
De acordo com a multinacional americana JLL, especializada em im�veis corporativos, o total de escrit�rios desocupados estava em um patamar que n�o se via desde o in�cio da d�cada passada - 13,6% - e o segmento esperava um cen�rio bastante positivo para 2020, com alta na demanda e nos valores de alugu�is. Com pandemia, a perspectiva mudou: a taxa de im�veis dispon�veis projetada para dezembro � de 20,9% - uma alta superior a 50% em nove meses.
E o resultado s� n�o � pior, passando de 25% de disponibilidade, porque o setor imobili�rio segurou boa parte das entregas de edif�cios deste ano. Al�m disso, o per�odo de isolamento social foi mais longo do que o esperado. Por isso, s� agora muitas empresas est�o fazendo as contas para saber, afinal, quantos metros quadrados ser�o suficientes para uma opera��o que inclua a ado��o mais permanente do home office.
Tend�ncia deve se manter em 2021
Para a diretora da �rea de transa��es da JLL, M�nica Lee, a demora de retorno ao trabalho presencial empurrou para 2021 pelo menos um quarto das devolu��es previstas para os pr�ximos meses. No ano que vem, os dados do setor devem ser influenciados tamb�m por inaugura��es. "O fato � que a situa��o das empresas ficou mais dif�cil. E, sem d�vida, muitas delas est�o reavaliando os custos com escrit�rios", afirma.
Segundo pesquisa da KPMG, um n�mero crescente de empresas s� pretende voltar ao escrit�rio em 2021. O movimento foi anunciado por empresas do setor financeiro, como a XP, e por gigantes de tecnologia, como o Google. A lista de grandes neg�cios que est�o revendo sua ocupa��o � longa: inclui o Banco do Brasil, que vai devolver 38% dos escrit�rios que hoje ocupa; o Ita�, que faz um estudo sobre o tema; e o laborat�rio Fleury, que decidiu concentrar toda a opera��o de S�o Paulo em um edif�cio a ser inaugurado em 2022 e vai apostar fortemente no home office.
A movimenta��o mais vis�vel � a dos grandes neg�cios - mas eles est�o longe de estar sozinhos ao tentar decifrar como ser� o escrit�rio do futuro. O comportamento das empresas de servi�os, que t�m gastos com pessoal e aluguel como principais custos, est� levando a cortes at� mais radicais do que o das gigantes nacionais.
O escrit�rio Kincaid Mendes Vianna Advogados, do Rio de Janeiro, decidiu fechar a unidade de S�o Paulo. "A gente ocupava um latif�ndio. Eram 400 m² para uma equipe de dez pessoas", explica o s�cio que atua na opera��o paulistana, Lucas Leite Marques. Resultado: agora o time todo trabalha de casa, e a empresa eliminou cerca de 60% de seus custos em S�o Paulo. "Queremos agora repensar, talvez ter salas em diferentes pontos da cidade - vamos olhar op��es mais flex�veis", diz.
Segundo advogados consultados pelo Estad�o, a n�o ser no caso de pr�dios constru�dos sob medida para grandes companhias, o custo de trocar de escrit�rio � relativamente baixo. Valem mais ou menos as mesmas regras de uma loca��o residencial: quanto mais perto do fim do contrato, menor � a multa de sa�da. Diante do potencial da economia envolvida, dizem especialistas, n�o se trata de um custo impeditivo � mudan�a.
Apesar de o cen�rio para o mercado de escrit�rios ser negativo, o executivo Andr� Freitas, da Hedge Investments, que administra R$ 6 bilh�es em fundos imobili�rios, acredita na for�a de im�veis corporativos "triple A" (alt�ssimo padr�o). "A valoriza��o real de 50% que a gente previa nos pr�ximos cinco anos n�o vai mais acontecer. Isso talvez caia a 20% ou 30%."
Empresas ampliam home-office e repensam custos
N�o � dif�cil encontrar empresas que est�o repensando a rela��o com o espa�o corporativo. No laborat�rio Fleury, a ordem � unir opera��es que hoje est�o espalhadas por S�o Paulo. A companhia est� construindo um novo edif�cio de 12 andares na da capital paulista, que dever� ficar pronto em 2022. Muitos dos trabalhadores da empresa, por�m, sequer chegar�o a colocar os p�s na nova sede
Isso porque a ado��o do home office pela �rea administrativa do Fleury, que hoje re�ne 1,4 mil trabalhadores, ser� intensa: 30% dos trabalhadores trabalhar�o em tempo integral de suas pr�prias resid�ncias. E os 70% restantes dever�o ir ao escrit�rio de duas a tr�s vezes por semana. Com a pandemia, a nova sede j� passou por uma revis�o. O espa�o das mesas individuais foi reduzido para 20% da ocupa��o total, segundo o diretor executivo de pessoas e sustentabilidade, Eduardo Marques.
Como a empresa prev� crescimento de seus laborat�rios nos pr�ximos dois anos, o executivo diz que � bem prov�vel que, ao longo do tempo, um porcentual cada vez maior da �rea ocupada por fun��es de apoio (mais adapt�veis ao home office) seja cedido � central de an�lises de exame, que exige um espa�o corporativo controlado.
Tecnologia
O escrit�rio Moraes Pitombo Advogados reduziu drasticamente seu espa�o em S�o Paulo: trocou um im�vel de 1 mil m² na Vila Ol�mpia por um de 270 m² na Faria Lima. A ado��o do home office, que era ocasional, far� parte do dia a dia. "Fizemos uma pesquisa, e 85% dos funcion�rios disseram querer trabalhar em casa", conta o s�cio Ant�nio Pitombo.
A economia com a mudan�a - que ser� de 66% - ser� revertida a outras �reas. "Estamos formatando uma biblioteca digital, investindo em seguran�a da informa��o e tecnologia. Troquei custo por investimento."
Cada vez mais adiamentos
Com o controle da pandemia de COVID-19 ainda distante, a volta aos escrit�rios no mundo corporativo est� ficando para depois, mostra uma pesquisa da consultoria KPMG. Um quarto (26%) dos empres�rios entrevistados entre junho e julho acredita que a volta aos escrit�rios ficar� mesmo para 2021. Na primeira edi��o do levantamento (abril e maio), apenas 9% apostavam numa volta s� em 2021.
Na �ltima semana, a diretoria da Dafiti, loja online de vestu�rio, tomou a decis�o de marcar a volta aos escrit�rios apenas para o ano que vem. At� ent�o, os cerca de mil funcion�rios colocados em home office - de um total de 2,8 mil - vinham sendo informados aos poucos sobre a continuidade do trabalho remoto.
Segundo Eduarda Perovano, diretora de recursos humanos, foram dois motivos principais para o adiamento: o home office est� funcionando e houve ades�o dos funcion�rios. Uma pesquisa interna mostrou que 90% deles se sentem confort�veis trabalhando de casa.