
Uma publica��o da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto (FMRP), da Universidade de S�o Paulo (USP), em janeiro, mostrou ensaio cl�nico para avaliar a efic�cia do extrato de pr�polis em 124 participantes internados no Hospital S�o Rafael, de Salvador (BA). O resultado indicou que a pr�polis pode reduzir o tempo de interna��o.
Todos os pacientes fizeram tratamento-padr�o, sendo que 40 pessoas receberam 400mg/dia de pr�polis; 42 receberam 800mg/dia; e 42 n�o receberam pr�polis. “A administra��o oral da subst�ncia foi segura, pois n�o houve eventos negativos associados ao uso. Al�m disso, a diminui��o do tempo de interna��o ap�s a interven��o foi significativa. O grupo de controle, que n�o ingeriu pr�polis, ficou 12 dias hospitalizado ap�s o in�cio do tratamento. J� os grupos que receberam doses mais baixas e mais altas ficaram, respectivamente, 7 e 6 dias internados”, explica David de Jong, professor da FMRP/USP e um dos autores do estudo.
A pr�polis � um antibi�tico natural com a��o antibacteriana, antif�ngica, cicatrizante, antioxidante, anest�sica e imunoestimulante. � exportada para 31 pa�ses. Estima-se que Minas Gerais produza por volta de 120 toneladas/ano, sendo 85% pr�polis verde e 15% pr�polis de cor escura. A produ��o da pr�polis verde abrange 102 munic�pios, distribu�dos no Sul, Centro-Oeste e Leste do estado. As regi�es produtoras apresentam solo �cido e altos teores de ferro, caracter�sticos de locais com explora��o de min�rio.
Produ��o
A maior parte da produ��o vem de agricultores familiares. Dalysson Romualdo de Sena, de 49 anos, farmac�utico, � de um grupo de apicultores da regi�o de Nova Uni�o, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Come�ou a estudar as abelhas aos 19 e atribui "todas as conquistas", ao trabalho com os insetos. "Constru� minha casa, expandi meus neg�cios, me formei e constitui fam�lia."
Mesmo com foco no Mel Tio Z�, Dalysson tamb�m produz a pr�polis verde. Mas relata que existem apicultores que t�m o mel como subproduto, e a pr�polis � a meta principal. “Mais comum no Norte de Minas, o manejo para produ��o de pr�polis � diferente, e n�o � simples. � preciso escolher a rainha geneticamente.” Em seu api�rio, em torno de 30% do plantel � produtor da pr�polis verde. Ele produz 18 quilos/ano e seis toneladas de mel.
O produto � uma resina natural que a abelha usa para proteger as colmeias. Sua composi��o varia de acordo com a �rea geogr�fica. Os diferentes tipos de plantas das quais � recolhida. A verde � obtida nos locais onde a presen�a do alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia), mais conhecida como vassourinha, � abundante. A planta era considerada at� ent�o erva daninha.

Atividade gera emprego e renda em todo o estado
De acordo com a Federa��o Mineira de Apicultura (Femap), a atividade ap�cola est� presente em 580 munic�pios mineiros. Gera em torno de 45 mil empregos diretos e indiretos no estado. A pr�polis verde � exclusiva do Brasil, e � produzida pelas abelhas africanizadas brasileiras (n�o nativas).
At� o ano de 1985, a pr�polis n�o tinha valor comercial e era considerada problema para a apicultura. Os apicultores faziam a limpeza das colmeias e descartavam a resina, por dificultar o manejo. Atrav�s das descobertas cient�ficas, a partir de 1986 o valor da pr�polis verde de Minas Gerais passou a ser percebido pelo mercado, que se abriu para compras e vendas.
Em 1989, ocorreu a Apimondia, no Rio de Janeiro, maior evento internacional de apicultura. Nesse evento, empresas de v�rias partes do mundo conheceram a pr�polis verde de Minas Gerais e suas propriedades farmacol�gicas. Em especial, compradores do Jap�o e da China.
Na d�cada de 90, produzia-se em m�dia 200 gramas de pr�polis ao ano por colmeia. Hoje, produz-em 1kg/ano em m�dia, podendo chegar a at� 1,5kg. Com uma qualidade muito superior, explica Frederico Ozanan de Souza, assessor especial de apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento de Minas (Seapa).
De acordo com C�zar Ramos J�nior, presidente da Federa��o Mineira de Apicultura (Femap), “gra�as ao empenho de v�rios pesquisadores do Brasil e de v�rios especialistas, a pr�polis verde de Minas Gerais e a pr�polis vermelha, dos mangues do litoral do Nordeste do Brasil, est�o recebendo notoriedade internacional em fun��o de intenso trabalho em n�vel mundial, em que estamos estudando, pesquisando e discutindo seus padr�es qualitativos junto ao Sistema ISO internacional”.
A partir de 2007, o Sebrae Minas desenvolveu projetos com produtores e prefeituras do centro-oeste mineiro e norte de Minas. Danielle Fantini, analista de agroneg�cio do Sebrae, explica que o Sebrae apoiou o processo de reconhecimento da Indica��o Geogr�fica. As Indica��es Geogr�ficas se referem a produtos ou servi�os que tenham uma origem geogr�fica espec�fica. Seu registro reconhece reputa��o, qualidades e caracter�sticas que est�o vinculadas ao local.
No ambiente da pr�polis verde, o trabalho do Sebrae envolve parte t�cnica e gest�o do neg�cio. Com pesquisadores da Universidade de S�o Paulo (USP) desenvolveram f�rmulas para alimenta��o das abelhas quando faltar n�ctar e t�cnicas de manejo de api�rios, como troca de rainhas.
A apicultura � um setor onde as cadeias produtivas prim�ria, secund�ria e terci�ria ainda n�o est�o bem definidas, explica Ramos. “O volume de comercializa��o sem notas fiscais ainda � grande. A pr�polis n�o tem Nomenclatura Comum Mercosul (NCM) definida – nome dado para um c�digo utiliza do na designa��o de mercadorias que circulam nos pa�ses que fazem parte do Mercosul. Devido a essa condi��o, n�o temos dados estat�sticos precisos sobre o volume produzido e comercializado.”
Demanda
O apicultor Luiz Amorim, do Api�rios Amorim, no Distrito Federal, que atende ao mercado interno, principalmente de Minas, Bahia, DF e Goi�s, conta que houve um aumento de 200% na procura dos produtos da apicultura durante a pandemia. “Com esse despertar da popula��o, o foco, que era o mel, passou para a produ��o de pr�polis. S�o 55 quilos/ano por colmeia." Ele procurou produtores de Minas para atender ao aumento da demanda relativa � pr�polis. Amorim diz que a subst�ncia deve ser ingerida uma vez por dia, conforme o peso da pessoa – uma gota por quilo. “Para quem acha o sabor muito forte, pode dividir em duas vezes por dia, ou mesmo tomar com sucos”, recomenda.
Cezar J�nior conta que alguns pa�ses, como Estados Unidos, at� os anos de 1980, focavam as abelhas em poliniza��o e produ��o de mel. "As constantes interfer�ncias gen�ticas fizeram com que as abelhas se esquecessem como produzir a pr�polis, causando grandes doen�as e obrigando ao uso de medicamentos, como antibi�ticos, contaminando a cadeia produtiva. Ao contr�rio do Brasil, onde as abelhas europeias cruzaram com as africanas e se tornaram mais produtivas e extremamente resistentes a doen�as, a tal ponto que os apicultores n�o utilizam medicamentos para tratamento do inseto."
Mercado procura classifica��o
O interesse mercadol�gico do setor de apicultura em se inserir nas discuss�es da ISO sobre normas para avaliar a qualidade da pr�polis impulsionou a Associa��o Nacional de Normas T�cnicas (ABNT) a reativar a Comiss�o de Estudo Especial da Cadeia Ap�cola em 2020. Hoje, a comiss�o representa os interesses brasileiros nas discuss�es de normas internacionais ISO e, pela primeira vez, o pa�s tem papel de destaque em �mbito internacional, atuando como mediador das discuss�es de grupo t�cnico coordenado pela China. O papel ficou a cargo da presidente da Associa��o Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel), Andresa Berretta.

Segundo especialistas, os projetos de normas t�cnicas em andamento podem ajudar o �rg�o oficial de regulamenta��o e fiscaliza��o de produtos das abelhas a reduzir a defasagem em termos de indica��o de m�todos anal�ticos e par�metros. “Com este trabalho paralelo e aut�nomo na ABNT, � poss�vel caminhar de forma mais �gil e disponibilizar esta norma t�cnica, ap�s publicada, como uma base referencial para os RTQ da pr�polis. Promovendo, dessa maneira, uma atualiza��o que ser� bastante ben�fica internamente”, complementa Ricardo.