
Os consumidores podem se preparar para um fim de ano amargo, com os pre�os dos itens da ceia de Natal mais salgados, avisam os especialistas. O desemprego deve continuar crescendo e, com a redu��o do valor do aux�lio emergencial pela metade — de R$ 600 para R$ 300 —, muitas fam�lias precisar�o escolher o que colocar na mesa nas comemora��es, optando por lembrancinhas e substitui��es de produtos importados.
O per�odo das encomendas do varejo come�ou e, de acordo com os economistas, h� uma queda de bra�o com a ind�stria, que insiste em repassar os custos para a tabela de pre�os, principalmente, diante de disparada do d�lar, que encarece os itens importados j� tradicionais na mesa das festas de fim de ano.
Os especialistas lembram que, como o governo n�o tem dado sinais fortes de que conseguir� uma boa sa�da da crise, mantendo a promessa de que ser� respons�vel fiscalmente, a desconfian�a cresce. O reflexo disso bate no d�lar, que encerrou a sexta-feira a R$ 5,56, acumulando alta de 3,3% em apenas uma semana. A infla��o oficial est� em escalada desde junho, puxada pela alta dos pre�os dos alimentos, apesar de o Banco Central dizer que est� tranquilo em rela��o � carestia.
No atacado, o quadro � ainda mais preocupante e n�o h� d�vidas de que os reajustes ser�o repassados para o varejo mais � frente, prejudicando o Natal de milh�es de brasileiros. Conforme dados da Funda��o Getulio Vargas (FGV), o �ndice de Pre�os ao Produtor Amplo (IPA) disparou mais 6% nos 30 dias encerrados em 10 de setembro, e j� acumula alta de 25,52% em 12 meses, padr�o de infla��o argentina, que dever� bater no bolso dos consumidores em algum momento, apostam os analistas
E, para piorar, o mercado de trabalho n�o deve dar sinais de recupera��o t�o cedo. A expectativa dos analistas � de que o desemprego aumentar� neste fim de ano, especialmente porque, com a flexibiliza��o do confinamento, as pessoas come�am a sair de casa em busca de trabalho. “N�o haver� vagas no mesmo ritmo do n�mero de pessoas que come�a a procurar emprego. Como o setor de servi�os ainda deve demorar para apresentar uma recupera��o maior, os empregos tempor�rios comuns nessa �poca do ano n�o devem aparecer em n�meros expressivos”, alerta o economista-chefe da Confedera��o Nacional do Com�rcio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes.
O ex-diretor do Banco Central considera que o ritmo de retomada da economia ser� lento. Para Gomes, h� grandes chances de a taxa de desemprego ficar acima de 15% neste ano, n�vel que n�o se viu na recess�o entre 2015 e 2016. “As pessoas est�o sem emprego, e os que est�o procurando (emprego) n�o est�o encontrando”, pontua.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, admite que a taxa de desemprego pr�xima de 17%, prevista pela consultoria MB para 2021, pode ocorrer neste ano, porque o n�mero de pessoas trabalhando formalmente est� encolhendo a olhos vistos. Nessa conta, � preciso considerar o grande n�mero de empresas que devem fechar ao longo do ano devido � recess�o provocada pela covid-19. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o n�mero de pessoas ocupadas registrou queda recorde e gira em torno de 82 milh�es de pessoas.
“Se considerarmos os dados atuais da popula��o economicamente ativa, o n�mero de desempregados, de quase 13 milh�es, j� representa uma taxa de desocupa��o perto de 16%, mas �rg�os oficiais incluem quem n�o est� procurando emprego na base de c�lculo, distorcendo os dados”, destaca Vale. Ele lembra que cada ponto percentual a mais na taxa de desemprego � pouco mais de 1 milh�o de pessoas desocupadas no pa�s.
Apesar de o Banco Central demonstrar otimismo exagerado em rela��o � infla��o oficial medida pelo �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), que, neste ano, pela nova metodologia, reduziu o peso da alimenta��o em domic�lio na base de c�lculo, o economista-chefe da CNC lembra que os pre�os dos alimentos continuar�o subindo — principalmente os produtos tradicionais do Natal, que, em sua maioria, s�o importados e devem incorporar a alta do d�lar.
Com a carestia cada vez maior, o poder de compra do brasileiro est� diminuindo, e, al�m disso, o desemprego � um problema para as fam�lias no fim deste ano, porque, at� no com�rcio, a demanda por m�o de obra tempor�ria ser� menor do que nos anos anteriores, de acordo com Gomes. “O Natal ser� muito fraco e, se o d�lar continuar elevado, os itens importados dever�o ser substitu�dos ou reduzidos. � o Natal da quarentena, e tudo indica que n�o teremos um �timo Natal. Se for fraco, j� ser� bom”, lamenta.
O economista Alexandre Espirito Santo n�o tem d�vidas de que haver� muita substitui��o de importados na mesa da ceia de Natal em 2020 por conta da alta de pre�o dos alimentos. “As pessoas est�o inseguras em rela��o ao fim do ano. O Natal estar� condicionado � descoberta da vacina. Se isso ocorrer at� novembro, como o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria, sinalizou, pode ser que seja bom, porque haver� um efeito psicol�gico das pessoas em comemorar. Mas, se isso n�o ocorrer, o consumo e a economia n�o conseguir�o se recuperar t�o facilmente”, destaca. “Em casa, como h� muitas pessoas do grupo de risco, a comemora��o ser� menor. Mas, com certeza, o bacalhau n�o faltar�, mesmo se o d�lar continuar nesse patamar de R$ 5,50 e R$ 5,60. Se a moeda estiver mais cara at� l�, a quantidade ser� menor, pelo menos, para fazer o bolinho.”
Tradi��o
� o que planeja a empres�ria Francisca Moreira, 48 anos, diante da carestia dos alimentos nos supermercados. “A ceia de Natal vai ser com a fam�lia de casa, e ser� mais simples e com menos por��es. Teremos de rever a prioridade dos presentes e comprar algo que estamos precisando. N�o � apenas um capricho, mas uma quest�o de economizar”, explica. A estudante Ananda Almeida, 23, n�o tem d�vidas de que, neste ano, as comemora��es ser�o diferentes, com redu��o dos itens da ceia de Natal e dos presentes. “Acredito que a ideia de fam�lia reunida e casa cheia n�o � mais uma realidade neste momento. Dessa forma, comprar um item t�o caro, como o peru, para poucas pessoas comerem, pode n�o ser uma boa ideia. Mas, no geral, acho que, justamente pelo fato de a quantidade de pessoas ter diminu�do, algumas tradi��es podem ser mantidas por um pre�o acess�vel”, avalia.
“Para mim, o significado conta mais do que o pre�o em si. Ent�o, provavelmente, os presentes deste ano ser�o mais baratos devido � crise que estamos vivendo, com muitas pessoas desempregadas. O Natal � mais do que presentes caros”, acredita Ananda.