
O reajuste da bandeira vermelha patamar 2 em 52% vai afetar n�o apenas os consumidores residenciais. Ind�stria, com�rcio e servi�os tamb�m v�o sentir no caixa o impacto da energia el�trica mais cara.
O presidente do Conselho de Energia e vice-presidente da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), M�rcio Danilo Costa, lembra que o impacto no parque fabril mineiro varia conforme o processo produtivo, mas, em m�dia, a energia representa 20% do custo do setor. E mesmo as grandes ind�strias, que t�m contrato de longo prazo no mercado livre de energia e est�o fora do sistema de bandeiras, s�o afetadas.
Essas ind�strias “n�o s�o afetados com a bandeira tarif�ria, porque j� negociaram a compra da energia no mercado previamente, por�m, pagam os custos de despachos das termel�tricas mais caras, via Encargos dos Servi�os de Sistema. Esses encargos at� junho somam R$ 11 bilh�es”, afirma o empres�rio.
Ele alerta que o momento � de preocupa��o. “Os efeitos podem ser aumentos de custos dos produtos”, observa Costa. A preocupa��o do setor hoje n�o � tanto com o cen�rio atual, mas com as perspectivas futuras na capacidade do setor el�trico de atender � demanda.
Ele alerta que o momento � de preocupa��o. “Os efeitos podem ser aumentos de custos dos produtos”, observa Costa. A preocupa��o do setor hoje n�o � tanto com o cen�rio atual, mas com as perspectivas futuras na capacidade do setor el�trico de atender � demanda.
“Com os n�meros j� anunciados, n�o acreditamos que possa ser comprometido o crescimento neste ano com as medidas preventivas adotadas. Para o pr�ximo ano, o que podemos dizer neste momento � que dependemos do resultado do pr�ximo per�odo chuvoso”, observa o presidente do Conselho de Energia da Fiemg. Observando que os setores eletrointensivos ser�o mais afetados seja pela bandeira ou pelos encargos, M�rcio Danilo Costa diz que “todos ser�o afetados, pois o custo dos produtos aumenta e n�s pagamos conta de luz e tamb�m as compras de supermercados etc.”.
''Vamos ter que torcer para que o consumidor absorva o reajuste, sen�o a gente n�o vende nada e n�o posso segurar mais um aumento. Tudo tem limite''
C�zar Ferreira Machado, dono do Caixote Bar e Restaurante
NA MESA
O reajuste na bandeira vermelha 2 vai deixar a energia el�trica mais cara e quem sofre mais � um setor que foi diretamente impactado pelo afastamento social, medida necess�ria para conter a pandemia do novo coronav�rus: bares e restaurantes. Depois de meses fechados, esses estabelecimentos voltam, aos poucos, a reabrir com diversas restri��es. No momento em que mais precisam de ajuda, o aumento na conta de luz desanima comerciantes.Bares e restaurantes que j� estavam castigados com o fechamento do com�rcio e outros aumentos, como o g�s e a alimenta��o em geral, agora v�o ter que decidir se repassam o pre�o ao cliente. O conselheiro consultivo da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, conta que 40% do setor quebrou durante os per�odos de restri��o de mobilidade.
“O segmento est� saindo de uma pancada recebendo not�cia de aumento de bandeira vermelha, sabendo que vai ser ativada quase que de imediato. Isso pode representar mais empresas que n�o v�o dar conta de sair da pandemia. Bares e restaurantes t�m a energia el�trica como principal fonte de energia. � muito triste, muito ruim. A gente j� est� hoje com n�mero de empresas que est�o respirando no canudinho, e com esse aumento a gente estima que mais algumas empresas que n�o conseguiram se restabelecer v�o continuar nesse processo de decad�ncia”, afirmou.
A entidade recomenda que os empres�rios busquem por outras fontes de energia, mas, segundo Ricardo, a tentativa de redu��o gera investimento e o segmento n�o tem essa possibilidade atualmente. “O brasileiro tem um poder de reinven��o, uma garra de empreendedorismo e de se adequar que � muito bacana. Se n�o fosse isso, esse n�mero (de fechamentos de empresas) seria muito maior”, projeta. “Vai ter impacto e � complexo repassar porque temos tido aumento constante em outros patamares. Vamos tomar mais uma pancada e ter mais um pouco de bares e restaurantes fechando as portas”, lamenta Ricardo.
LIMITE
Repassar o aumento de custo para o pre�o ao consumidor � um risco que muitos comerciantes v�o ter que correr. No caso do Caixote Bar e Restaurante, localizado no Bairro Cruzeiro, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, a corre��o ser� ainda maior porque o estabelecimento utiliza 10 freezers. “Vamos ter que torcer para que o consumidor absorva o reajuste, sen�o a gente n�o vende nada e n�o posso segurar mais um aumento. Tudo tem limite”, reclama C�zar Ferreira Machado, dono do com�rcio. “A gente n�o pode desligar o freezer sen�o estraga a cerveja. Sem falar a chopeira el�trica, o ventilador, a luz.”
H� 10 anos no comando da empresa, C�zar conta que o com�rcio s� n�o fechou porque o formato de delivery segurou as pontas. Por outro lado, o dia a dia na cozinha j� tem sido dif�cil. Segundo o propriet�rio, antes da pandemia ele comprava o �leo a R$ 3 e hoje chega a pagar R$ 9. “A gente sempre repassa (ao cliente) minimizando da menor forma poss�vel, mas o sal�rio do cliente n�o subiu, aos poucos ele vai deixando de comparecer”. O empres�rio defende ajuda de custo para o segmento. “O certo era, no m�nimo, fazer um subs�dio para ser mais coerente.”
DESLIGANDO
H� 20 anos o Restaurante Regina faz comida e serve o p�blico na Rua Pouso Alegre, no Bairro Floresta, Regi�o Leste da capital. Por l� o discurso n�o � diferente: a pandemia levou a pior crise para o setor. “Voc� j� n�o d� conta de pagar a conta atual porque j� est� cara. Com esse reajuste a gente n�o vai dar conta mesmo. A retomada da economia est� muito devagar, � complicado demais, s� vem apertando mais e mais, n�o � atoa que est�o fechando as portas por a�”, comenta Tiago Henrique Pereira, administrador do restaurante da m�e, Regina de F�tima Pereira.Ele conta que precisou demitir os funcion�rios e hoje o neg�cio virou realmente “tempero de fam�lia”. Durante a pandemia, o maior problema para ele � que as empresas ao redor fecharam. Com isso, os clientes, que antes eram trabalhadores da regi�o, n�o voltaram. Se antes vendia mais de 100 pratos por dia, hoje tem dificuldade em comercializar 50. “A gente n�o tem como passar pro consumidor o aumento. A gente tira produto, coloca coisa barata, n�o sei… Agora vamos ter que desligar a energia. Como fazer?”, indaga.

Incentivo � mudan�a no hor�rio de consumo
Depois de elevar o valor da bandeira vermelha patamar 2 e iniciar o processo para um novo aumento, o governo deve agilizar a campanha educativa para incentivar o uso racional da �gua e energia e a ado��o de incentivos para que grandes consumidores de energia desloquem a produ��o para fora do hor�rio de pico da demanda. Para adotar a medida, governo e empres�rios criaram um grupo batizado de Unidos pela Energia, que re�ne 45 associa��es do setor. Uma das entidades que integram o grupo � a Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Uma das propostas, segundo o presidente do Conselho de Energia e vice-presidente Fiemg, M�rcio Danilo Costa, � voluntariamente deixar de consumir energia das 12h �s 18h, com a ind�stria podendo negociar essa energia que deixa de consumir ou sendo ressarcida por ela. “As empresas podem optar por uma manuten��o programada, ou por f�rias, por exemplo. A iniciativa pode ser vantajosa para o setor, que assim teria como compensar o aumento do custo pelo uso das t�rmicas, que t�m energia muito mais cara. “Estamos apoiando e agindo preventivamente com proposi��es no grupo.”
M�rcio Danilo Costa disse ainda que o setor de meio ambiente da Fiemg est� “preparando um estudo sobre a crise h�drica, mas, com certeza, como temos o uso m�ltiplo da �gua e h� um direcionamento para que a �gua fique mais represada para gera��o de energia, poder� haver interfer�ncia naquelas empresas que dependam deste insumo”. O represamento da �gua n�o vai afetar as outras atividades segundo afirmam o Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel).
O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, em pronunciamento na segunda-feira confirmou a ado��o de incentivos para o setor industrial. Ele falou que o minist�rio est�, junto com a ind�stria, desenvolvendo um projeto para incentivar o uso da energia el�trica fora dos hor�rios de pico, mas afirmou que o esfor�o requer a participa��o dos cidad�os. E apelou para que as pessoas usem a energia de forma consciente. “O uso consciente e respons�vel de �gua e energia reduzir� consideravelmente a press�o sobre o sistema el�trico, diminuindo tamb�m o custo da energia gerada”, afirmou.
Albuquerque frisou que o pa�s enfrenta uma das piores secas da hist�ria e que a crise que atinge as hidrel�tricas no Sudeste e Centro-Oeste � a maior em 91 anos. Ao comentar sobre a possibilidade do racionamento de energia, como ocorreu em 2001, ele argumentou que o sistema el�trico brasileiro evoluiu nos �ltimos anos e que a depend�ncia das hidrel�tricas – que era de 85% – passou a 61%. “Essas medidas s�o essenciais, mas, para aumentar nossa seguran�a energ�tica, � fundamental que, al�m dos setores do com�rcio, de servi�os e da ind�stria, a sociedade brasileira, todo cidad�o-consumidor, participe desse esfor�o, evitando desperd�cios no consumo de energia el�trica”.
Entre as a��es citadas pelo ministro, est� a Medida Provis�ria publicada na noite desta segunda-feira, em edi��o extra do Di�rio Oficial da Uni�o. O texto cria um grupo que poder� determinar mudan�as nas vaz�es de reservat�rios de hidrel�tricas e d� poderes excepcionais ao Minist�rio de Minas e Energia para determinar medidas relacionadas � crise. O texto publicado ontem sofreu diversas altera��es em rela��o � primeira proposta.
Ap�s repercuss�o negativa, o governo decidiu retirar o termo "racionaliza��o compuls�ria" da MP. Tamb�m n�o h� men��o a programa de racionamento (corte compuls�rio no consumo de energia) ou a racionaliza��o (incentivo � economia de energia). Segundo Albuquerque, a inten��o da MP � "fortalecer a governan�a do processo decis�rio". “Al�m de monitorar o setor el�trico 24 horas por dia, montamos uma estrutura de governan�a para coordenar, com rapidez e seguran�a, as a��es dos v�rios �rg�os envolvidos no enfrentamento do atual cen�rio de escassez hidroenerg�tica. Estamos trabalhando, tamb�m, em sintonia e permanente di�logo com entidades da sociedade civil organizada, com os estados e com institui��es dos tr�s poderes, para identificar as linhas de a��o que melhor atendam aos interesses do pa�s", disse o ministro na noite de segunda-feira.
Aumentos al�m da bandeira
Os consumidores de duas concession�rias de energia v�o ter aumento maior do que o da bandeira vermelha. A Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel) aprovou ontem, um reajuste m�dio de 9,44% nas tarifas da Enel Distribui��o S�o Paulo. Para os consumidores residenciais, o impacto ser� de 11,38%. Os novos porcentuais j� valer�o a partir do pr�ximo domingo. A Enel SP, antiga Eletropaulo, � a segunda maior distribuidora do pa�s, respondendo por 10,3% de toda a energia distribu�da no Brasil. A empresa atende 7,4 milh�es de consumidores em 24 munic�pios da Regi�o Metropolitana de S�o Paulo, incluindo a capital paulista.
A Aneel aprovou, tamb�m ontem, um reajuste m�dio de 4,04% nas tarifas da Energisa Tocantins, que atende cerca de 624 mil unidades consumidoras. Para os consumidores atendidos em alta-tens�o, como as ind�strias, o efeito m�dio ser� de 5,10%. J� para os de baixa tens�o, que inclui os residenciais, o aumento ser� de 3,81%. Os reajustes passam a valer em 4 de julho. Algumas medidas amenizaram o reajuste. Entre elas a revers�o de recursos da Conta-Covid, a posterga��o do pagamento de indeniza��es � transmissoras e o uso de cr�ditos de PIS/Cofins cobrados indevidamente nos �ltimos anos.

Angra 3 de volta
A Eletrobras comunicou que sua subsidi�ria Eletronuclear realizou uma sess�o p�blica para a abertura das propostas da licita��o para os servi�os de obras civis e de parte da montagem eletromec�nica previstas no Plano de Acelera��o do Caminho Cr�tico da Usina nuclear de Angra 3. Segundo fato relevante da companhia, a contrata��o tem objetivo de adiantar algumas atividades de constru��o de Angra 3 antes da Eletronuclear contratar o epcista (EPC: Engineering, Procurement, Construction) que vai empreender a obra global da usina. O nome do primeiro colocado ainda n�o foi divulgado porque o proponente dever� apresentar os documentos de habilita��o para serem verificados. Ap�s o t�rmino da an�lise, ser� agendada nova sess�o para informar o resultado aos licitantes e abrir prazo para recursos.