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Estado de Minas PREJU�ZO PRAS LAVOURAS

A combina��o de seca e geadas no Brasil que afeta pre�o do caf� e a��car

Extrema seca desde o ano passado e geadas no centro-sul do Brasil neste inverno fizeram fazendeiros perderem parte das lavouras de cana-de-a��car e caf�; consumidor sentir� no bolso.


17/08/2021 08:24 - atualizado 17/08/2021 09:49


Seca e geadas afetaram lavouras de café e cana-de-açúcar no Brasil, diminuindo a oferta desses produtos e aumentando seus preços(foto: Getty Images)
Seca e geadas afetaram lavouras de caf� e cana-de-a��car no Brasil, diminuindo a oferta desses produtos e aumentando seus pre�os (foto: Getty Images)

Em noites muito frias, quando a temperatura do ar chega a zero, uma fina camada branca de orvalho congelado recobre a relva. Geadas assim, como as vistas no Brasil recentemente, podem decidir o destino de plantas.

Para fazendeiros, n�o � um progn�stico bom.

"Foi dif�cil ir l� nos dias seguintes acompanhar o que estava acontecendo, ver como a geada havia atingido nossos canaviais", diz a produtora rural Christina Pacheco, presidente da Associa��o de Fornecedores de Capivari, S�o Paulo, onde ela � propriet�ria de uma fazenda de cana-de-a��car de 320 hectares.

Isso porque o gelo pode congelar e matar a planta por dentro. E n�o afeta s� a safra atual; a seguinte tamb�m pode ficar comprometida.

Foram tr�s ondas de geadas neste inverno brasileiro logo ap�s um longo e extremo per�odo de seca. P�ssima not�cia para os plantadores de cana-de-a��car e de caf�. P�ssima not�cia para o bolso dos consumidores tamb�m.

"A gente nunca tinha visto geada assim nos �ltimos 40 anos de hist�ria de cana nessa propriedade", diz Pacheco. "Com as geadas, as plantas foram para a estaca zero."

Per�odos quentes e secos e eventos extremos, como este frio, fazem parte de previs�es cient�ficas do clima como consequ�ncia do aquecimento do planeta por a��o humana, como se viu no relat�rio divulgado na semana passada pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU).

A extrema seca desde o ano passado na Bacia do Paran� - nos Estados do Paran�, S�o Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goi�s - j� havia afetado as planta��es.


%u2018Nunca vi três geadas em um mês%u2019, diz Cesar Uemura; na imagem, a geada na cana-de-açúcar(foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulgação)
%u2018Nunca vi tr�s geadas em um m�s%u2019, diz Cesar Uemura; na imagem, a geada na cana-de-a��car (foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulga��o)

Depois, em um espa�o de 30 dias em junho e julho, tr�s ondas diferentes de geadas arremataram o que j� era uma uma conjectura ruim. Planta��es de cana-de-a��car e de caf� no centro-sul do Brasil foram afetadas.

A menor oferta significa que o pre�o dos produtos sobe - e a diferen�a ser� t�o grande que dificilmente n�o ser� repassada para os consumidores.

Para alguns produtores, o pre�o alto acabar� compensando as perdas. Pequenos produtores que dependem s� da planta��o e produtores que mais tiveram planta��es afetadas, contudo, ter�o perdas significativas.

Safras de cana-de-a��car

A cana cresce com temperatura, umidade e calor, explica Denis Arroyo Alves, diretor executivo da Orplana (Organiza��o de Associa��es de Produtores de Cana do Brasil).

"Quando voc� tem temperaturas baixas, o crescimento � interrompido", explica ele.

"A alternativa das empresas � colher essa cana o mais r�pido poss�vel independentemente se estava no est�gio ou n�o de colheita", diz o diretor t�cnico da Unica (Uni�o da Ind�stria de Cana-de-A��car), Antonio de Padua Rodrigues.

Isso significa que a cana estar� menor, com menos quantidade de a��car, algo pior para o produtor - as usinas fazem pagamento de acordo com a quantidade de a��car que conseguem transformar da cana.

Depois de cortar a cana, com a umidade que ainda existe no solo, ela rebrota. A geada tamb�m atingiu �reas que haviam sido rec�m-colhidas. Significa que produtores v�o precisar esperar para ver se elas v�o voltar a crescer.

� como se a cana come�asse do zero, perdendo meses de crescimento e afetando at� a safra seguinte.

"Eu considero como se fosse um corte. Em um m�s, cortou tr�s vezes", diz Cesar Mikishi Uemura, de 57 anos, propriet�rio de uma fazenda de cana-de-a��car de 500 hectares em Gua�ra, interior de S�o Paulo.

Como Pacheco e outros fazendeiros, ele repete que nunca havia passado por situa��o semelhante. "Estou h� mais de 30 anos na lavoura. A gente fica com medo porque nunca viu tr�s geadas em um ano. Se n�o brotar, como vai ser?"


Canas recém-brotadas, pós-colheita, foram afetadas pela geada também(foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulgação)
Canas rec�m-brotadas, p�s-colheita, foram afetadas pela geada tamb�m (foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulga��o)

A planta��o fica como se algu�m tivesse "tacado um fogo l�", descreve Uemura. De fato, as fotos de sua fazenda mostram uma planta��o que aparenta queimada, com o verde escurecido, seco, tostado.

O engenheiro agr�nomo Fernando Paiva Oliveira, de 60 anos, propriet�rio de uma fazenda de cana-de-a��car em Barretos, interior de S�o Paulo, tamb�m repete: "Sou engenheira agr�nomo h� 38 anos. Nunca vi o efeito das geadas como esse ano. � de espantar. Nessa magnitude, nunca havia acontecido"

A conta, diz ele, n�o vai fechar. Ele j� planeja injetar mais recursos na fazenda para compensar as perdas.

Segundo o meteorologista da Climatempo Celso Oliveira, tr�s ondas de frio n�o � algo que acontece geralmente, embora elas n�o tenham batido as mais geladas da hist�ria.

Mas a queda de temperatura n�o havia sido prevista nas simula��es de clima de longo prazo. "O frio come�ou a aparecer mais claramente nas previs�es com 15, 10 dias de anteced�ncia", diz.

Agora, diz ele, ainda h� potencial para geadas, mas s� para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "A chance de geada danosa para as culturas de caf� e cana � menor. Estamos entrando em um per�odo em que os dias est�o ficando mais longos. Teria de haver uma onda de frio descomunal para derrubar a temperatura para um ponto de geada."

Pre�o do a��car

Os contratos negociados nas bolsas de Nova York e Londres servem de refer�ncia para a precifica��o do a��car no mundo inteiro.

� medida que as situa��es ruins foram acontecendo, o mercado foi precificando o a��car, diz Plinio Nastari, presidente da consultoria agr�cola Datagro. "Estava seco, ia ter menos oferta. Continuou seco, menos oferta ainda. Veio a geada, menos ainda."


Gelo sobre a planta exposta ao sol acaba queimando suas folhas(foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulgação)
Gelo sobre a planta exposta ao sol acaba queimando suas folhas (foto: Cesar Mikishi Uemura/Divulga��o)

Os pre�os, segundo ele, est�o muito elevados. "O pre�o do a��car que normalmente � R$ 60, R$ 70 a saca, nesse momento est� R$ 115. E o pre�o do etanol, que normalmente � de R$ 2,15 por litro ao produtor, est� negociado a R$ 3,10."

E isso em um ano de maior demanda de combust�vel por causa da recupera��o de consumo e mobilidade.

At� chegar ao consumidor, a saca de a��car de 60 kg que sai da usina passa por uma cadeia com v�rios custos diferentes.

Para Padua, da Unica, a quebra de safra no Brasil fez com que os pre�os subissem, o que, aliado ao real desvalorizado, de fato trar� um impacto para o consumidor.

Segundo ele, o Brasil vai passar de 605 milh�es de toneladas de cana produzidas na safra passada para 530 milh�es de toneladas nesta safra. O pa�s � o maior exportador de a��car do mundo, seguido da �ndia e da Tail�ndia. Em rela��o ao etanol, fica atr�s apenas dos Estados Unidos.

Oliveira, o engenheiro agr�nomo dono da fazenda em Barretos, diz que "vai bater na popula��o, queira ou n�o queira".

Caf�

Com o caf�, a situa��o tampouco foi boa. O caf� � colhido em meados do ano. Pouco depois da colheita, quando come�am as chuvas no ver�o, surgem as primeiras flores, que depois v�o virar os frutos.

As lavouras que foram muito atingidas perderam todas as folhas. Sem elas, n�o podem fazer fotoss�ntese e crescer. Isso quando a geada n�o matou a planta completamente.

De qualquer forma, s� na �poca das chuvas, a partir de setembro, � que os produtores poder�o ver como as plantas v�o reagir e mensurar o tamanho do estrago.

"O clima seco tamb�m j� traria algum tipo de reflexo para a pr�xima colheita. Se j� n�o bastasse o clima seco, vem a geada e atinge regi�es importantes", diz Renato Garcia Ribeiro, pesquisador da �rea de caf� do Cepea (Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

"As lavouras est�o produzindo menos. Ent�o o mercado j� prev� menor oferta de caf� e reflete isso."

O pre�o do caf� tamb�m � regulado pela Bolsa de Nova York. Segundo o indicador de pre�os de caf� Ar�bica do Cepea/Esalq, houve um crescimento de quase 70% no pre�o da saca de caf� de 60kg do ano passado para agosto deste ano, sem considerar a infla��o.

"Pode ser que a ind�stria absorva a margem do aumento de valor do insumo, mas n�o vai absorver tudo. Vai repassar", diz Ribeiro.

Segundo a Associa��o Brasileira da Ind�stria de Caf� (Abic), a quebra de safra, o c�mbio em alta, o aumento no custo dos insumos e as quest�es clim�ticas devem provocar um aumento de 35% a 40% no pre�o do produto nas prateleiras at� o final de setembro - o maior registrado h� 25 anos no pa�s.

O Brasil � segundo maior consumidor de caf� no mundo e o principal exportador. Vietn� e Col�mbia v�m atr�s.

Mas com a seca e geadas no Brasil, protestos pol�ticos na Col�mbia que atrasaram exporta��es, al�m do transporte mais caro de commodities, com fluxo de navios e cont�ineres mais dif�cil por causa da pandemia de covid-19, os pre�os do caf� devem ficar l� em cima tamb�m para outros mercados consumidores do mundo.

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