
Na cozinha apertada da casa onde mora, a professora Helcia Quint�o promoveu uma transforma��o durante a pandemia. Foi preciso organizar o espa�o depois que a ideia de fazer bolos para ajudar a popula��o carente de Govenador Valadares, no Leste de Minas Gerais, evoluiu para uma pequena f�brica.
Al�m da produ��o caseira, ela abriga no mesmo espa�o pacotes de arroz e feij�o doados pelos clientes da quitanda que passam por uma triagem at� chegarem �s fam�lias apoiadas por ela. No novo neg�cio, nada � vendido, mas trocado com base numa rede de solidariedade.
Al�m da produ��o caseira, ela abriga no mesmo espa�o pacotes de arroz e feij�o doados pelos clientes da quitanda que passam por uma triagem at� chegarem �s fam�lias apoiadas por ela. No novo neg�cio, nada � vendido, mas trocado com base numa rede de solidariedade.
A cada bolo entregue, alimentos chegam e os amigos da professora ajudam na separa��o dos pacotes e na distribui��o em bairros da periferia da cidade, uma das mais castigadas em Minas pela a��o do novo coronav�rus, que imp�s a Valadares �ndices altos de contamina��o, mortes e colapso em hospitais. A casa de Helcia e da m�e, L�cia Boechat Quint�o, de 79 anos, abriga um neg�cio criado h� quase um ano, mas sem fins lucrativos.
Da cozinha, j� sa�ram mais de 700 bolos e ela est� determinada a chegar � mil�sima unidade. At� o per�odo pr�-pandemia, iniciativas do chamado terceiro setor da economia, composto por institui��es, associa��es e organiza��es n�o governamentais sem objetivo de lucro vinha crescendo e, agora, algumas delas t�m trabalhado para conter os efeitos da doen�a respirat�ria no empobrecimento das fam�lias de menor renda.
Estudo da Funda��o Getulio Vargas mostrou que, neste ano, 27 milh�es de brasileiros, o equivalente a 12,8% da popula��o, enfrentam a mis�ria.
Estudo da Funda��o Getulio Vargas mostrou que, neste ano, 27 milh�es de brasileiros, o equivalente a 12,8% da popula��o, enfrentam a mis�ria.
Enquanto conta ao Estado de Minas como a iniciativa come�ou,a professora de escola particular Helcia Quint�o se lembra dos desafios para superar a pandemia. Al�m de se adaptar � rotina das medidas b�sicas para evitar o cont�gio pelo coronav�rus – higieniza��o das m�os, uso de m�scara, distanciamento social, entre outras medidas – ela resolveu se aproximar das pessoas por meio do afeto, da empatia.
Antes do in�cio do isolamento social, o costume era sagrado: chegar em casa, depois do trabalho na escola, e tomar o caf� da tarde com a m�e, L�cia. Depois da chegada do isolamento social, as idas e vindas � padaria se tornaram menos frequentes. Por que n�o fazer bolos para o caf�?
A ideia seria perfeita se ela soubesse fazer bolos. Surgiu, ent�o, outro desafio. Helcia decidiu aproveitar o tempo fora da escola, quando se licenciou do trabalho, para aprender a fazer algo novo: o “bendito” bolo. E ampliou a iniciativa, planejando trocar a quitanda por pe�as de agasalho ou produtos da cesta b�sica e do�-los a quem precisa.
Estar na cozinha, levando a massa ao forno, foi algo que mudou a vida da professora. Helcia Quint�o admite que em meio �s adversidades, foi a melhor decis�o tomada nos �ltimos anos. Nas primeiras trocas de bolo, ela aceitava tamb�m cobertores, porque os dias estavam frios em Governador Valadares.
Eles foram doados para a institui��o social Lar dos Velhinhos. Mas, como frio em Valadares costuma ser passageiro, logo o calor voltou e a professora passou a aceitar apenas alimentos nas trocas.
Eles foram doados para a institui��o social Lar dos Velhinhos. Mas, como frio em Valadares costuma ser passageiro, logo o calor voltou e a professora passou a aceitar apenas alimentos nas trocas.
Assim, dezenas de fam�lias de baixa renda foram beneficiados com os alimentos. “Eu me via numa zona de conforto, mas sabia que um tanto de gente n�o tinha o que comer nesse per�odo do isolamento social. Ent�o, eu me coloquei como intermedi�ria entre quem pode doar e quem necessita receber”, disse.
Cada bolo � trocado por 5 quilos de arroz e 2 kg de feij�o. Esses itens da cesta b�sica foram os escolhidos porque fazem parte da tradi��o do brasileiro. “Arroz com feij�o � o alimento b�sico das nossas fam�lias e s�o dois itens que tamb�m valorizam a troca”, explicou.
O bolo � entregue com um componente afetuoso: um cart�o que destaca mensagens em alto astral. “Nesses cart�es eu trabalhei temas como esperan�a, compaix�o, resili�ncia, semear e uni�o”, disse Helcia, mostrando o �ltimo cart�o artesanal a ser entregue com a mensagem: “Embora nada seja eterno, tudo de que cuidamos dura mais”.
Inspira��o
Os bolos e os cart�es s�o fotografados e as fotos postadas nas redes sociais da professora Helcia. Isso acaba motivando as trocas, mas nos �ltimos meses, motivou a��es semelhantes e que a deixaram muito feliz. Em Coroaci, cidade pr�xima de Valadares, a professora �rica Andrade, amiga de Helcia, tamb�m est� fazendo bolos e promovendo trocas.
As palavras dela emocionaram a amiga: “Helcia, voc� � pura inspira��o. Agrade�o a voc�, com sua ideia solid�ria e atitude generosa de trocar afeto e amor. J� estamos imitando voc� aqui em Coroaci”. Helcia Quint�o gostou a da replica��o de sua ideia. Segundo ela, a crise econ�mica se agravou com a pandemia, e se mais pessoas desenvolverem a��es como a que ele desenvolve, o afeto vai vencer a fome.
Postura proativa preserva a sa�de
Al�m dos problemas financeiros e da crise econ�mica, o pr�prio isolamento social, combinado � inseguran�a em rela��o �s medidas de combate � COVID-19 e o desenvolvimento da doen�a respirat�ria t�m provocado estresse, ansiedade e sintomas depressivos.
Para entender como esses componentes desencadeiam transtornos mentais, a professora Fernanda Oliveira Ferreira, do Departamento de Ci�ncias B�sicas da Vida (DCBV), do c�mpus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), investigou os impactos da pandemia na sa�de psicol�gica da popula��o.
Para entender como esses componentes desencadeiam transtornos mentais, a professora Fernanda Oliveira Ferreira, do Departamento de Ci�ncias B�sicas da Vida (DCBV), do c�mpus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), investigou os impactos da pandemia na sa�de psicol�gica da popula��o.
A investiga��o cient�fica fez sucesso e foi publicada no nono volume da revista oficial da Sociedade Europeia de Psicologia da Sa�de, a “Health Psychology and Behavioral Science”, publicada no Reino Unido. O estudo de Fernanda Ferreira foi desenvolvido em parceria com pesquisadores de outras tr�s institui��es, as universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e da Bahia (UFBA), al�m da Escola Baiana de Medicina e Sa�de P�blica.
Foram ouvidas 1.130 pessoas em 20 estados brasileiros, que responderam perguntas em um question�rio on-line. Os participantes responderam a testes validados de ansiedade, depress�o e estresse, e “Escala de Coping” (que verifica os pensamentos e a��es utilizados para enfrentar eventos adversos).
Os resultados apontaram que estrat�gias de fuga (evitar pensar na pandemia) e confronto (reagir agressivamente) aumentam as chances de apresentar estresse, depress�o e ansiedade. Al�m disso, a pesquisa identificou que uma reavalia��o positiva reduz a probabilidade de preju�zos a sa�de mental.
Os resultados apontaram que estrat�gias de fuga (evitar pensar na pandemia) e confronto (reagir agressivamente) aumentam as chances de apresentar estresse, depress�o e ansiedade. Al�m disso, a pesquisa identificou que uma reavalia��o positiva reduz a probabilidade de preju�zos a sa�de mental.
A estrat�gia da fuga, segundo a pesquisadora, foi utilizada por pessoas que tentaram ignorar a pandemia. "N�o quero pensar nisso, n�o quero falar sobre isso. Esse � o pensamento de nega��o da exist�ncia do problema, sabendo que o problema existe", explicou Fernanda Ferreira, destacando que essa atitude aumentou o n�vel de estresse.
O mesmo ocorreu com as pessoas que foram para o confronto. Antes da pandemia, essas pessoas j� apresentavam n�veis acentuados de estresse e agora passaram a reagir com mais agressividade nesse per�odo cr�tico. A pesquisadora afirma que o ideal seria que o pa�s contasse com pol�ticas p�blicas relevantes para oferecer suporte psicol�gico a essas pessoas.
O mesmo ocorreu com as pessoas que foram para o confronto. Antes da pandemia, essas pessoas j� apresentavam n�veis acentuados de estresse e agora passaram a reagir com mais agressividade nesse per�odo cr�tico. A pesquisadora afirma que o ideal seria que o pa�s contasse com pol�ticas p�blicas relevantes para oferecer suporte psicol�gico a essas pessoas.