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Estado de Minas ECONOMIA

Congelamento de concursos p�blicos fecha cursinhos

Em menos de uma d�cada, o n�mero de contrata��es de servidores federais caiu para quase um sexto do que era


postado em 02/03/2020 08:37 / atualizado em 02/03/2020 08:59

(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press - 07/01/2016)
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press - 07/01/2016)

H� tr�s anos, quando conversou com o jornal O Estado de S.Paulo, pela primeira vez, Caroline Santos tinha acabado de deixar o emprego em um escrit�rio de advocacia para mudar de vida: o dinheiro que juntou, com sacrif�cio, iria permitir a dedica��o exclusiva � prepara��o para o concurso para uma vaga de procuradora p�blica. Com recursos suficientes para se manter por dois anos, ela abra�ou uma rotina de at� 12 horas di�rias de estudo.

Com a queda no n�mero de concursos desde a crise, no entanto, ela teve de voltar h� quatro meses para o setor privado. Hoje, ganha o mesmo sal�rio de quatro anos atr�s. "Comecei a fazer uma p�s-gradua��o, para me destacar. N�o me arrependo de ter largado tudo para prestar concursos, � um sonho que n�o abandonei, mas que ficou guardado em um cantinho."

As medidas de austeridade dos �ltimos quatro anos colocaram a folha de pagamento dos servidores na mira do governo e fizeram minguar o n�mero de concurso, adiando os planos de muitos brasileiros que buscavam uma carreira no Estado.

Em menos de uma d�cada, o n�mero de contrata��es de servidores federais caiu para quase um sexto do que era. Se em 2010, foram admitidos 296 mil servidores, em 2018 (o dado mais recente), foram 50,7 mil, segundo dados da Rela��o Anual de Informa��es Sociais (Rais), da Secretaria do Trabalho, compilados pela consultoria LCA.

O economista Cosmo Donato, da LCA, lembra que em 2010 a conjuntura fiscal permitia a maior reposi��o do funcionalismo. "A orienta��o era de expans�o da m�quina p�blica, n�o por acaso, foi ano recorde de contrata��es. De l� para c�, n�o s� o espa�o fiscal continua restritivo, como estruturalmente o quadro exige uma reformula��o do funcionalismo."

Sem concursos novos, o funcionalismo deixou de ser reposto e, por enquanto, n�o h� autoriza��o para que sejam feitos concursos federais este ano de carreiras civis, apenas militares. Segundo o Minist�rio da Economia, 22 mil servidores federais devem se aposentar este ano. At� 2022, a previs�o � de que cerca de 60 mil deixem o servi�o p�blico.

Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo apontou que a equipe econ�mica decidiu travar sele��es de servidores at� que a proposta do governo de reforma administrativa passe no Congresso. No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Executivo n�o poderia ser "irrespons�vel" e abrir concursos "desnecess�rios".

Retrato


Capital informal dos concurseiros, Bras�lia � um retrato das mudan�as recentes no mercado de sele��o para novos servidores. "H� pouco mais de cinco anos, dava para esbarrar em um cursinho preparat�rio a cada meia hora de caminhada. S� que muitos alunos se cansaram de esperar pelo edital que nunca vinha e metade das escolas fechou", conta o professor aposentado de matem�tica Andr� Santos.

Para Jo�o Adilberto Xavier, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Cursos Livres do Distrito Federal, que tamb�m representa os cursinhos, n�o h� d�vida de que empres�rios do setor est�o sentindo a falta de novos concursos. Ele, no entanto, avalia que o setor sabe que, mais cedo ou mais tarde, as sele��es voltar�o.

"Faz parte do jogo. O empres�rio entende que o Pa�s est� em um processo muito complicado de recupera��o econ�mica e � preciso arrumar a casa. O Estado precisa voltar a ter musculatura para repor as suas pe�as", avalia Xavier.

Ele ressalta que quem sonha com uma vaga no servi�o p�blico deve entender que a tecnologia est� transformando tamb�m as carreiras de Estado e que as mudan�as de gratifica��o propostas na reforma administrativa ser�o positivas, se atra�rem novos servidores que realmente queiram fazer a diferen�a no setor p�blico.

'No ano passado,quase fui aprovada'


Sem perspectiva de novas sele��es para as carreiras civis federais e com o destaque que a ala fardada vem ganhando no governo, a procura por cursinhos preparat�rios voltados a concursos militares aumentou no primeiro ano de governo Bolsonaro.

Maria Gabriela Souza, 18 anos, tenta uma vaga na Academia da For�a A�rea (AFA) desde os 15 anos e sabe que a concorr�ncia aumentou. "N�o tenho militares na fam�lia, mas desde pequena comecei a pesquisar a trajet�ria de mulheres que seguiram nas For�as Armadas."

Ela conta que no ano passado n�o foi aprovada por pouco e que este ano vai refor�ar os estudos de matem�tica. "Quando a gente � aprovado, passa por um curso de forma��o que dura quatro anos. Como h� limite de idade para se tornar oficial, se at� os 21 anos n�o conseguir, minha segunda op��o � estudar direito e ser Policial Militar."

Segundo coordenadores de escolas preparat�rias especializadas ouvidos pelo Estado, a busca por turmas voltadas para sele��es da Aeron�utica, Marinha e Ex�rcito aumentou 30%, entre 2018 e 2019.

Aos 19 anos, Giovani da Costa faz cursinho h� tr�s anos tamb�m para tentar uma vaga na AFA. "No ano passado, s� n�o passei por nervosismo."

Para Andr� Barbosa, diretor do Curso de Sele��o Magister, de Bras�lia, com o desemprego alto e a falta de sele��es para servidores civis, � natural que a procura pelas carreiras militares tenha aumentado. "Temos hoje 15 turmas preparat�rias para col�gios militares e para as carreiras nas For�as Armadas."

Ele conta que as sele��es para o Ex�rcito s�o as que atraem mais pessoas, pela maior quantidade de vagas. "Muita gente passou a considerar as carreiras militares, mas acaba se assustando quando tem de enfrentar provas mais espec�ficas, com quest�es de matem�tica e f�sica. A parte boa � que, depois de formado, em algumas carreiras � poss�vel ganhar remunera��es iniciais de at� R$ 8 mil."

Receita Federal


Ao defender a reforma administrativa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo gastava 90% da receita com sal�rios e era obrigado a dar aumentos. "O funcionalismo teve aumento de 50% acima da infla��o, tem estabilidade, aposentadoria generosa... o hospedeiro est� morrendo, o cara (servidor) virou um parasita", disse durante um evento, causando pol�mica.

"Parasita, talvez, na c�pula dos Poderes. Mas nem todo funcion�rio p�blico age assim", diz o engenheiro Alberto Camargo, de 47 anos. Trabalhando por conta pr�pria h� duas d�cadas, ele decidiu come�ar a estudar este ano para concursos. "O mercado privado vai ficando mais dif�cil a partir de uma certa idade. Tem meses em que eu n�o consigo trabalho."

Ele, que estuda cerca de quatro horas por dia enquanto espera a volta dos concursos federais, planeja se candidatar a qualquer vaga que pague pelo menos R$ 5 mil por m�s, para pagar os estudos do filho. "Topo o que vier, mas queria tentar entrar na Receita Federal."

H� cinco anos sem sele��es e com sal�rios de at� R$ 20 mil, a Receita Federal � o sonho da maioria que tenta uma vaga, conta a coordenadora pedag�gica da Central de Concursos, Silene Rocha.

Sem concursos federais, no cursinho preparat�rio, que tem 1.800 alunos, a procura passou a ser por vagas municipais e estaduais.


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