
“Um aumento brutal nos custos pode provocar uma onda de im�veis fechados, tanto residenciais quanto comerciais, principalmente os alugados por pequenos e m�dios empres�rios do setor de servi�os, levando � dispensa de empregados e ao fechamento de neg�cios”, avalia Maria Eug�nia Cortez, especializada em direito imobili�rio e s�cia do Cortez Advogados.
Na avalia��o da advogada, a sa�da � a negocia��o entre as partes, levando em conta o momento de crise sanit�ria. “Isso � o que normalmente acontece. Poucas negocia��es chegam ao Judici�rio. E mesmo quando chegam, o juiz tende a levar em considera��o os pre�os de mercado e a capacidade de pagamento do locat�rio, a n�o ser nos casos em que os valores pagos est�o muito baixos. Uma coisa � o que est� no contrato, outra coisa � a vida real”, ressaltou Maria Eug�nia.
Marcus Ara�jo, presidente e fundador da Datastore, empresa especializada em pesquisas para o setor imobili�rio, assinala que os agentes desse mercado j� chegaram � conclus�o de que o IGP-M n�o ser� repassado. “Est� sendo aplicado o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumulou alta de 6,17% nos �ltimos 12 meses, ou corre��es levemente acima”, afirmou. “O bom senso tem que imperar. Perder um inquilino agora, em plena pandemia, pode significar, com raras exce��es, mais custos com condom�nio e outras taxas”, refor�ou.
A advogada Andrea Navarro, s�cia da Alario Navarro Solu��es por Acordo, destaca que as sa�das encontradas nas negocia��es entre inquilinos e propriet�rios v�o desde a isen��o completa de qualquer reajuste para este ano at� a troca por um �ndice com hist�rico de oscila��o mais seguro. Outro caminho, que tem sido mais comum nas redes varejistas, � a manuten��o do IGP-M com uma limita��o do percentual a ser aplicado — que pode ser, por exemplo, uma m�dia dos �ltimos anos”, apontou.
Moradora de Teresina, a estudante de fisioterapia Ana Karolline, 26 anos, relata que tem enfrentado dificuldade para bancar o aluguel da moradia e precisa da m�e, de 52 anos, para ajudar nas contas. Ela disse que negociou com o dono do im�vel um pre�o mais flex�vel. “O propriet�rio levou em considera��o a crise no pa�s e, nos seis primeiros meses do ano, prop�s um desconto de 30% para os inquilinos”, explicou.
N�fi Rossi, corretor de im�veis, 28, mora em Santa Maria (DF). Para ele, o valor atual do aluguel n�o est� justo. “O pre�o foi mantido durante a pandemia. O correto seria diminuir. O propriet�rio devia ver a situa��o do inquilino e saber se ele est� podendo pagar o aluguel integral ou n�o. E negociar com o morador”, disse.
Motivos
A alta do IGP-M tem sido impulsionada, principalmente, pelo aumento nos pre�os das commodities (mercadorias com cota��o internacional). “Em maio, o �ndice de Pre�os ao Produtor Amplo (IPA) avan�ou 5,23%, sob forte influ�ncia dos aumentos registrados para min�rio de ferro, cana-de-a��car e milho. Essas tr�s commodities responderam por 62,9% do resultado do IPA”, explicou o economista Andr� Braz, coordenador dos �ndices de pre�os da FGV. O IPA comp�e 60% do �ndice geral.
Na Bolsa, tudo azul
Apesar de o Brasil ainda mostrar um alto �ndice de mortes e casos de covid-19 e de se falar em uma terceira onda da pandemia por aqui, o principal �ndice da Bolsa de S�o Paulo, a B3, atingiu, ontem, a m�xima hist�rica no fechamento do preg�o, aos 125.561 pontos. O crescimento da demanda global por commodities ajudou no resultado, mas a leitura de analistas � de que a resili�ncia da economia brasileira em meio � crise do coronav�rus � a principal explica��o para o novo recorde. Os riscos � frente s�o conhecidos: a lentid�o da vacina��o e a alta da infla��o.
Em maio, o Ibovespa acumula alta de 5,61%, em desempenho melhor que o dos �ndices das bolsas de Nova York e de pa�ses emergentes como China e M�xico. Marcado pela discuss�o sobre a poss�vel eleva��o dos juros nos Estados Unidos, com o salto da infla��o americana, o m�s tamb�m registrou indicadores econ�micos melhores do que o esperado no Brasil. Isso elevou a expectativa para o PIB nacional em 2021.
“Continuamos vendo o boom das commodities e os ventos (positivos) internacionais soprando”, diz Jerson Zanlorenzi, respons�vel pela �rea de renda vari�vel e derivativos do BTG Pactual Digital. “O mercado voltou a criar esperan�as com a economia local.” E isso inclui o pr�prio BTG: agora, o banco espera que o PIB brasileiro cres�a 4,3% neste ano, ante 3,5% anteriormente.
Embora a previs�o seja ajudada pela base fraca de compara��o em 2020, quando a economia tombou 4,1%, analistas afirmam que uma revis�o positiva influencia as proje��es para os ganhos das empresas de capital aberto. Lucros maiores abrem mais espa�o para que os �ndices acion�rios subam — significam que os investidores v�o ganhar mais com a��es, seja com o aumento dos pre�os seja com pagamentos de dividendos.
“Na China, essa recupera��o aconteceu no ano passado, depois, vieram os Estados Unidos. N�s estamos no meio do caminho, e as estimativas cresceram bastante nas �ltimas duas ou tr�s semanas, o que segurou o Ibovespa”, diz Gilberto Nagai, chefe de renda vari�vel da BNP Paribas Asset Management.
Juros e endividamento em alta
Enquanto o desemprego no pa�s bate recorde, atingindo 14,8 milh�es de brasileiros em meio � pandemia, os juros cobrados nos empr�stimos pelas institui��es financeiras p�blicas e privadas voltaram a subir de forma generalizada, embalados pelo novo ciclo de alta da taxa b�sica da economia (Selic), iniciado em mar�o pelo Banco Central. Com isso, ajudam a elevar o endividamento das fam�lias para n�veis nunca antes vistos, enquanto a renda � corro�da pela infla��o que n�o d� tr�gua.
O custo do cheque especial para pessoa f�sica, por exemplo, aumentou de 122,3% para 124,5% ao ano, entre mar�o e abril, conforme dados do Banco Central divulgados ontem. J� os juros do rotativo do cart�o de cr�dito passaram de 334,6% para 335,3%, na mesma base de compara��o. Na m�dia, as taxas de juros cobradas das pessoas f�sicas, considerando todos os tipos de opera��o, encerraram abril em 44% ao ano, o maior n�vel desde junho de 2020. Foi o quarto m�s consecutivo de alta.
De acordo com o BC, o endividamento das fam�lias atingiu o patamar hist�rico, de 57,7% da massa salarial contabilizada em fevereiro. Esse percentual � o mais elevado desde o in�cio da s�rie hist�rica do BC, iniciada em janeiro de 2005, de acordo com o chefe do Departamento de Estat�sticas, Fernando Rocha. Ele destacou que o comprometimento de renda ficou em 30,7%, em fevereiro deste ano. “O n�vel mais alto da s�rie hist�rica foi 30,8% em novembro de 2020.”
Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade (Anefac), explicou que o endividamento das fam�lias decorre do desemprego recorde. “Esse ambiente faz com que as pessoas tenham menos renda dispon�vel, e, aliado � alta da Selic, o risco de cr�dito e os juros tendem a subir”, observou. Segundo ele, os bancos est�o preocupados, porque, daqui para frente, a inadimpl�ncia dever� aumentar e a tend�ncia ser� de juros mais altos e cr�dito mais escasso.
A taxa m�dia de inadimpl�ncia da pessoa f�sica est� est�vel em 2,9% h� cinco meses, segundo os dados do BC. Luis Ot�vio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, reconheceu, por�m, que o endividamento elevado � um risco a ser considerado daqui para frente em um cen�rio de desemprego recorde. “A inadimpl�ncia est� baixa, tanto para a pessoa f�sica quanto para a jur�dica, mas por conta das renegocia��es dos empr�stimos realizados durante a pandemia”, alertou.