Caf� dribla a crise, mas desafios do clima persistem em 2021

A produ��o recorde e o aumento das exporta��es do caf� de Minas Gerais, – estado que det�m a maior oferta do gr�o no pa�s –, em plena pandemia de COVID-19 nem parecem ter enfrentado o turbilh�o imposto � economia.

As lavouras sofreram o impacto inicial do inesperado isolamento social necess�rio para combater a doen�a que implicou redu��o ou paralisa��o de v�rias atividades, mas se adaptaram ao novo normal nas planta��es e colhem resultados. A crise sanit�ria n�o foi capaz de mudar um h�bito do brasileiro: a predile��o pelo cafezinho. 

Com isso, a produ��o cafeeira, atividade tradicional, se manteve em ritmo de crescimento. Neste ano, surgiram novos desafios, diante da seca e das geadas, num per�odo em que a produ��o cair� devido ao ciclo natural dos cafezais. 

Esse � o tema da terceira reportagem da s�rie “Reiven��o das nossas tradi��es”, que o Estado de Minas publica desde domingo, mostrando como atividades centen�rias e tradicionais do estado, identificadas com a pr�pria cultura do estado est�o enfrentando os efeitos da pandemia.

Minas ofertou, em 2020, 34,6 milh�es de sacas de caf�, de acordo com a Federa��o da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), e foi respons�vel por 56,15% da produ��o brasileira, de 61,62 milh�es de sacas, 25% a mais que a temporada de 2019, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O avan�o dos caf�s especiais feitos em Minas e a conquista de mais tr�s indica��es geogr�ficas em caf� – agora s�o cinco selos – das regi�es Mantiquera de Minas, Campos das Vertentes e Matas de Minas confirmam o bom momento do setor.

A produ��o mineira de caf�, concentrada na variedade ar�bica, se distribui por quatro macrorregi�es: Sul (Sul, Sudoeste, Oeste e Campos das Vertentes); Cerrado (Tri�ngulo,  Alto Parana�ba e Noroeste); Montanhas de Minas (Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Central e Metropolitana de Belo Horizonte) e Chapada de Minas (Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte). O Sul de Minas costuma responde por cerca de metade da oferta.

“Durante a pandemia, em 2020, houve receio inicial no momento da colheita, devido � restri��o de munic�pios ao tr�nsito de pessoas, principalmente em regi�es montanhosas onde h� uma necessidade maior de m�o-de-obra. Mas, conseguimos passar de maneira exitosa por isso. Tivemos safra recorde, com grandes volumes exportados e consumidos”, afirma Ana Carolina Gomes, analista de agroneg�cios do Sistema Faemg.

 

Ela salienta que o consumo de caf� durante o isolamento social da pandemia foi   algo surpreendente. “Os consumidores ampliaram o consumo no lar  e no trabalho em sistema de home office, propulsores dessa amplia��o. Os obst�culos impostos pela pandemia foram superados pelos cafeicultores, que 'se adaptaram �s medidas preventivas e de seguran�a no campo, principalmente na colheita'”, destaca Carolina Gomes. H� estimativas de que o cultivo � desenvolvido em 123 mil estabelecimentos agropecu�rios no estado.

Respons�veis por mais de 43% das exporta��es do agroneg�cio de Minas, as vendas externas do gr�o alcan�aram 28,4 milh�es de sacas no ano passado, 4,6% a mais que em 2019. “Em receita, as cifras foram ainda mais positivas, devido ao c�mbio favor�vel e � eleva��o dos pre�os do caf� em virtude das amea�as de menor oferta, sendo superior em 8,4% se comparado ao ano de 2019”, explica a representante da Faemg.

O investimento em tecnologia foi uma das medidas adotadas pelo cafeicultor Carlos Humberto de Morais em Rio Pardo de Minas, no Norte do estado. Ele mant�m 350 hectares de caf� irrigado em sua propriedade, a Fazenda Ap�stolo Sim�o Coffee. Segundo o produtor, ap�s o per�odo de fechamento de cafeterias no Brasil e no mundo, como medida de preven��o contra o coronav�rus, o consumo se regularizou e encontra-se em expans�o. “As comodities encontram-se com pre�os em ascens�o devido a valoriza��o atual do d�lar”, observa.

Em 2020, a fazenda colheu 23,7 mil sacas de caf�. O produtor diz que, a crise sanit�ria foi superada pela empresa com �nfase em tr�s aspectos: “sa�de e seguran�a do trabalhador, emprego de alta tecnologia e respeito aos protocolos para preven��o do coronav�rus”. Carlos Humberto conta com 50 funcion�rios registrados. Na �poca de safra como agora (junho a setembro), gera 150 empregos.

Produtor de caf� no Alto Rio Pardo, Denerval Germano da Cruz, prefeito de Taiobeiras, diz que as lavouras da microrregi�o j� alcan�am o total de 5 mil hectares de caf� irrigados , com produ��o estimada em torno de 200 a 250 mil sacas por ano. O Alto Rio Pardo, como todo Norte de Minas, tem sol forte e  longas estiagens, diferentemente de �reas do Sul do estado, tradicionais produtoras do gr�o.

 

 

Denerval Cruz explica que o segredo dos resultados da cafeicultura no Alto Rio Pardo � fazer o plantio irrigado e que a regi�o tamb�m tem  vantagens: altitude acima de 800 metros e alta amplitude t�rmica e luminosidade.  “O caf� se adapta muito em regi�es acima de 800 metros de altitude. A amplitude t�rmica (calor durante o dia e frio � noite) favorece o crescimento da planta e a boa produtividade, gerando mais a��cares e outros elementos. A luminosidade impede o ataque de fungos, assegurando a boa qualidade ao fruto depois de colhido”, relata.

O avan�o das lavouras de caf� provocam uma mudan�a no Alto Rio Pardo. Antigamente, era comum a sa�da tempor�ria de pessoas da regi�o para trabalharem nas colheitas de caf� no Sul de Minas e no Alto Parana�ba. “Agora, muitos moradores est�o colhendo aqui na regi�o mesmo, sem precisar afastar de suas fam�lias”, destaca Denerval.

O ciclo dos cafezais enfrentou dificuldades durante a colheita no ano passado, de maio a setembro, per�odo de avan�o da contamina��o pelo coronav�rus, mas n�o houve comprometimento da produ��o. Uma das medidas adotadas pelos cafeicultores foi o uso da mecaniza��o, para evitar atraso e preju�zo. “Houve redu��o de oferta de m�o de obra por causa do receio das pessoas quanto � contamina��o pelo v�rus, mas adotamos os protocolos de seguran�a e distanciamento”, diz.

Cerca de 80% das exporta��es mineiras � composta de caf� verde, que chega a mais de 80 pa�ses. No outro lado dessa moeda, enfrentando ou n�o crise sanit�ria, a oferta de caf� especiais � crescente no estado. H� estimativas de que ela cresce 15% ao ano, estimulada por premia��o nacionais e internacionais, embora ainda representa parcela ao redor dos mesmos 15% da safra do ano passado.

Durante a pandemia, o surpreendente aumento do consumo em casa contrabalancou a redu��o da demanda no chamado food service, o segmento abrangido pelos estabelecimentos comerciais que incluem cafeterias e padarias, como observa Rog�rio Schiavo, diretor executivo do grupo Monsanto Tavares, gigante do setor cafeeiro, que re�ne as empresas Atlantica Coffee, Cafebras e Ally Coffee.

Outro fator que explica o bom desempenho da cultura � a manuten��o da demanda global pelo caf� mineiro e brasileiro e a eleva��o de pre�os no mercado internacional.

 

“Atuamos h� 20 anos nos mercados nacional e internacional de caf�, na produ��o, exporta��o, importa��o e armazenagem do gr�o e percebemos que houve essa mudan�a no perfil de consumo com a pandemia”, afirma Schiavo. Com escrit�rio central em Belo Horizonte, o grupo atua no com�rcio internacional por meio de estrutura pr�pria na Am�rica do Norte, Am�rica Central, Am�rica Latina, Europa, �sia e �frica.

 

Nos �ltimos 12 meses, a despeito da pandemia, a empresa ampliou o plantio de caf� em 800 hectares de novas �reas nos munic�pios de Pirapora, no Norte de Minas, e Barreiras, na Bahia. De acordo com Schiavo, a meta do grupo � alcan�ar 10 mil hectares de cafezais dentro dos pr�ximos oito anos.

 

O conglomerado mant�m 600 empregos diretos, em fazendas nos munic�pios mineiros de Angel�ndia e Capelinha, no Vale do Jequitinhonha; e Pirapora (Norte de Minas), al�m de Barreiras (BA). A companhia conta com armaz�ns em Varginha (Sul do estado), Patroc�nio (Alto Parana�ba) e em Manhua�u e Capara� (Zona da Mata). No ano passado, o grupo Montesanto Tavares obteve faturamento de R$ 2,2 bilh�es em 2020 e comercializou no ano 3,2 milh�es de sacas no Brasil e no exterior.