
No entanto, alguns setores conseguiram driblar os efeitos da crise econ�mica e apresentar resultados positivos. � o caso do mercado pet que, segundo proje��es do Instituto Pet Brasil, encerrou 2020 com faturamento de R$ 40,1 bilh�es e crescimento de 13,5% em rela��o ao ano anterior.
O �ndice � 6,88% maior do que aquele projetado nos primeiros seis meses do ano passado. Alimentos e produtos veterin�rios lideram, com alta de faturamento de, respectivamente, 22,5% e 16%.
O analista do Sebrae Minas Jonas Bovolenta lembra que este setor j� apresentava crescimento e boa proje��o antes da pandemia, uma vez que o Brasil � o segundo maior mercado pet do mundo. Para ele, alguns fatores explicam essa expans�o.
“O h�bito de consumo e a forma como as pessoas tratam os pets hoje em dia. Elas passaram a morar mais sozinhas, a ter um novo estilo de vida e a buscar nos pets seus companheiros di�rios, passando a trat�-los como membros da fam�lia. Com isso, elas tendem a escolher mais produtos e servi�os de qualidade para seus pets. Em contrapartida, a ind�stria viu uma oportunidade nisso. Al�m do mais, � uma ind�stria que est� sempre inovando”, explica.
Com a pandemia, segundo Jonas, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e a redobrar os cuidados com seus animais de estima��o. O n�mero de ado��es aumentou tamb�m durante esse per�odo.
“� um setor com forte apelo emocional, muito ligado a forma como lidamos com os pets dentro de casa. Ele tamb�m vem acompanhando esse processo de transforma��o digital, que foi acelerado em raz�o da pandemia. Naturalmente, durante esse per�odo de isolamento, o consumo aumentou pelo meio on-line”, afirma.
Jonas acredita que outro fator pode ter contribu�do para este crescimento do mercado pet.
“Com certeza, o fato de ser considerado um servi�o essencial foi fundamental para esse crescimento. A economia teve um forte impacto em fun��o dessas medidas de restri��o, com com�rcio fechando.”
Para ele, nesse per�odo, as empresas menos impactadas por essas medidas de restri��o foram aquelas que j� tinham uma cultura digital e trabalhavam on-line. “Ser considerado um servi�o essencial possibilitou que as pessoas comprassem periodicamente no ponto f�sico”, completa.
Investir em tecnologia para crescer
O analista do Sebrae afirma que investir em tecnologia pode ser essencial, mesmo ap�s a pandemia. O com�rcio eletr�nico responde por 4,4% do faturamento do setor (1,5 bilh�o).
“No contexto p�s-pandemia, o canal on-line vai ser fundamental. Sob a �tica do consumidor, quem experimentou pela primeira vez on-line e gostou, viu o quanto � c�modo, �gil e r�pido comprar pela internet. Isso pode se tornar um h�bito, j� que o cliente hoje quer facilidade e comodidade. � um canal de vendas em que o empres�rio pode estabelecer uma conex�o maior com o cliente e gerar mais vendas”.
Para ele, os pequenos empres�rios t�m a seu favor um atendimento mais personalizado e para competir com as grandes redes devem ficar atentos �s transforma��es do mercado e acompanh�-las. “A quest�o do digital, ter uma boa gest�o dentro da empresa s�o pilares para se manter no mercado, caso contr�rio est�o fadados ao fracasso. � um setor que cresce e a tend�ncia � crescer ainda mais, independentemente de ser pequeno ou grande neg�cio”, finaliza.
� o caso do Grupo Brasil Pet, que come�ou em 2018 com uma rede de lojas de pet shop da marca americana Petland e, atualmente, � uma holding com seis marcas, entre elas cl�nica veterin�ria, franquia, solu��es de pagamentos e um programa de gest�o para pequenos empres�rios.
“A gente come�ou com a rede de lojas, trazendo a Petland, uma marca americana, que existe h� mais de 50 anos e est� em 19 pa�ses. Em 2014 trouxemos a marca para o Brasil, com o objetivo de profissionalizar o pequeno empres�rio e fazer uma rede de lojas. Nosso foco s�o lojas de bairro, de pequeno e m�dio porte”, explica Rodrigo Albuquerque, CEO do Grupo.
Em 2020, a empresa contabilizou 217 lojas, com faturamento de R$ 180 milh�es, das quais 40% das unidades vendidas entraram no segundo semestre. As lojas operam em 23 estados nas principais cidades do pa�s.
Programa Afiliados e mais lojas em Minas
Rodrigo conta que, em raz�o da pandemia, o grupo decidiu criar um programa para ajudar os pequenos empres�rios do setor. O Afiliados � um pacote de benef�cios totalmente on-line com foco em conte�do e gest�o, al�m de uma agenda cheia de treinamentos. O afiliado tamb�m pode vender on-line, ter acesso a ferramentas de marketing e ao centro de compras.
“Com a pandemia decidimos fazer alguma coisa para ajudar os pequenos empres�rios. Criamos uma universidade digital espec�fica para este p�blico. Temos aulas de vendas, marketing, fluxo de caixa, veterin�ria. Toda semana tem uma aula nova.”
Al�m disso, os afiliados t�m acesso tamb�m a uma mentoria individual para poder destacar pontos em que eles podem melhorar, como disposi��o dos produtos na vitrine e ilumina��o da loja, por exemplo.
“Damos um plano de a��o para ele, bem direcionado. A partir disso, ele entra na parte de capacita��o. Temos um grupo de Whatsapp apenas para compartilhar conte�dos quase diariamente. Fazemos tamb�m reuni�o mensal on-line, em grupo. Al�m disso, os afiliados podem comprar produtos de marca pr�pria, usar as m�quinas de cart�o, para diminuir o custo da taxa e melhorar a opera��o”, acrescenta.
S�o 130 lojas nesse modelo de afiliados, 10 delas no estado de Minas Gerais. Os afiliados t�m 4 meses de car�ncia e pagam uma mensalidade de R$ 389.
Para Rodrigo, o crescimento do mercado pet, em um ano de crise para outros setores, est� ligado a uma soma de fatores. “Em um momento delicado desses, com as pessoas trancadas em casa, elas ficam muito mais tempo com o animal, a intera��o aumenta. E acaba agradando mais esse bichinho. Com isso, aumenta a venda de petisco, de brinquedo. O animal precisa interagir porque est� saindo menos para passear e ele vai acabar precisando de mais brinquedos e produtos.”
O empres�rio ressalta que o e-commerce aumentou de 3,5% das vendas totais para 9%, em 2020. O fato dos pet shops n�o terem limita��o de funcionamento tamb�m ajudou. “ Teve um movimento normal nas lojas f�sicas. Os hor�rios ficaram mais espa�ados para marca��o de banho, com menos pessoas, seguindo todas as regras. Mas, as lojas est�o cheias. Neste per�odo de medidas mais restritivas, as pessoas tendem a ir para lugares que est�o abertos. Ent�o, isso tamb�m favorece o canal f�sico. Ele acaba sendo at� um programa para as pessoas em momentos como esse.”
O grupo abriu sua primeira loja em Uberl�ndia no in�cio deste ano e tem planos de inaugurar mais unidades nos pr�ximos anos. Em abril � a vez de Varginha, na regi�o sul do estado. A rede tem planos contratados para Po�os de Caldas e outras cidades do entorno. Em 2 a 3 anos pretendem abrir mais 5 lojas na regi�o sul. J� em Belo Horizonte existem 2 lojas em obras e mais 10 unidades contratadas para os pr�ximos anos. “A meta � ter pelo menos 40 lojas no estado pelos pr�ximos 5 anos.”
Pequenos neg�cios s�o maioria
Apesar do faturamento das grandes redes, de acordo com o Instituto Pet Brasil, o Brasil tem 40 mil lojas do mercado pet, sendo que a maior parte s�o pequenos neg�cios, que se enquadram na categoria loja de vizinhan�a (79,6%), com faturamento m�dio de R$ 60 mil a R$ 100 mil e possui at� quatro funcion�rios.
Al�m disso, a pesquisa O Impacto da pandemia de coronav�rus nos Pequenos Neg�cios, feita pelo Sebrae, entre os dias 25 de fevereiro e 1° de mar�o de 2021, mostra que o setor de pet shops e servi�os veterin�rios foi um dos menos afetados neste per�odo de pandemia.
Ao todo, 6.228 empres�rios de todos os 26 estados e Distrito Federal foram entrevistados e 33% deles relatam que seu faturamento foi melhor que em 2019. J� 12% dizem que foi igual, 47% que foi pior e 8% n�o souberam ou quiseram responder.
Entre os ouvidos, 35% est�o funcionando da mesma forma que antes da crise, 52% est�o funcionando com mudan�as por causa da crise, 10% est�o com funcionamento interrompido temporariamente e apenas 4% decidiram fechar a empresa.
Para 78% deles, o faturamento mensal diminuiu em rela��o a um m�s normal, 12% afirmaram que ele permaneceu igual, 8% que ele aumentou e 2% n�o souberam ou quiseram responder.
Mesmo sendo um dos setores menos afetados durante a pandemia, 34% afirmam que est�o com d�vidas em atraso.
“N�o paramos de atender em nenhum momento”
Stefano Gon�alves Viana, de 48 anos, � empres�rio e dono do Point Dog Pet Shop, localizado no Bairro Sagrada Fam�lia, Regi�o Leste de Belo Horizonte. O estabelecimento funciona h� 23 anos e Stefano possui mais duas lojas.
“Na principal eu tenho servi�o agregado de parte veterin�ria e banho e tosa. As outras duas lojas, na mesma regi�o, t�m somente venda de produtos.”
Ele conta que teve crescimento no faturamento, durante mais de um ano da pandemia. “N�o tivemos queda, n�o paramos em nenhum momento e tivemos um crescimento em torno de 10% a 20% do ano passado para este.”
Stefano acredita que o bom faturamento est� relacionado ao fato das pessoas passarem mais tempo em casa. “As pessoas ficaram carentes e encontraram apoio nos animais. Quem passou a trabalhar em casa e tinha um cachorrinho, teve que dar uma aten��o maior para o bichinho. At� na minha demanda de servi�o, eu cresci mais de 20% de 2020 para este. Conseguimos ter crescimento em todos os tr�s setores: servi�o voltado para a parte veterin�ria, banho e tosa, al�m da venda de produtos.”
Outro fator, segundo ele, “as parcerias consolidadas com nossos fornecedores fazem diferen�a para a melhora e o crescimento significativo. � um momento em que devemos ter mais aten��o ao neg�cio, formatar melhor as parcerias com fornecedores, melhorar o relacionamento com a equipe de trabalho, para poder extrair dela o m�ximo poss�vel de produtividade. A log�stica, o acesso (mais facilitado) do cliente � loja, ter uma maior variedade de produtos. � um conjunto de fatores.”
Ele acrescenta que n�o fechou as lojas nenhum dia, em fun��o da pandemia. “Em alguns momentos, de acordo com o decreto, restringimos o acesso do cliente dentro da loja. Mas, n�o paramos de atender em nenhum momento. No per�odo mais cr�tico do ano passado, quando o decreto estava mais severo, a gente determinou o espa�o para a pessoa ter acesso � loja. Como n�o � um neg�cio que cria aglomera��o, hoje o cliente entra na loja, tem tr�s pontos diferentes com �lcool em gel e marca��es no ch�o para quando ele precisa ficar aguardando. Dentro do consult�rio e da sala de espera s� � permitida uma �nica pessoa.”
O empres�rio acredita que as medidas foram eficientes, j� que nenhum dos 20 funcion�rios teve coronav�rus.
“No come�o foi um pouco complicado, a gente n�o sabia o que podia funcionar ou n�o”
J� Bernardo Mour�o Bernis, de 41 anos, m�dico veterin�rio e propriet�rio do Petcenter, localizado no Bairro S�o Pedro, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, encontrou algumas dificuldades no in�cio da pandemia. O estabelecimento funciona h� 14 anos e apesar de tamb�m vender produtos, � especializado em servi�os veterin�rios, banho e tosa e hospedagem.
“No come�o foi um pouco complicado, a gente n�o sabia ao certo o que podia funcionar ou n�o. Foi um per�odo muito incerto. Logo que aconteceu o primeiro fechamento da cidade, eu tive que dar f�rias para os funcion�rios e ficamos s� os veterin�rios para fazer os atendimentos, consultas, emerg�ncias. Todos os demais servi�os ficaram suspensos, por quase um m�s. Depois deste per�odo fomos retomando”, explica.
Bernardo conta que as pessoas tinham receio de levar o animal para tomar banho no pet shop. “N�o t�nhamos as informa��es que temos hoje.”
Segundo ele, o movimento se manteve e n�o houve preju�zo. No entanto, os servi�os de hotel e creche sofreram baixa. “As pessoas n�o est�o viajando. T�nhamos um volume bom em animais de hotel e creche. Muitas vezes, elas saiam para trabalhar e deixam o animal aqui, para passar o dia. Com as pessoas trabalhando em home office, esse servi�o tamb�m, praticamente, foi a zero. Mas os demais servi�os se mantiveram: banho, tosa, consulta, vacinas, exames, cirurgias.”
E completa: “agora, mais de um ano depois, � que est� come�ando a voltar a procura pelo hotel, por exemplo. Mas, ainda abaixo. Normalmente, no final do ano, a procura � muito boa. Temos muitos animais e esse �ltimo ano foi um volume bem baixo.”
O m�dico veterin�rio relembra que, ano passado, ainda no in�cio da pandemia, um fiscal da vigil�ncia sanit�ria foi at� o pet shop.
“N�o sei se ele j� viria mesmo ou se veio por causa da pandemia. Mas, ele passou v�rias altera��es. At� um cafezinho que coloc�vamos na recep��o ele pediu para tirar, por risco de contamina��o. Era comum as pessoas ficarem esperando o animal tomar banho, agora elas precisam deix�-lo e vir buscar depois ou o motorista levar.”
Dentro do consult�rio apenas uma pessoa pode acompanhar o animal durante o atendimento. “Mas, n�o foram mudan�as que impactaram na nossa rotina. Normalmente, a gente j� trabalha com consultas agendadas para dar um intervalo entre um cliente e outro.” J� a rotina de banhos ficou mais frequente. “Pessoas que �s vezes traziam o cachorro para tomar banho com intervalos de tempo maiores, como est�o ficando o dia inteiro em casa, passaram a trazer com mais frequ�ncia.”
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Jo�o Renato Faria