu�dos do mapa da companhia outras cidades da Am�rica Latina, como Bogot� (Col�mbia), Buenos Aires (Argentina), Montevid�u (Uruguai), Lima (Peru) e Puerto Vallarta (M�xico).
No caso da Grow, a decis�o foi por manter o servi�o apenas em algumas cidades. As bicicletas amarelas, que por meses tomaram algumas ruas de cidades como S�o Paulo, est�o temporariamente fora de circula��o. Por meio de comunicado, a empresa informou que “a decis�o foi tomada para que a companhia promova um ajuste operacional e continue prestando servi�os de forma est�vel, eficiente e segura.”
Deixaram de ter a opera��o da Grow, al�m de Belo Horizonte e Bras�lia, as cidades de Campinas, Florian�polis, Goi�nia, Guarapari, Porto Alegre, Santos, S�o Vicente, S�o Jos� dos Campos, S�o Jos�, Torres, Vit�ria e Vila Velha. A empresa decidiu levar os patinetes dessas pra�as para onde o servi�o ser� mantido. No caso das bicicletas, sem data para voltar, foram tiradas de circula��o at� que, de acordo com a empresa, seja feito um processo de “checagem e verifica��o das condi��es de seguran�a”.
Ao puxar o freio de arruma��o, a Grow espera adotar um outro modelo de neg�cio. No lugar da opera��o 100% pr�pria, que encarece a opera��o, a ideia � conseguir parcerias p�blicas e privadas para, segundo o comunicado, “fortalecer e expandir sua opera��o”. A companhia garante, apesar da decis�o, que ainda h� espa�o para o mercado de compartilhamento de patinetes e bicicletas crescer.
A Grow atua em sete pa�ses da Am�rica Latina e realizou cerca de 20 milh�es de corridas desde o in�cio das duas marcas, em agosto de 2018. Quando a brasileira Yellow lan�ou o servi�o de aluguel de bikes, seus fundadores garantiram que os casos de depreda��o n�o eram em volume suficiente para que causassem preocupa��o.
Al�m de bicicletas destru�das e largadas pelas cal�adas das cidades, o que se come�ou a ver com o tempo foi o abandono e os furtos de patinetes. Com o aumento do n�mero de usu�rios, esses aplicativos passaram a registrar mais reclama��es de clientes insatisfeitos com a qualidade. Uma das queixas era a dificuldade em encontrar ve�culos com as baterias carregadas.
Vinicius Pican�o, professor de opera��es e design sustent�vel do Insper, avalia que a fase ainda � de experimenta��o das novas alternativas para micromobilidade tanto por parte das startups quanto em rela��o aos usu�rios. Isso explica o fato de se ver corre��es de rota. “As empresas v�o testando modelos de neg�cios, mudando os artefatos, na tentativa de derrubar custos e ter um modelo que pare de p�. A demanda � grande por alternativas de micromobilidade, mas n�o h� modelos inquestion�veis”, avalia o estudioso.
A exce��o, segundo Pican�o, s�o as bicicletas compartilhadas e ofertadas em esta��es, ou docas, que d�o sinais de consolida��o do modelo. Nesse caso, analisa o especialista, os custos de opera��o s�o menores diante da previsibilidade – o gestor sabe onde est�o as bikes e isso permite posicionar funcion�rios para os servi�os de manuten��o e at� reposicionar as �reas destinadas para a retirada e entrega do ve�culo.
J� ve�culos como os patinetes, lembra o professor do Insper, apresentam caracter�sticas que podem comprometer o neg�cio, como o seu pre�o e o valor cobrado do usu�rio (�s vezes mais caro do que servi�os de app de carro compartilhado), e a curta vida �til de um produto que � feito de pl�stico e metal.
Jamyl Jarrus, diretor-executivo comercial e de marketing da Movida, acredita que o ve�culo aberto ser� uma boa op��o em destinos tur�sticos (foto: Movida/Divulga��o)
Pican�o acredita que o tuk-tuk, por ser um h�brido entre bicicleta e carro e j� representar alguma refer�ncia para os brasileiros por causa do uso em pa�ses asi�ticos, poder� ter mais apelo. Ele destaca ainda o fato de o neg�cio ter surgido a partir de uma parceria entre duas empresas. “� algo a se ficar de olho”, diz.
Por defini��o, o diretor da Movida classifica o tuk-tuk como um modelo intermedi�rio de transporte entre o carro e o servi�o de motot�xi. “Serve para quem tem um pouco mais para gastar e est� em busca de mais seguran�a”.
Silvia Penna, gerente de opera��es da Uber, se diz animada com a novidade. “Os ve�culos s�o abertos, o que tem tudo a ver com o clima do litoral capixaba, e v�o oferecer uma experi�ncia in�dita para os brasileiros, que est� acontecendo nesses primeiros meses do ano, quando as temperaturas est�o altas e o n�mero de viagens aumenta nessa regi�o da cidade”, diz.
A executiva da Uber descarta o risco de a nova modalidade canibalizar os outros servi�os da empresa, oferecidos pelos motoristas de carros. “S�o produtos distintos que oferecem op��es diferentes para as pessoas se movimentarem por Vit�ria. Os Tuks proporcionam uma experi�ncia e as viagens de carro, outra. N�o s�o produtos concorrentes.”
� preciso melhorar a regulamenta��o
Doutora em transportes, Adriana Modesto e pesquisadora voluntaria da Universidade de Bras�lia, destaca a import�ncia de surgirem alternativas para atender a demanda da micromobilidade, que atende a trajetos curtos ou que podem ser complementados com outros meios de transporte, como �nibus e trem.
A estudiosa defende que haja mais intera��o entre o poder p�blico e as universidades na busca pelos melhores modelos de regulamenta��o. Ainda hoje, lembra a especialista, h� debates em torno da regula��o do servi�o de aplicativos de transporte por falta de planejamento. Quase sempre as novidades em micromobilidade chegam antes da regulamenta��o, o que acaba por provocar atritos.
“N�o podemos colocar freio na mobilidade, temos de nos adequar aos novos modos de deslocamento. Mas h� uma s�rie de aspectos que n�o s�o levados em conta nesse processo de expans�o de servi�os, como a fragilidade na seguran�a vi�ria e a falta legisla��o. Quanto mais chancelados por uma legisla��o que contemple esses servi�os espec�ficos, mais seguros nos sentiremos”, analisa Adriana.