O retorno das opera��es da Samarco, que � uma joint venture criada pelas gigantes do setor de minera��o Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, ocorre antes mesmo de os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, destru�do pela lama, passarem a morar no chamado Novo Bento Rodrigues, uma recria��o do original, pr�ximo ao local da trag�dia. As fam�lias ainda moram em casas alugadas pela empresa em Mariana. Cerca de 600 pessoas aguardam pelas moradias no novo distrito.
A retomada da Samarco ocorreu nessa quarta-feira (23/12). A barragem da empresa, chamada Fund�o, ruiu em 5 de novembro de 2015. At� hoje ningu�m foi responsabilizado pelo rompimento da estrutura.
Em julho de 2017, uma a��o criminal por homic�dio contra integrantes do alto escal�o da Samarco, Vale e BHP chegou a ser suspensa pela Justi�a depois que os acusados afirmaram que provas obtidas nas investiga��es foram conseguidas de forma ilegal. A a��o foi retomada em novembro do mesmo ano e ainda n�o teve desfecho.
A constru��o do Novo Bento Rodrigues est� a cargo da Funda��o Renova, que tem � frente as pr�prias mineradoras, conforme o Minist�rio P�blico de Minas Gerais, um dos respons�veis pelas investiga��es sobre o rompimento da barragem. Desde 2016, quando os ex-moradores do distrito destru�do aprovaram a �rea para a constru��o do Novo Bento Rodrigues, a entrega das obras foi adiada duas vezes.
A data inicial era mar�o de 2019, adiada para agosto de 2020, por sua vez transferida para fevereiro do ano que vem. Um documento da prefeitura de Mariana enviado a futuros moradores do distrito mostra nova data, 9 de outubro de 2021. O papel fala ainda em uma "data m�xima" para a entrega: outubro de 2024. A Renova afirma que o tema � tratado em a��o civil p�blica e que a Justi�a foi informada sobre os impactos da covid-19 no andamento das obras.
Uma das ex-moradoras do distrito e que segue aguardando pela casa nova � Joana D'arc, de 48 anos, casada, seis filhos e seis netos. Ela mora com duas filhas em uma das casas alugadas pela mineradora na cidade. "T� todo mundo reclamando muito. A empresa volta a operar e a gente ainda n�o tem casa para morar? � muito dif�cil", se queixa.
Extra��o de min�rio em Ubu
O retorno da Samarco em Mariana possibilita a retomada tamb�m do funcionamento da planta da empresa em Ubu, no Esp�rito Santo, onde o min�rio de ferro extra�do na cidade mineira � processado. A produ��o chega ao estado vizinho via mineroduto. A mineradora afirma que a volta das opera��es acontecer� com a extra��o anual entre 7 milh�es e oito milh�es de min�rio de ferro por ano, o que equivale a cerca de 26% total da empresa.
"Tomamos a decis�o de retornar de uma forma gradual, com muita seguran�a e usando novas tecnologias. Este momento reflete o compromisso da empresa com o rein�cio sustent�vel, a seguran�a operacional, o meio ambiente e o relacionamento com as comunidades. Estamos comprometidos com uma minera��o moderna, segura e sustent�vel", afirma o diretor-presidente da Samarco, Rodrigo Vilela.
A empresa vai voltar a operar sem a disposi��o de rejeitos em barragem como a que ruiu. A Samarco afirma que usar� no processo de descarte a Cava Alegria Sul, uma estrutura criada a partir da retirada do min�rio de ferro considerada segura pela mineradora. Tamb�m foi introduzido na opera��o do complexo da companhia em Mariana o sistema de filtragem dos rejeitos para empilhamento a seco, que consiste em retirar a �gua do descarte que, em seguida, � empilhado.
A Samarco afirma esperar que "o sistema de filtragem de rejeitos em funcionamento permita que cerca de 80% do total de rejeitos sejam empilhados a seco na Cava Alegria do Sul ap�s o beneficiamento". E que os "20% de res�duos remanescentes, compostos por �gua e finos de min�rio, sejam levados para a Cava Alegria Sul, um espa�o confinado em uma estrutura de forma��o natural rochosa que aumenta a seguran�a".
As previs�es da empresa apontam que, em seis anos, a produ��o de min�rio de ferro em Mariana deve subir para entre 14 milh�es e 16 milh�es de toneladas. Outro incremento dever� ocorrer em cerca de nove anos, com a produ��o subindo para at� 24 milh�es de toneladas por ano. A empresa, por�m, depende de licen�as ambientais para todo o processo de aumento na produ��o.
A reportagem tentou contato com o prefeito de Mariana, Duarte J�nior, para falar sobre a retomada da Samarco na cidade. As liga��es n�o foram atendidas.
COVID-19
Duarte J�nior publicou em sua rede social nessa quinta-feira (24), que passaria o Natal internado em isolamento em um hospital. Segundo a nota da prefeitura, nas �ltimas semanas o prefeito, de 40 anos, teve diversos quadros de febre e em 21 de dezembro procurou o laborat�rio para fazer o teste para COVID-19 e deu negativo.
No dia seguinte, fez outro teste no Laborat�rio Municipal de Mariana e tamb�m deu negativo para a doen�a.“Ap�s uma ultrassonografia, percebeu-se que meu pulm�o tem um percentual consideravelmente afetado e, por este motivo, estou internado”, disse o prefeito na nota.
