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Estado de Minas Armadilhas

Pandemia abriu caminho para os golpes do cr�dito consignado

Minist�rio da Justi�a registrou, em 2020, n�mero de queixas 683% superior ao verificado em 2019 contra opera��es associadas a benef�cios e sal�rios


21/05/2021 04:00 - atualizado 21/05/2021 07:52

(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )

Custei a perceber que um 'sim' por telefone autorizara o dep�sito em conta

Elizabeth Lino, educadora

As reclama��es envolvendo a oferta de cr�dito consignado aumentaram 683% durante o ano passado, segundo a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica.

A impressionante evolu��o das queixas durante a pandemia superou com larga margem o segundo colocado nesse ranking , o setor de viagens, turismo e hospedagem, duramente afetado pela COVID-19, com aumento de 427%. Ao todo, a plataforma digital consumidor.gov.br recebeu 53%, em m�dia, mais contesta��es frente a 2019.
 
De um total de 88 mil registros sobre consignados, 71 mil se referem a assalariados, aposentados e pensionistas que fizeram empr�stimos com desconto em folha, e outros 17 mil s�o reclama��es feitas apenas por servidores p�blicos.

A Escola Nacional de Defesa do Consumidor computou, em 2020, crescimento de 42% das matr�culas em cursos gratuitos a dist�ncia com tem�tica sobre educa��o financeira, e instruindo as pessoas sobre como evitar o superendividamento.

Um dos fatores que ajudam a entender o crescimento das reclama��es � que a pandemia contribuiu para a expans�o de golpes pelas redes sociais. A criatividade n�o tem limite nas formas usadas para convencer ou “contratar o servi�o” sem que a v�tima perceba estar empenhando at� sete anos de parte de seu sal�rio. Em geral, o suposto “corretor” se apresenta como representante, consultor ou prestador de servi�o para uma institui��o financeira renomada, imprimindo respeitabilidade � conversa.
 
Marcelo Rodrigo Barbosa, gerente-geral do Procon Assembleia, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, revela que nos quase 900 Procons de todo o pa�s houve registro de aumento consider�vel das queixas sobre dep�sitos de valores n�o contratados pelos correntistas. “No isolamento social, as pessoas n�o v�o aos bancos, mas eles (os corretores) v�o at� as pessoas.”
 
Para maior seguran�a e evitar os golpes, a recomenda��o � n�o informar nenhum dado pessoal por telefone, Whatsapp ou e-mail. “Se a pessoa come�ar a conversa pedindo para confirmar o nome, desconfie e desligue de cara”, sugere Barbosa.
 
Ao responder com um simples “sim” a um pedido de confirma��o do nome completo, em liga��o recebida de n�mero desconhecido, a educadora Elizabeth Lino recebeu uma quantia inesperada em conta banc�ria. “Quando fui receber a aposentadoria, percebi um valor a mais e questionei o gerente”, conta. Ela foi, ent�o, informada de que se tratava de um empr�stimo consignado.
 
Passado o susto, ela teria de tomar alguns procedimentos, mas a� come�aram as dificuldades. “O gerente disse que precisaria rastrear a empresa, com a qual nem sequer me lembrava de ter conversado, e nunca encontrei o endere�o ou uma forma de contato”, diz Elizabeth.

“Um calv�rio” foi como classificou a educadora os in�meros telefonemas di�rios com ofertas de dinheiro que, segundo as liga��es, estaria “liberado pelo INSS”, ap�s sua aposentadoria. Em um �nico dia, ela registrou 17 chamadas. S� depois disso descobriu que poderia bloquear as ofertas no pr�prio site do INSS. “Foram tantas as liga��es que custei a perceber que um 'sim' por telefone autorizara o dep�sito em conta.”

Privacidade


A jornalista aposentada Cristina Magalh�es, de 62 anos, tamb�m se assustou ao verificar em sua conta banc�ria valor de R$ 12 mil adicionais ao benef�cio pago pelo INSS. “Foi em 5 de abril, quando imprimi o extrato e vi um dep�sito de um banco do qual jamais ouvi falar”, afirma. Ela conseguiu na internet o contato telef�nico da empresa e foi informada de que se tratava de empr�stimo consignado.
 
Como n�o havia contratado a opera��o, foi instru�da a encaminhar correspond�ncia � institui��o financeira, e aguardar e-mail com os dados e instru��es para devolu��o do dinheiro. Dois dias depois, nova surpresa. Mais R$ 11 mil foram depositados.
 
Cristina diz ter se sentido violada em sua privacidade. “Quem passou meus dados? Como conseguiram minha conta? Como depositaram sem nem sequer conversar comigo?”, questiona.

O banco informou que foram duas 'colaboradoras', uma de Goi�s e outra do Cear�, que 'fecharam o contrato'. Ela recorreu � Justi�a com pedido de ressarcimento por danos morais e materiais e prestou queixa ao Procon Federal. Para resolver o problema, pagou acr�scimos na conta de telefone e taxas de transfer�ncia banc�ria.
 
Teresa Cristina Souza, de 65, fala com indigna��o sobre dois dep�sitos feitos em sua conta do INSS. “� um marketing agressivo, invasivo, quebrando nossa privacidade. Foram duas ocasi�es, e o mais estressante s�o as in�meras tentativas para conseguir falar com um ser humano. Tudo � digital, de uma falsa intelig�ncia artificial.”
 
A aposentada conta que perdeu a conta das “horas a fio” perdidas ao telefone tentando resolver o problema. “Foram muitas tentativas, erros e insist�ncias. Um sofrimento desnecess�rio para me livrar de um dinheiro depositado indevidamente. O Banco Central tem diretrizes de cidadania e precisa fazer isso fazer valer junto �s institui��es financeiras”, protesta. Ela tamb�m pagou taxas de transfer�ncia banc�ria para devolver os dep�sitos.

Vazamento de dados come�a pelo telefone

Para completar o salário, Ivone Arvellos buscou empréstimos e não conseguiu prescindir do refinanciamento da dívida, que ficou alta(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )
Para completar o sal�rio, Ivone Arvellos buscou empr�stimos e n�o conseguiu prescindir do refinanciamento da d�vida, que ficou alta (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )

O gerente-geral do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, alerta que, no momento em que se debate a lei geral de prote��o de dados no Brasil, todo cuidado com golpes � pouco. “N�o se deve conversar ao telefone com quem n�o se conhece. O vazamento de dados come�a em uma simples conversa.” A primeira coisa, ao perceber dinheiro indevido na conta, � procurar a pol�cia.
 
De acordo com o Procon, empresas podem ser localizadas por meio do extrato, que deve ser fornecido pelo INSS informando os dados, ou junto ao banco. Uma vez constatado que nenhum documento foi assinado, deve ser feito o bloqueio.

Outra forma �  formalizar a informa��o no portal www.consumidor.gov.br, no qual o banco ou financeira est�o cadastrados  e tamb�m no Banco Central, solicitando a rescis�o da opera��o por produto n�o autorizado e a devolu��o dos valores. H� casos em que pessoas lesadas descobrem a irregularidade cinco meses depois da “opera��o” indevida.
 
Ivone Arvellos, de 58 anos, professora da rede municipal de ensino de Belo Horizonte, se diz “amargamente arrependida” dos empr�stimos que contraiu. “Mas n�o tem sa�da, o sal�rio � curto, e a� a gente apela. Em momento de necessidade da fam�lia � onde podemos lan�ar m�o, e quando chega o desconto, vem o arrependimento", afirma.  Embora tente pagar os empr�stimos em dia, ela acaba buscando o refinanciamento da d�vida.
 
O Banco Central informou que os clientes devem buscar a solu��o de eventuais problemas de cr�dito consignado n�o solicitado junto ao Servi�o de Atendimento ao Consumidor (SAC) e � Ouvidoria da institui��o financeira. "� poss�vel, tamb�m, registrar uma reclama��o contra a atua��o da institui��o financeira no Banco Central Reclama��o contra bancos e outras institui��es financeiras (site bcb.gov.br).
 
Em nota, a Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que orienta o cidad�o sempre a denunciar o fato em uma delegacia de pol�cia mais pr�xima para o devido registro da ocorr�ncia.  O procedimento pode ser feito pessoalmente ou de forma an�nima pelo Disque Den�ncia Unificado (181).
 
A Lei 10.820, de dezembro de 2003, permitiu os empr�stimos consignados com desconto em folha para servidores, aposentados e pensionistas em institui��es financeiras com juros bem abaixo dos praticados pelo mercado.

Luiz Legnani, diretor da Confedera��o Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Cobap), diz que apesar da boa iniciativa, proliferaram as institui��es financeiras que oferecem essa modalidade do cr�dito atr�s de altos rendimentos.

“Os bancos t�m um lucro medonho e o prazo para pagamento em quatro anos passou para seis e agora 7 anos. A margem de comprometimento de renda do cliente passou de 35% a 40%. Com a pandemia, isolamento social e desemprego, tornou-se o �nico recurso de muitas fam�lias”, reconhece Leganani.


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