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Estado de Minas JUVENTUDE NEM-NEM

Trabalho: pandemia de COVID-19 afeta mais jovens do que a recess�o em 2014

Efeitos da crise sanit�ria em Minas for�aram aumento da taxa de pessoas com 15 a 29 anos que n�o trabalham nem estudam, de 20,2% em 2019 a 23% em 2020


23/05/2021 04:00 - atualizado 23/05/2021 07:09


(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

"O mercado est� muito mais fechado "

Felipe Deslandes de Moraes, 19 anos


O aguardado retorno de Felipe Deslandes de Moraes, de 19 anos, ao mercado de trabalho, e, talvez, a um curso preparat�rio para o vestibular teria ocorrido neste ano, n�o fosse o agravamento da COVID-19 e um novo per�odo de restri��es no com�rcio em Belo Horizonte. A contrata��o dele estava encaminhada numa sorveteria da capital, quando a empresa recuou da decis�o, fechando a vaga.

Felipe n�o perdeu a garra nem poderia desistir da batalha interrompida pelos duros efeitos da crise sanit�ria. Em Minas Gerais, subiu a 23% a parcela dos jovens de 15 a 29 anos sem trabalho e fora da escola, –  chamada pelos economistas de juventude nem-nem, aquela que n�o trabalha e nem sequer estuda.

Esse grupo, j� impactado por um per�odo de muitos desafios na transi��o para a fase adulta, representava no estado 20,2% no fim de 2019, portanto, antes de a doen�a se instalar no pa�s. Nem mesmo na recess�o de 2014 a participa��o dos jovens nem-nem foi t�o grande, segundo estudo feito pelo Centro de Pol�ticas Sociais da FGV Social, bra�o da Funda��o Getulio Vargas (FGV Social).

No in�cio da turbul�ncia recente da economia brasileira, h� sete anos, esses jovens representavam 18,8% em Minas. Estimativa mais recente dispon�vel indica que em 2019 o grupo de nem-nem somava 813 mil jovens no estado, de um total de 4,613 milh�es, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Autor do estudo “Juventudes, educa��o e trabalho: Impactos da pandemia nos nem-nem”, o economista e diretor da FGV Social, Marcelo Neri, constatou que o conjunto dessa faixa et�ria tamb�m enfrenta o crescimento substancial do desemprego.

A taxa de desocupa��o entre os jovens de 15 a 29 anos em Minas, no seu conjunto, subiu de 45% no quarto trimestre de 2019 para 53% de outubro a dezembro do ano passado. Em BH, os percentuais passaram de 41% a 48% nesse per�odo.

� uma situa��o dram�tica perante a taxa m�dia de desemprego, estimada em 12,2% no estado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) no quarto trimestre de 2020. Marcelo Neri observa que esse grupo foi o que perdeu mais renda em compara��o com os idosos.

“Perdeu mais renda por causa do isolamento social. O problema dos nem-nem � que talvez voc� gere uma certa armadilha de pobreza no ciclo de vida do jovem. Cerca de 60% dos jovens que n�o t�m escolaridade s�o nem-nem. Est�o presos em uma armadilha.”

At� o �ltimo trimestre do ano passado, o principal perfil dos jovens nem-nem no pa�s era formado por pessoas sem instru��o (66,81%), nordestinos (32%), mulheres (31,29%), pretos (29,09%), moradores de periferia das maiores cidades (27,41%) e chefes de fam�lia (27,39%).

O estudo avaliou as mudan�as de cen�rio com a pandemia em todo o pa�s. Desde a recess�o de 2014, como observa o diretor da FGV Social, o maior problema dos jovens est� no desemprego, agravado pela retra��o da economia que a doen�a respirat�ria imp�s.

Dos cerca de 50 milh�es de jovens brasileiros com idade de 15 a 29 anos, ao redor de metade est� desempregada. Na m�dia do pa�s, a taxa dos nem-nem cresceu de 23,66% no �ltimo trimestre de 2019 para 29,33% no segundo trimestre do ano passado – recorde hist�rico, de acordo com o estudo – depois retrocedendo a 25,52% de outubro a dezembro de 2020.

Marcelo Neri ressalta que, a despeito do avan�o da taxa dos nem-nem e do desemprego, Minas e BH ainda est�o num n�vel um pouco melhor do que outros estados. A desocupa��o de jovens de 15 a 29 anos no estado est� na vig�sima posi��o entre as maiores taxas, e BH ficou no 26º lugar.

(foto: Fábio Costa/JCom/D.A Press)
(foto: F�bio Costa/JCom/D.A Press)

"O problema dos nem-nem � que talvez voc� gere uma certa armadilha de pobreza no ciclo de vida do jovem"

Marcelo Neri, economista e diretor da FGV Social


Experi�ncia 

Atr�s de vagas buscadas pela internet e por indica��o de conhecidos, Felipe Deslandes de Moraes diz que as oportunidades praticamente desapareceram. “O mercado est� muito mais fechado. Encontrei emprego em uma sorveteria e j� estava quase contratado, mas houve o �ltimo lockdown e eles desistiram de contratar por n�o saber como seria mais pra frente, se teriam verbas ”, conta.

Para ajudar no sustento, ele faz alguns bicos encomendados pela tia, enquanto distribui curr�culos. E mant�m o prop�sito de estudar para ingressar na universidade.

Defensor de pol�ticas capazes de estimular o acesso do jovem ao mercado de trabalho, independentemente das condi��es sociais, Marcelo Neri lembra que, em meio � incerteza, essa faixa et�ria lida com o drama da falta de experi�ncia.

“As empresas tentam segurar o m�ximo, quando poss�vel, a sua for�a de trabalho, e para os jovens as portas est�o fechadas. Muitos s�o demitidos, mas as empresas esperam a incerteza ser resolvida para contratar. N�o t�m experi�ncia porque n�o t�m oportunidade, e quando encontram emprego n�o conseguem ter experi�ncia. � preciso melhorar esse �ngulo de entrada do jovem no mercado de trabalho”, comenta o economista.

Para Estev�o Felipe da Fonseca, de 19, que terminou o ensino m�dio h� quase dois anos e precisa trabalhar para tentar ingresso na universidade, a educa��o tamb�m peca por n�o preparar o aluno para o mercado de trabalho.

 “A escola n�o te ensina a fazer um curr�culo, e quando voc� precisa fazer um curr�culo n�o vai ter nada nele porque voc� s� tem ensino m�dio. Para ter experi�ncia voc� tem que ter trabalhado em algum lugar, e para trabalhar voc� tem que ter experi�ncia. A� complica”, pontua.


Falta pol�tica p�blica de ensino e trabalho

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

"� uma grande destrui��o de recursos e riqueza de uma na��o ver o aumento dos nem-nem, al�m do aspecto humanit�rio"

M�rio Rodarte, professor de economia da UFMG


O indesej�vel crescimento do grupo dos jovens de 15 a 29 anos sem trabalho e fora da escola, al�m de suprimir deles as condi��o do bem-estar social, afeta o desempenho da economia, como alerta o economista e professor da UFMG M�rio Rodarte.

“Uma das quest�es envolvidas nesse fen�meno � que ele acaba determinando uma fase adulta menos produtiva economicamente. � uma grande destrui��o de recursos e riqueza de uma na��o ver o aumento dos nem-nem, al�m do aspecto humanit�rio que o problema envolve”, afirma.

A natural e almejada inser��o social dos jovens, segundo M�rio Rodarte, passa pelos estudos e o trabalho, que a sociedade valoriza. S�o dois fatores que abrem o caminho tanto para que as pessoas garantam seu acesso ao bem-estar social quanto participem da produ��o de bens e servi�os do pa�s.

“A nossa economia moderna � muito produtiva – voc� compara um pa�s com uma m�quina de produzir riquezas. Mal ou bem, o Brasil faz R$ 7 trilh�es de bens e servi�os todo ano. O problema � que para ter acesso a uma parte dessa riqueza � preciso ter v�nculos com essa sociedade e geralmente os v�nculos principais s�o a inser��o produtiva, a educa��o e o emprego”, afirma. Rodarte lembra que � percep��o do jovem como for�a de trabalho, uma economia precisa, ainda, encarar que a juventude d� condi��o �s pessoas mais velhas de se aposentarem.

O cen�rio mostrado pelo estudo da FGV Social, tanto em Minas quanto no Brasil, � prova suficiente de que a juventude nem-nem precisa ser melhor estudada e demanda pol�ticas p�blicas para atender esses jovens, defendem Rodarte e o autor do estudo, Marcelo Neri. Isso implica mudan�a na agenda pol�tica, na avalia��o do professor da UFMG, e um dos equ�vocos que ele v� � o tratamento da educa��o como custo, e n�o investimento.

Marcelo Neri afirma que � necess�ria uma pol�tica de inclus�o que chame mais a aten��o do jovem e que abra mais oportunidades dentro do mercado de trabalho. Se por um lado a pandemia prejudicou a situa��o dos nem-nem, por outro trouxe avan�o em determinadas �reas, o que projeta um cen�rio talvez um pouco melhor no futuro em rela��o �s pessoas que integram o grupo dos nem-nem atualmente.

“O Brasil atingiu recentemente a maior juventude da hist�ria, com 50 milh�es. Est� come�ando a refluir agora, mas � uma popula��o jovem grande. A tend�ncia � que os jovens tenham um papel melhor e mais visto na sociedade pela inclus�o digital. Isso � a cara deles. A pandemia acelerou essa digitaliza��o”, diz o diretor da FGV Social.

A taxa de pessoas na faixa de 15 a 19 anos que est�o no mercado de trabalho e em institui��es de ensino caiu continuamente nos �ltimos nove anos do Brasil, ao sair de 17,05% em 2012 para 11,02% em 2020.

Abandono 

Outro resultado do estudo sobre o efeito da pandemia na situa��o dos jovens nem-nem que requer aprofundamento � a evas�o escolar. Houve queda no n�mero de jovens em geral, que abandonaram os estudos durante a pandemia, de 62,4% no fim de 2019 para 57,95% no �ltimo trimestre do ano passado. Entre os jovens sem trabalho e fora da escola, a taxa diminuiu de 28,95% de outubro a dezembro de 2019 para 22,16% em id�nticos meses de 2020. A falta de oportunidades no mercado de trabalho � um dos principais prov�veis motivos.

“Essa queda da evas�o escolar pode at� ser pela retra��o trabalhista. O jovem n�o tem oportunidade, durante a pandemia n�o tem cobran�a de presen�a, aprova��o autom�tica. E por n�o ter op��o, ele continua na escola. � um dado importante porque o jovem est� de alguma forma institucionalizado e a gente poderia desenhar pol�ticas de acesso do jovem ao mercado”, afirma Marcelo Neri.

A hist�ria de J�ssica Lorraine Alc�ntara Rodrigues da Silva, de 20, serve de exemplo sobre a import�ncia das pol�ticas de est�mulo ao emprego dos jovens. Ela, que sonha com um emprego formal, trabalha como aprendiz. “Teve �poca em que n�o estudava nem trabalhava, fiquei perto de enlouquecer. Para todas as vagas que encontrava, sempre levava desvantagem por ter somente o ensino m�dio. Foi uma �poca bem dif�cil pra mim”, conta.

J�ssica reclama do n�vel alto de exig�ncias das empresas nas contrata��es, que prejudica o ingresso dos jovens, principalmente num tempo de poucas oportunidades e grandes filas de candidatos.  

*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Marta Vieira


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