
Com a pol�mica sobre a taxa��o da gera��o distribu�da de energia el�trica fotovoltaica em banho maria, os consumidores residenciais de Minas Gerais j� podem contratar um novo fornecedor com a promessa de corte de 15% na conta de luz mensal e sem a necessidade de realizar nenhum tipo de investimento.
Pela primeira vez em d�cadas, os consumidores resid�ncias de energia tem op��o de mais de um fornecedor. Nessa corrida pelos clientes, at� ent�o “cativos” da concession�ria estadual, est�o v�rias companhias que investiram em fazendas solares no estado para atender a essa demanda.
Depois de investir na constru��o e compra de fazenda solar no estado e atender a clientes do com�rcio, servi�o e ind�stria de pequeno porte, empresas como �rigo, Solatio Energia Livre e a Cemig Sim – bra�o da estatal mineira para energia alternativas e efici�ncia energ�tica – se voltam agora para o mercado residencial de olho num potencial da ordem de 7 milh�es de unidades em todo o estado.
Ap�s investimentos de R$ 100 milh�es em parceria com a GD Solar e de atingir 52 megawatts(MW) de capacidade, a Cemig Sim, que j� tem cerca de 2 mil clientes comerciais atendidos por suas usinas solares, inicia em novembro o atendimento a consumidores residenciais, com a expectativa de chegar a mil contratos at� o fim do ano nesse segmento.

Investimento em Minas
A empresa tem hoje 10 fazendas com capacidade para gerar 40 megawatts (MW) de energia a partir da luz solar. J� a Solatio Energia Livre, uma joint-venture entre a espanhola Solatio – maior desenvolvedora de projetos solares da Am�rica Latina – e a CMU Energia, empresa mineira de comercializa��o de energia, anunciou investimentos de R$ 1 bilh�o para atender apenas a gera��o fotovoltaica distribu�da.A Solatio est� elevando sua capacidade de gera��o de 20 MW para 60 MW este ano e deve chegar a 200 MW. “N�s come�amos a operar no in�cio do ano e hoje temos cerca de 7 mil clientes em carteira, sendo que aproximadamente 1.200 s�o pessoas f�sicas”, informa Walter Fr�es, CEO da Solatio Energia Livre.
De acordo com ele, a Solatio, respons�vel pela implanta��o da maior usina fotovoltaica da Am�rica Latina, em Pirapora, com capacidade para gerar 321 MW, est� investindo R$ 20 bilh�es na instala��o de 15 usinas no estado at� 2023. “Desses, R$ 1 bilh�o v�o ser destinados � gera��o distribu�da”, frisa Fr�es.
Parceria para subsidi�ria
A Cemig Sim investir� mais R$ 100 milh�es em 2021 para elevar, via participa��o de 49% nos empreendimentos, sua capacidade para 104 MW, enquanto a �rigo vai gerenciar nove usinas que est�o sendo implantadas no estado pela GD Solar, parceira tamb�m da subsidi�ria da estatal mineira.Juntas, essas empresas ter�o nos pr�ximos anos uma capacidade instalada superior a 400 MW. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Neg�cios Sim, Jo�o Paulo Campos, cada usina de 5 MW (limite para enquadramento na gera��o distribu�da) pode atender a cerca de 200 clientes comerciais ou a aproximadamente mil unidades residenciais.
Isso significa que se destinarem apenas 30% da capacidade para o p�blico residencial poder�o atender a 24 mil resid�ncias, ou uma popula��o de cerca de 100 mil habitantes
Descontos e facilidades
Com todo esse potencial, as empresas planejam ampliar rapidamente suas carteiras de clientes com a oferta do desconto m�dio de 15% na conta de luz e a facilidade de ades�o � gera��o distribu�da fotovoltaica.
“O consumidor tem o desconto de 15% na conta e est� protegido das bandeiras tarif�rias. Al�m disso, os cr�ditos de energia (gerados como a produ��o � maior do que o consumo), podem ser usados posteriormente”, afirma o diretor Comercial da �rigo, Rodolfo Molinari.
Ele acrescenta que a ades�o do cliente � feita por um plano de assinatura contratado pelo site da �rigo. A meta da empresa � dobrar a carteira de clientes e chegar a 10 mil contratos no curto prazo.
“N�s desenvolvemos um produto diferenciado para dar ao consumidor a percep��o de desconto mais n�tida”, diz Jo�o Paulo. De acordo com ele, esse desconto ser� definido a partir da comercializa��o do plano residencial de gera��o distribu�da, mas deve ficar em linha com o praticado no mercado.
Para as empresas, o desconto da Cemig Sim na conta de luz chega a 18%. “O investimento do cliente � zero, sem qualquer necessidade de adapta��o e pode ser feito acessando o site e informando a conta de luz e ser� feita uma proposta de plano por email”, acrescenta o diretor da subsidi�ria de energia solar e efici�ncia energ�tica da concession�ria mineira.
Com funciona
O sistema � o mesmo usado pela Solatio Energia Livre, que oferece um desconto fixo de 15%. A ades�o tamb�m � feita pelo site da empresa.“Basta o titular da conta da Cemig acessar o site e seguir os passos no simulador. O sistema � inteligente e calcula a necessidade da casa, apartamento ou empresa e indica a quantidade de kWh por m�s a ser alocada pela Solatio Energia Livre. Esse kWh � 15% mais barato se comparado ao pre�o cobrado pela Cemig”, diz a empresa.
Walter Fr�es lembra que mesmo gerando o suficiente para seu consumo, o cliente ter� que pagar a taxa m�nima para a Cemig, que � de R$ 95 nas liga��es trif�sicas, R$ 47 nas bif�sicas e R$ 28 nas monof�sicas, equivalentes, respectivamente ao consumo de 100 kWh, 50 kWh e 30 kWh.
Crescimento � acelerado
O Banco Bradesco em Minas e a rede Supermercados BH acabam de optar pela energia solar da Solatio Energia Livre para atender as suas unidades no estado.
As duas empresas se juntam aos centenas de milhares de consumidores de todo o pa�s que hoje est�o conectados a uma fonte de energia fotovoltaica. E a perspectiva � de que nos pr�ximos anos ocorra uma explos�o de clientes da fonte renov�vel, com investimentos e gera��o de emprego.
“O crescimento do setor vai tornar a energia solar mais acess�vel do ponto de vista econ�mico. E estamos falando de uma cadeia que envolve a ind�stria, a instala��o e a manuten��o dos equipamentos”, afirma Cyro Boccuzzi, s�cio-fundador da ECOee, ex-vice presidente da Eletropaulo e integrante do Instituto de Engenheiros Eletr�nicos e Eletricistas (IEEE).
A previs�o da Associa��o Brasileira de Energia Fotovolta�ca � que neste ano sejam gerados, mesmo com a pandemia, 120 mil empregos no setor.
Apenas no primeiro semestre deste ano a gera��o distribu�da teve crescimento de 77% em rela��o aos primeiros seis meses do ano passado. Hoje, o setor de gera��o distribu�da no Brasil conta com 15 mil empresas, mais de 300 mil sistemas instalados e capacidade de gerar 3.900 megawatts (MW) de energia.
Um dos fatores que deve acelerar a expans�o � a redu��o de custos da tecnologia. “Um painel fotovoltaico hoje custa 10% do que custava h� 10 anos”, observa Walter Fr�es, da Solatio. “Dentro do custo total da constru��o de um im�vel, essa estrutura (solar) representa pouco mais de 1%”, refor�a Boccuzzi.
Outro fator que vai impulsionar o crescimento da energia solar � a economia para os consumidores. A Cemig Sim estima que a redu��o de custos para os seus cerca de 2 mil clientes j� ultrapasse os R$ 7 milh�es. Cliente da subsidi�ria da Cemig, o Mercado Central de Belo Horizonte informa que teve uma redu��o mensal de R$ 6.300 na conta de energia com o uso da gera��o distribu�da.
Taxa n�o amea�a corte de custo
Otimistas com a perspectiva de expans�o do mercado consumidor de gera��o distribu�da, as empresas de energia solar j� admitem que a remunera��o das distribuidoras pelos consumidores da eletricidade gerada por essa fonte n�o devem inviabilizar os descontos oferecidos pelos clientes nos pr�ximos anos.
“Essa quest�o foi levada muito para o lado pol�tico e isso paralisou a discuss�o, que deve ser retomada no ano que vem”, observa Walter Fr�es, CEO da Solatio Energia referindo-se � resolu��o 482 da Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel), que muda os crit�rios de compensa��o dos cr�ditos de energia para gera��o distribu�da.
Hoje, quando o consumidor gera sua energia num volume superior ao que consome pode compensar esse excedente que foi injetado na rede el�trica na base de 1 Kwh gerado por 1 kWh consumido. Com a entrada em vigor da resolu��o, a concession�ria n�o mais compensar� os cr�ditos nessa propor��o e a energia gerada pelo consumidor ter� um valor menor do que a que ele consome. O que est� em discuss�o � de quanto ser� esse percentual, que � chamado de taxa do fio.
“� preciso considerar que a Aneel discute a resolu��o sem tocar em direitos adquiridos, o que significa que os planos negociados n�o devem ser afetados com a vig�ncia da resolu��o”, lembra Fr�es, que considera justo que o “frete” das distribuidoras seja reajustado. Ele frisa, no entanto, que esse percentual deve ser razo�vel e n�o o mais danoso para os consumidores como sugerido pela Aneel. “Cada um que sair deixa uma conta maior para os que ficam no sistema el�trico e essa � uma conta que tem que ser feita de forma desapaixonada”, diz o CEO da Solatio Energia Livre e presidente da CMU Energia, que opera no mercado livre.
“A Aneel fez uma proposta para gera��o distribu�da e exagerou e, da forma como foi colocado, ficaria praticamente invi�vel, mas hoje tem projeto de lei tramitando com perspectiva muito mais plaus�vel para a gera��o distribu�da”, afirma o diretor de Desenvolvimento de Neg�cios da Cemig Sim, Jo�o Paulo Campos. Ele lembra que as discuss�es acaloradas num primeiro momento, quando se falou em taxa��o do sol, devem ser retomadas com uma perspectiva de desfecho que atenda os investimentos em gera��o distribu�da.
Para o diretor comercial da �rigo, Rodolfo Molinari, a proposta de remunera��o para as distribuidoras, que vem sendo discutida h� dois anos, tem que ser avaliada de forma mais t�cnica. Segundo ele, as distribuidoras recebem pela conex�o das fazendas solares e de todos os consumidores, uma vez que mesmo os que t�m gera��o solar ao se conectar na rede t�m que pagar um consumo m�nimo pelo tipo de conex�o da unidade consumidora. “O pagamento de uma taxa de uso do fio n�o inviabiliza, mas a quest�o � de quanto ser� essa taxa e isso hoje � visto pela Aneel e o Congresso como tendo que ser justa”, diz Molinari.